Os cerca de 80 empregados da empresa de fiação Fiper, do Teixoso, chegaram na passada semana de férias. Depararam-se com a fábrica fechada, entregue a um gestor judicial e viram-se dispensados de se apresentar ao serviço, por falta de encomendas. A administração renunciou ao cargo e apresentou um pedido de insolvência no Tribunal da Covilhã.
“Ninguém nos disse nada. Fecharam a porta e pronto, para nossa surpresa. Chegámos e ficámos de boca aberta”, lamenta Maria do Carmo Lourenço, no dia em que constatou a incerteza do seu futuro. Com 49 anos e há 36 a trabalhar na empresa, desde que abriu, conta que desde há três anos a unidade fabril se arrasta com pouco trabalho, mas diz que os empregados sempre tiveram esperança em dias melhores. E não esperava este desfecho, até porque sublinha que nunca ninguém falou com os trabalhadores. “O que mais custa é depois de tantos anos aqui não darem a cara, não terem uma palavra de conforto para os empregados e explicarem-nos o que estava para acontecer”, diz Maria do Carmo. Uma opinião partilhada por Fernando Santos, também de 49 anos e com 20 anos de serviço na Fiper, onde a lã entra e sai em forma de fio para fazer tecidos.
“Havia três turnos. Há um ano acabou o terceiro e desde Junho já só funcionava com um, das nove às cinco. Saiu muita gente em acordo com a empresa, mas afinal isto não melhorou”, comenta Fernando. Para já ainda têm vínculo à empresa, apenas estão dispensados de se apresentar nas instalações. Na próxima segunda-feira, 12, reúnem em plenário, onde, na presença de elementos do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, está previsto que o administrador judicial nomeado pelo tribunal esclareça os trabalhadores, nomeadamente quanto ao pagamento do salário de Setembro.
Lutar pela recuperação
O receio de poderem vir a engrossar as listas de desempregados está sempre presente e é mesmo aquilo que temem. É o caso de Fernando Santos, que sabe pelo exemplo da esposa, antiga funcionária da Nova Penteação, que não é fácil conseguir trabalho. “Ela está há dois anos no Fundo de Desemprego e não a chamam para nada. Tenho um filho a estudar e se eu fico na mesma situação é complicado. Quando terminarem os subsídios como é que uma pessoa se governa?”, questiona.
Os funcionários da Fiper foram para férias com o ordenado e o subsídio de férias pagos. Porém, Luís Garra, presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, observa que se não houver um fundo de maneio e facturas por receber, uma vez que a fábrica não está a laborar, vai-se chegar a uma situação em que não haverá dinheiro para pagar os salários. A reunião de credores está marcada para 24 de Outubro e o sindicalista sublinha que durante o processo de insolvência uma das possibilidades é a recuperação da empresa. “Deve-se esgotar essa hipótese, tem de se fazer um esforço para ser possível, porque o futuro é daqueles que são utópicos, dos que lutam”, acentua. Esse é também o sentimento de quem ali passou muitos anos da sua vida. “O que queríamos era que isto continuasse a funcionar, que algum empresário apostasse na fábrica”, diz Maria do Carmo, com Fernando ao lado a assentir com a cabeça. Um cenário em que não estão muito confiantes, até porque “muitos dos clientes que compravam o fio, sobretudo do Norte, foram para outros países”. “Acredito mais que abra noutro sector que no têxtil, que está de rastos”, vaticina Maria do Carmo. |