Aumento de combustíveis
Preço do gasóleo
faz jovem desistir dos camiões


Tem 27 anos e criou, com o pai, uma empresa de transportes internacionais. Tinham dois camiões, mas este ano vendeu um deles e desistiu da profissão. A razão: o constante aumento do preço do gasóleo.

João Alves
NC / Urbi et Orbi

Os preços do gasóleo, cada vez mais elevados, levaram a que a empresa fechasse

Filipe Fonseca, 27 anos, reside em Belmonte e é motorista numa empresa de construção civil. Porém, fazer transportes internacionais, num camião, tal qual o seu pai, sempre foi o seu sonho. Conseguiu realizá-lo, durante seis anos, mas desistiu. Causa: o preço do gasóleo.
Este jovem, que também é bombeiro voluntário e tem, por isso, tido um Verão bem quente, depois de largar os estudos desenvolveu várias profissões, entre as quais empregado de bar. Mas sempre teve vontade de acompanhar o pai nas viagens a França. Luxemburgo, Alemanha ou Áustria. O seu progenitor trabalhava para uma transportadora, mas Filipe resolveu tirar a carta de condução de pesados e os dois acabaram por fundar uma empresa camionagem. A partir daí largou o emprego e fez-se à estrada. Primeiro, na companhia do pai. Depois, com o negócio a correr bem, decidiu alargar a frota de camiões e acabou por comprar um. Assim, pai e filho andavam cada um com o seu veículo. Mas os últimos anos pregaram uma partida a este jovem. A crise agravou-se no País, os custos aumentaram e este ano, Filipe decidiu largar a profissão na empresa familiar, vendendo mesmo o camião. “Com estes preços, não dava para andar com o camião. Os custos de manutenção eram grandes e o que pagavam pelas cargas manteve-se inalterável durante estes seis anos. Depois, veio o preço do gasóleo, sempre a aumentar, para acabar com o pessoal” lamenta o jovem, que diz saber de outras empresas do mesmo género, na região, que já despediram pessoas e reduziram o número de empregados, bem como a sua frota de veículos. “Assim, não há hipótese, ninguém resiste. É que temos que juntar a tudo isto a alimentação, durante dias seguidos, e as portagens, que são bem caras por essa Europa fora”.
Em Julho, algumas estradas em Portugal foram o espelho do descontentamento dos camionistas, que entupiram o trânsito em algumas vias, como o IP5, numa opção que seria criticada pelo Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, pois dizia estarem a decorrer negociações com o Governo para resolver alguns problemas dos camionistas. A Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) acusava o executivo de não ter medidas de apoio ao sector e defendia um gasóleo mais barato, incentivos fiscais, a revisão da lei de enquadramento do sector e a suspensão provisória da autorização de alvará.

Litro de gasóleo já custa mais de um euro

Entretanto, o panorama para os camionistas e empresas de transportes não parece desanuviar-se, antes pelo contrário. Na passada semana, o preço do litro de gasóleo ultrapassou a barreira de um euro, subida que é justificada pelas petrolíferas com o valor das cotações internacionais dos refinados. O petróleo também atingiu máximos históricos e a gasolina também acabou por aumentar.
O gasóleo teve subidas de 1,6 e 1,2 cêntimos, custando na Galp 1,014 o litro. Desde Janeiro, as sucessivas subidas de preços deram num aumento de 17 por cento neste combustível.