Parkurbis
A casa da tecnologia

Foi pensado para dar vida a novas empresas de base tecnológica numa região marcada pelo desemprego crescente. O Parkurbis conta já com oito empresas viradas para novos sectores de desenvolvimento. Segundo os responsáveis, esta “incubadora” pretende aproveitar talentos e ideias inovadoras, abrindo novos caminhos para todo o Interior do País. Ao mesmo tempo, o novo espaço promete revitalizar o tecido produtivo e económico da região.

Por Catarina Rodrigues e Eduardo Alves

O Parkurbis vai funcionar como sede de diversas empresas da área das tecnologias de informação

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Implantado no Parque Industrial do Tortosendo, o edifício do Parkurbis ganha destaque entre as demais unidades fabris, quer pela arquitectura moderna, onde se interligam pavilhões, escritórios, lojas, um auditório com capacidade para 200 pessoas, um restaurante e até um jardim interior, quer pela localização privilegiada com a A23.
E se o visitante não ficar surpreendido em demasia pelo design do edifico, todos os pormenores que lhe estão inerentes vão, com certeza, encarregar-se disso mesmo. O “choque tecnológico” de que o País precisa e que o Governo anunciou há bem pouco tempo, através de algumas medidas de incentivo à investigação e à criação de empresas, poderia muito bem ter no Parkurbis um exemplo perfeito. Ainda assim, esta estrutura que nasceu através da vontade da Câmara Municipal da Covilhã e de mais de uma dezena de associados reúne alguns dos principais projectos de jovens empreendedores vindos da Universidade da Beira Interior (UBI) e foi buscar as suas linhas mestras a outros projectos europeus com semelhantes aspirações.
Tecnologia é o que não falta nesta “incubadora”, nem ideias arrojadas. Veja-se o sistema de segurança que protege o edifício. Concebido por uma das empresas sedeadas no Parkurbis, a Omnisys, este sistema de identificação e acesso a instalações reúne num pequeno cartão todos os dados do seu portador. Pedro Farromba, director-executivo do Parkurbis explica ao pormenor as maravilhas de um dos primeiros trabalhos feitos pela Omnisys. Cada pessoa ligada à estrutura tem um cartão de identificação que armazena num pequeno chip informações únicas como a impressão digital do seu portador. Isto porque, “para se aceder ao interior do edifício não basta só passar o cartão na ranhura óptica, mas é também necessário colocar a impressão digital num aparelho para que este identifique de forma precisa quem está a aceder às instalações”.
Estes passos que até há bem pouco tempo apenas funcionavam em filmes de ficção científica estão agora a ser utilizados no novo espaço. Já no seu interior, mais de uma dezena de salas estão preparadas para acolher as empresas. Todas equipadas com ligações telefónicas, Internet e mobiliário específico. Algumas áreas de maiores dimensões “podem ser utilizadas para reuniões de grupos, pequenas palestras e outras actividades inerentes às empresas”, explica o director-executivo. Para as grandes conferências ou outras actividades, “está a funcionar o auditório”. Um espaço com lugar para 200 pessoas onde estão instalados todos os aparelhos para apresentações, seminários e eventos semelhantes. Logo ao lado, com um enorme jardim interior a servir de “decoração” está um dos espaços mais amplos do Parkurbis. Por enquanto ainda sem as divisões, esta enorme sala está preparada para “instalar mais de 50 empresas”, sublinha o responsável. Ainda no perímetro edificado do Parkurbis, cifrado em 35 mil metros quadrados, vai também funcionar um restaurante, um bar e várias áreas comerciais, como uma dependência bancária, uma agência de seguros, lojas de informática entre outras.




O início de um longo caminho

Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã e também do Conselho de Administração do Parkurbis tece vários comentários de elogio a este novo espaço. Construído no seio de uma região marcada pela indústria dos têxteis e pela grave crise de desemprego que atravessa o País, o Parkurbis “é um indicador de novos caminhos”, adianta o autarca. A ideia anda pelos corredores da autarquia desde os finais dos anos 90 e começou a ganhar forma à medida que ganhava parceiros. Neste projecto que teve um investimento global de 3 milhões e 500 mil euros, estão associados à Câmara da Covilhã, a UBI, o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI), a Portugal Telecom, SGPS, a Caixa Geral de Depósitos, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios (ANIL), a Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor (AECBP), o Núcleo Empresarial da Região de Castelo Branco (NERCAB) e a FRULACT, Sociedade Gestora de Participações Sociais, SA.
Agora que esta “incubadora” de novas empresas começa a trabalhar, Carlos Pinto é o primeiro a admitir que “se está no início de um caminho longo que todos esperam que se venha a revelar bastante produtivo para a nossa região”. Para o presidente da autarquia covilhanense, o Parkurbis pode mesmo vir a tornar-se na porta da Europa, no que respeita a novas tecnologias. Daí que o trabalho que está já a ser feito “tenha várias frentes”. A autarquia promoveu recentemente um protocolo entre várias empresas brasileiras e o Parque de Ciência e Tecnologia. Mas a câmara “continua em busca de parceiros pela Europa e pelos Estados Unidos da América”. Neste momento, para além das oito empresas que estão a laborar sob a “aba” do Parkurbis há mais “cinco ou seis prestes a serem propostas ao conselho científico”, sublinha o autarca social-democrata.
Um passo essencial para que se possa entrar neste mundo tecnológico. Pedro Farromba explica que o Parkurbis “funciona como um incubadora de empresas em vários aspectos”. Aquilo que os responsáveis mais anseiam “é captar as boas ideias e torná-las possíveis”. A UBI funciona como uma verdadeira nascente de projectos empreendedores, “grande parte das empresas que estão aqui sedeadas pertencem a docentes e alunos da UBI”, explica do director-executivo do parque tecnológico. Virado para empresas da área das tecnologias da informação, o Parkurbis funciona como uma alavanca inicial. Todo o processo de criação de empresas “foi reduzido o mais possível”. Os interessados apresentam a sua proposta, “que terá de ser um projecto inovador, por natureza”, afiança Farromba. Essa mesma proposta vai depois ser estudada pelo Conselho Científico do parque. Caso seja aprovada, o Parkurbis vai possibilitar “um espaço dentro do nosso parque para a sede dessa nova entidade, procurar capitais de risco que funcionem como capital inicial e acompanhar todo o processo de desenvolvimento”.
Esta “incubação” tem um limite máximo de cinco anos. Período que deverá ser suficiente para o crescimento e solidificação da nova entidade. O parque tem disponíveis 2.000.000 metros quadrados de terreno para uma possível expansão. Toda esta área prevê assim um crescimento determinante de empresas num futuro a médio prazo.
“Espero que periodicamente apareçam novas empresas e que este nascimento se torne numa rotina, no Parkurbis”, diz o autarca Carlos Pinto.



Da teoria à prática

José Carlos Correia (à esquerda) e António Pires da Consispro

António Pires, José Carlos Correia e Nuno Silva são os três sócios-gerentes da Consispro. Uma empresa que nasceu nos bancos da UBI “quando o professor Palma Nobre, do Departamento de Engenharia Electroquímica nos deu a escolher vários temas para o trabalho de final de curso”. De entre os itens estava ode manutenção industrial, aquele que acabou por ser escolhido por José e António, ambos a frequentar o curso de Engenharia de Gestão e Produção Industrial (EPGI). Para dar algum apoio à ideia juntou-se a esta dupla, Nuno Silva, então aluno em Matemática/Informática.
Depressa o projecto deu passos largos e encontraram uma empresa no Parque Industrial do Tortosendo para tornarem real a ideia de informatizar toda uma linha de produção.
Com as primeiras ideias no terreno, “foi o próprio professor Palma Nobre que nos disse que esta ideia tinha potencial para ser comercializada”.
“Começamos por pensar em montar uma empresa que pudesse funcionar consoante os trabalhos que arranjássemos”, explica António, mas depois “concorremos também ao Ideia Activa, um concurso que premeia os melhores projectos empreendedores, onde alcançámos o primeiro lugar”. Daí até estes jovens empreendedores estarem a representar Portugal num certame internacional sobre novas tecnologias da informação foi um passo. Quase o mesmo que foi dado para chegar ao Parkurbis.
“Esta estrutura é de uma importância crucial para toda a região e para todos aqueles que como nós queiram apostar nesta zona do País”. Foi neste parque tecnológico que a Consispro, tal como a Omnisis, a Vedior e outras tantas empresas encontraram sede.
António Pires é o primeiro a apontar a forte ligação “entre o parque e a Universidade”. Uma das grandes melhorias que esta estrutura apresenta “é a viabilidade para muitos bons projectos que ficavam nas gavetas e no papel”. Este jovem empresário refere que “agora os bons trabalhos vão poder ser concretizados, para bem de todos”. Um desafio que “representa também mais um estímulo para os estudantes da UBI e para os futuros alunos da Universidade”.
Os três jovens trabalham já com cerca de 30 empresas “todas aqui da região”. Virada essencialmente para as novas tecnologias, a Consispro projecta software’s específicos. José Correia lembra ainda o primeiro cliente. “Queria uma página para colocar na Net”, desde essa altura que “fazemos de tudo um pouco”. Páginas para empresas, programas de gestão e contabilidade e agora apostam “em nichos de mercado”. A mais recente aplicação informática vai ser instalada “numa queijaria”. Todo o programa de gestão de produção e de qualidade foi elaborado pela Consispro “desde a entrada do leite até à saída do queijo, tudo vai ser comandado e monitorizado por computadores e pelo nosso programa”, refere António. Para além das queijarias “há também lagares de azeite e muitas outras empresas que precisam de programas de computador específicos”, concebê-los é a função destes três jovens empresários.
No futuro próximo, as ideias estão “programadas” para um crescimento a nível nacional, mas também para Espanha, “um crescimento calmo, com cada passo a ser dado de cada vez”, sublinham.
Já a Omnisis, empresa de componentes informáticos seguros teve o mesmo início que a Consispro. Os quatro proprietários são também docentes na UBI e foi na Universidade que se deram conta da falta de uma empresa, na área da informática que construa e comercialize sistemas seguros. Os primeiros passos estão também já a ser dados no Parkubis.
A Vedior, empresa de recursos humanos e de trabalho temporário ocupa também uma das salas que estão instaladas no piso superior do parque. A abertura desta delegação veio cobrir “uma zona branca”, como explica Ana Silva, consultora comercial na zona de Castelo Branco e da Guarda. Tal como os novos hábitos que a Vedior tem vindo a implementar no mercado de trabalho, Ana Silva elogia “o arrojo e a iniciativa pioneira deste parque”. Conhecedora do tecido empresarial da região e das suas necessidades acaba por dizer que “as mentalidades estão já a mudar, para melhor”. Os empresários começam a abraçar estes novos projectos “com uma outra vontade”. Contudo “há sempre quem não queira apostar nos recursos humanos qualificados, uma vez que isso implica salários mais elevados e mais gastos para a empresa”, refere esta consultora. Mesmo assim, “o panorama está a mudar”. Ana Silva diz que “estes projectos vêm conferir uma dinâmica muito diferente à região”. Uma dinâmica que vai ser verdadeiramente visível “daqui a alguns anos”.