Um especialista em engenharia florestal defendeu na passada semana que o incêndio que esta destruiu mais de 2.500 hectares do Parque Natural da Serra da Estrela vai comprometer a qualidade da água na região. José Massano, engenheiro florestal e docente da Escola Superior Agrária de Castelo Branco, afirmou que, além de comprometer a qualidade da água, o incêndio que lavrou em Manteigas vai "levantar problemas de erosão".
"Os sistemas aquíferos subterrâneos são muito abundantes naquela zona, mas vão sofrer consequências, porque eram as espécies vegetais que ajudavam a armazenar a água", diz José Massano. "Assim, o fogo põe em causa a quantidade e a qualidade da água usada para consumo público", sublinha o especialista, que já realizou diversos trabalhos sobre a zona do Parque Natural da Serra da Estrela que esta semana ardeu.
Por outro lado, alerta que "o incêndio deixou o solo desprotegido face à erosão, especialmente quando chegarem as primeiras chuvas". "É necessário partir para uma correcta campanha de reflorestação, porque solo ou rochas soltas podem ser muito perigosos nesta zona de montanha", considera.
Segundo aquele técnico, boa parte das árvores destruídas pelo fogo "tinham entre 80 e 100 anos". José Massano justifica a extensão do incêndio com o facto de não ter sido feita a "compartimentação da floresta". "Era um povoamento contínuo, onde o fogo é difícil de combater", explica.
Por outro lado, o especialista critica o facto de os técnicos florestais ligados à Direcção Geral de Florestas, "que diariamente fazem projectos e estão no terreno", estarem desde 1985 "afastados do combate a incêndios". "Deviam poder intervir, em vez de comentar depois do mal feito. É estranho que se afaste quem melhor conhece o terreno, o que só se explica pelo facto de haver no País uma indústria do fogo para proteger", afirma.
Entretanto, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, já disse que a qualidade da água na Serra da Estrela “não suscita preocupação”. Quanto à área ardida, 11 mil hectares na Serra, diz que as zonas da Rede Natura atingidas têm “um bom potencial de regeneração”. Já o presidente do Parque Natural, Fernando Matos, mostra-se preocupado com os efeitos da erosão. |