Uma decisão tomada pelos corpos directivos e que foi contra a vontade dos associados parece estar na origem do diferendo
Demissão em bloco
Direcção da Mutualista abandona funções

A direcção da Mutualista Covilhanense demite-se em bloco cinco meses antes do fim do mandato. Em causa está a “falta de confiança” dos associados ao contestarem a dispensa do médico Ângelo Ribeiro.


Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


A Associação de Socorros Mútuos da Covilhã encontra-se, dois anos depois, mergulhada em nova crise directiva. A direcção, que terminava o seu mandato em Dezembro próximo, demitiu-se em bloco na passada semana, e já solicitou ao Ministério Público a providência cautelar para a nomeação de um administrador judicial.
A demissão do órgão directivo surge no seguimento de uma reunião de sócios realizada no dia 30 de Julho onde os presentes se manifestaram contra a decisão da direcção de prescindir dos serviços do médico Ângelo Ribeiro, substituindo-o por Raposo de Almeida. Os cerca de 150 associados exigiram o regresso do primeiro numa acção que a actual direcção encarou como uma “inequívoca e irremediável falta de confiança através da contestação de um acto de gestão”.
Apesar do número de associados que subscreveram as intenções de reinstalar o antigo médico representar menos de 10 por cento do universo total (a Mutualista tem cerca de mil e 800 sócios), a direcção considera-o significativo “uma vez que esse é o número de associados que costuma comparecer nas Assembleias-gerais.
O corpo directivo vai permanecer em funções até à próxima Assembleia-geral onde deverá ser nomeada uma Comissão de Gestão se, entretanto, o Ministério Público não tiver designado um administrador Judicial. Em carta enviada ao Ministro do Trabalho e Segurança Social, a direcção dá conta, ainda, de “uma gravíssima situação financeira” que dificulta “a manutenção em funcionamento de vários serviços da Mutualista”. A situação é de tal forma grave, continua o documento, “que, caso não se desencadeiem os mecanismos legais previstos no código das associações mutualistas, estará em causa a sobrevivência e o bem-estar dos cerca de 140 idosos” que usufruem dos serviços de lar, centro de dia e apoio domiciliário.

Tribunal penhora contas

Para além dos problemas internos, a Associação Mutualista debate-se, ainda, com factores externos, como a penhora, por parte do Tribunal da Covilhã, de uma conta na Caixa Geral de Depósitos. Uma acção requerida pela Constrope, empresa que construiu o Centro Comunitário da instituição, e que reclama uma verba de cerca de 56 mil euros que ainda faltará pagar.
A direcção diz que terão sido facturados trabalhos que não chegaram a ser feitos, mas que já teria chegado a um acordo com a empresa que agradava às duas partes: a empresa recebia o dinheiro que reclama e terminava os trabalhos, para além de reparar alguns erros de construção. O acordo, porém, não pode ser posto em prática porque foi a própria Inspecção-Geral da Segurança Social que avançou com o processo para tribunal na sequência de uma auditoria às contas da anterior direcção.
A decisão de demissão, reitera Ramiro Reis, “é irreversível”. O presidente demissionário, e demais membros da direcção, queixa-se de manipulação dos sócios por parte do antigo médico e de falta de solidariedade das chefias, “que só queriam mandar e não auxiliavam nos trabalhos”. Quem vier a seguir, afirma, “se não conseguir resolver os problemas de pessoal, não conseguirá gerir esta casa”.
Entretanto, em declarações à Comunicação Social regional, o médico Ângelo Ribeiro já contestou as acusações de manipulação de que é alvo pela direcção demissionária e ameaça levar o caso a tribunal.