José Geraldes

Em louvor dos avós


O dia dos avós é de criação recente. A data para a sua comemoração fixou-se no dia 26 de Julho de cada ano por ser a festa no calendário litúrgico católico de Santa Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora. Assim este casal de santos foi proclamado padroeiro dos avós.
É comovente a história deste casal. Ana e Joaquim viviam em Nazaré. Não tendo filhos, pediam continuamente a Deus uma criança. Com os rogos constantes, Deus concedeu-lhes uma menina chamada Maria que viria a ser escolhida para ser mãe de Cristo.
Embora aproveitado pelo comércio para promover produtos publicitários, o dia dos avós é comemorado de ano para ano com maior empenho pelas famílias. As razões são por mais evidentes.
Devido aos tempos modernos em que os pais não têm tempo para os filhos, são os avós que suprem muitas das suas funções. Antigamente, os avós limitavam-se a dar mimos aos netos. Hoje, a sua presença exerce-se em vários domínios.
Dado que mesmo dois salários são insuficientes para as despesas do lar, os avós contribuem de forma significativa para o complemento financeiro. E, por vezes, de forma avultada.
A gestão dos afectos é outra área onde os avós preenchem vazios. Não que os pais não dêem os afectos necessários. Mas os seus deveres profissionais assoberbam-nos de tal forma que o cansaço e as preocupações de promoção lhes retira qualidade de presença junto dos filhos.
Este aspecto afigura-se fundamental para o equilíbrio das crianças. E o exemplo de dedicação também acabará por criar nos netos desejo de imitação. Exemplo que um dia mais tarde fará memória para construir o futuro.
Como conselheiros, os avós preparam os netos para as árduas tarefas da vida, ajudando a encontrar soluções. Por sua vez, os netos encontram nos avós alguém que os oiça nos seus momentos difíceis, seja numa nota negativa tirada na escola, seja numa desilusão afectiva.
Os avós transformam-se assim em segundos pais mas mais presentes. Mas na educação diária, os pais e avós devem-se pôr de acordo nas linhas essenciais para evitar o dito de que os avós facilitam o que os pais dificultam.
Muito do património de costumes e tradições transmite-se graças aos avós. Histórias familiares e tradicionais, costumes e hábitos são transmitidas aos netos graças aos avós que desempenham assim outra tarefa imprescindível. Até porque muitos pais já esqueceram todo este conjunto de riquezas da tradição. Que passa a ser conservado pelos avós.
Um estudioso desta temática, James Hillman, escreve : “ Os avós mantêm rituais e tradições, possuem um tesouro de histórias, ensinam os jovens e nutrem a lembrança dos espíritos ancestrais que protegem a comunidade. Escutam os sonhos e dizem o que significa uma nova palavra”.
A sabedoria e a experiência de vida dos avós passa para as gerações mais novas, dando-lhes bases para uma educação integral.
No aspecto religioso, pelas mesmas razões, os avós preocupam-se no sentido de os seus netos não ficarem sem uma ligação a Deus e aos valores espirituais. Muitos pais descuidam-se nesta área de forma clamorosa. E mais uma vez os avós cumprem uma tarefa que devia ser dos pais.
O poeta diz : “Existe uma saída que traz à criança certo vigor/ é a atenção dos avós com a sua paciência e amor/ (…) Muitos ficam a chorar quando os netos vão embora”.
Por todas estas funções que exercem nesta sociedade de correrias, sem tempo para pensar, os avós mereciam ser imortalizados num monumento. Que é muito mais merecido que um rol de estátuas aí pelas praças e jardins.