Durante vários dias, milhares de hectares de floresta foram devorados pelo fogo
Serra da Estrela
Inferno das chamas
faz estragos no Parque Natural

Durante seis dias a Cova da Beira esteve envolvida numa extensa nuvem de fumo. O fogo que começou na terça-feira, 19, em Seia, estendeu-se a vários concelhos, entre os quais a Covilhã e Fundão. Arderam casas, houve quem ficasse sem o esforço de uma vida e o Parque Natural voltou a sofrer estragos.


NC / Urbi et Orbi


Ninguém poderia imaginar que, após o início de incêndio, na passada terça-feira, 19, em Seia, só no domingo, 24, ao fim do dia, o Serviço Nacional de Bombeiros desse por extintos os fogos que dizimaram hectares de mata e floresta na Cova da Beira. Os últimos locais atingidos, no concelho da Covilhã, foram Vale Formoso e Pedras Lavradas.
Os primeiros sinais para aquilo a que se pode chamar uma tragédia foram dados logo na quarta-feira. Na zona de Seia, distrito da Guarda, na aldeia de Vide, a população era evacuada devido à proximidade das chamas, com casas, arrecadações, garagens e depósitos de materiais a serem consumidos pelo fogo. No dia seguinte, foram as aldeias de Casal do Rei e Cabeça, no mesmo concelho, a serem evacuadas pelos bombeiros, INEM e Câmara Municipal, pois os 126 bombeiros destacados, apoiados por 33 veículos e um meio aéreo, não conseguiam controlar as chamas que eram puxadas pelo forte vento. O fogo actuava já em cinco frentes, estendo-se a outros concelhos, como Arganil ou a Covilhã. A Senhora da Guia, Pedras Lavradas, Teixeira de Cima, Casegas e Casal do Rei eram áreas atingidas, ou seja, locais que fazem parte do Parque Natural da Serra da Estrela, que sofreu muitos estragos na sua fauna e flora. Nessa mesma noite também a população de Oteiro da Vinha foi evacuada, sendo levada para Loriga, onde foi montado um centro médico para assistir as pessoas. Elementos do regimento de infantaria de Tancos tentavam ajudar os bombeiros, na abertura de aceiros que impedissem a progressão das chamas que, nesta altura, também preocupavam (e muito) na Serra do Açor. Quem chegasse à Cova da Beira, tal era a densidade do fumo, juraria que toda ela estava a arder.

Área que não ardia há uma década dizimada

Na quinta-feira, 22, o incêndio que mais preocupava registava-se no concelho da Covilhã, em Pedras Lavradas, onde 115 bombeiros, apoiados por 36 bombeiros e um meio aéreo, tentava a todo o custo controlar as chamas. Em Silvares, o fogo também lavrava com intensidade, tal como em Seia. Nesse mesmo dia, e como consequência do fogo de Pedras Lavradas, ardia uma área que não tinha sofrido com os incêndios há já uma década. António Covita, da Associação de Produtores Florestais do Paul, estiamava que já tivessem ardido mais de 100 hectares na zona mais exposta dos terrenos da Associação, em Casegas, e lamentava o facto de alguns proprietários não estarem interessados em ordenar a floresta. A sua equipa ajudava os “Soldados da Paz”, isto depois de em Janeiro último terem recebido do Governo a primeira Bandeira Verde do País, como prémio pelos projectos florestais desenvolvidos.
Na sexta-feira, 23, de manhã, os fogos eram dados como circunscritos pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) em Seia, Fundão e Covilhã. Só que à tarde, em Lavacolhos, no Fundão, a tragédia continuava com o fogo a fugir de novo ao controlo dos bombeiros e a destruir duas casas desabitadas, para além de ameaçar muitas outras. Nesse mesmo dia, mais dois incêndios destruíam parte do Parque Natural da Serra da Estrela, em Alvoco da Serra e Sameiro.
No sábado, já só o fogo de Pedras Lavradas, na Covilhã se encontrava por circunscrever. Só que no mesmo dia passava a ser a freguesia de Vale Formoso a sofrer um valente susto, com outro fogo a ameaçar também algumas casas. Só no domingo a região voltou à calma, sem fogos a registar.
No final destes dias de inferno, houve quem tivesse ficado, mais uma vez, sem os seus haveres, as suas casas, e quase todo o dinheiro de uma vida, como um empresário, em Silvares, dono de uma sucata, que viu quase a totalidade do seu stock ser consumido pelas chamas.