Ninguém poderia
imaginar que, após o início de incêndio,
na passada terça-feira, 19, em Seia, só no
domingo, 24, ao fim do dia, o Serviço Nacional de
Bombeiros desse por extintos os fogos que dizimaram hectares
de mata e floresta na Cova da Beira. Os últimos locais
atingidos, no concelho da Covilhã, foram Vale Formoso
e Pedras Lavradas.
Os primeiros sinais para aquilo a que se pode chamar uma
tragédia foram dados logo na quarta-feira. Na zona
de Seia, distrito da Guarda, na aldeia de Vide, a população
era evacuada devido à proximidade das chamas, com
casas, arrecadações, garagens e depósitos
de materiais a serem consumidos pelo fogo. No dia seguinte,
foram as aldeias de Casal do Rei e Cabeça, no mesmo
concelho, a serem evacuadas pelos bombeiros, INEM e Câmara
Municipal, pois os 126 bombeiros destacados, apoiados por
33 veículos e um meio aéreo, não conseguiam
controlar as chamas que eram puxadas pelo forte vento. O
fogo actuava já em cinco frentes, estendo-se a outros
concelhos, como Arganil ou a Covilhã. A Senhora da
Guia, Pedras Lavradas, Teixeira de Cima, Casegas e Casal
do Rei eram áreas atingidas, ou seja, locais que
fazem parte do Parque Natural da Serra da Estrela, que sofreu
muitos estragos na sua fauna e flora. Nessa mesma noite
também a população de Oteiro da Vinha
foi evacuada, sendo levada para Loriga, onde foi montado
um centro médico para assistir as pessoas. Elementos
do regimento de infantaria de Tancos tentavam ajudar os
bombeiros, na abertura de aceiros que impedissem a progressão
das chamas que, nesta altura, também preocupavam
(e muito) na Serra do Açor. Quem chegasse à
Cova da Beira, tal era a densidade do fumo, juraria que
toda ela estava a arder.
Área que não ardia há uma
década dizimada
Na quinta-feira, 22, o incêndio que mais preocupava
registava-se no concelho da Covilhã, em Pedras
Lavradas, onde 115 bombeiros, apoiados por 36 bombeiros
e um meio aéreo, tentava a todo o custo controlar
as chamas. Em Silvares, o fogo também lavrava com
intensidade, tal como em Seia. Nesse mesmo dia, e como
consequência do fogo de Pedras Lavradas, ardia uma
área que não tinha sofrido com os incêndios
há já uma década. António
Covita, da Associação de Produtores Florestais
do Paul, estiamava que já tivessem ardido mais
de 100 hectares na zona mais exposta dos terrenos da Associação,
em Casegas, e lamentava o facto de alguns proprietários
não estarem interessados em ordenar a floresta.
A sua equipa ajudava os “Soldados da Paz”,
isto depois de em Janeiro último terem recebido
do Governo a primeira Bandeira Verde do País, como
prémio pelos projectos florestais desenvolvidos.
Na sexta-feira, 23, de manhã, os fogos eram dados
como circunscritos pelo Serviço Nacional de Bombeiros
e Protecção Civil (SNBPC) em Seia, Fundão
e Covilhã. Só que à tarde, em Lavacolhos,
no Fundão, a tragédia continuava com o fogo
a fugir de novo ao controlo dos bombeiros e a destruir
duas casas desabitadas, para além de ameaçar
muitas outras. Nesse mesmo dia, mais dois incêndios
destruíam parte do Parque Natural da Serra da Estrela,
em Alvoco da Serra e Sameiro.
No sábado, já só o fogo de Pedras
Lavradas, na Covilhã se encontrava por circunscrever.
Só que no mesmo dia passava a ser a freguesia de
Vale Formoso a sofrer um valente susto, com outro fogo
a ameaçar também algumas casas. Só
no domingo a região voltou à calma, sem
fogos a registar.
No final destes dias de inferno, houve quem tivesse ficado,
mais uma vez, sem os seus haveres, as suas casas, e quase
todo o dinheiro de uma vida, como um empresário,
em Silvares, dono de uma sucata, que viu quase a totalidade
do seu stock ser consumido pelas chamas. |