António Fidalgo
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Interior e
Internet
O tom da pergunta de como era
viver na Covilhã era de comiseração.
Longe de Lisboa onde tudo acontece, onde estão
o poder, os ministros, a ópera, as modas, a animação
das docas, que faz uma pessoa numa pequena cidade do interior?
Subjacente à pergunta vem ainda a ideia arreigada
de que viver longe de Lisboa é viver fora do mundo.
A resposta foi seca quanto críptica e seguida de
uma pergunta curta: “Tenho 2 Megabits de rede em
casa. Quanto tem em Lisboa?”
A conversa foi tida há uns meses. Então
a largura de banda de Internet que um cliente normal em
Lisboa tinha era, no máximo, de 512 Kilobits, e
a resposta era de que na província se podia ter
uma largura de banda quatro vezes superior.
A Internet alterou o Litoral e o Interior, tal como a
rádio, a televisão, o telefone e o telemóvel.
Mas os órgãos de comunicação
social estrangeiros, o New York Times, El
Pais, Le Monde, lêem-se na Internet,
em qualquer parte do mundo. Ouvem-se rádios na
Internet e tem-se acesso a canais de televisão
de todo o mundo. É que a largura de banda de então
foi quadruplicada sem mais custos.
Hoje pela Internet fazem-se muitas coisas que dantes era
impossível e o estilo e a qualidade de vida de
uma pessoa depende em muito da largura de banda que possui
em casa. Como dantes com a água canalizada e com
a energia eléctrica. Com a Internet lêem-se
jornais, ouvem-se rádios, obtém-se informação
sobre universidades, museus, cursos, marcam-se viagens,
comparam-se preços, entrega-se o IRS, reservam-se
hotéis, fala-se ao telefone, com a mesma qualidade
de um telefone normal, e sem quaisquer custos, com pessoas
nos Estados Unidos, no sul do Brasil, na Alemanha, e em
Portugal. Se se pode fazer isto tudo, tendo banda larga
na Covilhã, para quê então aturar
a falta de qualidade de vida e falta de segurança
de uma grande cidade? Haverá que fazer a pergunta
ao contrário, com a mesma comiseração.
Como é viver em Lisboa, numa cidade com congestionamentos
contínuos de trânsito e com os passeios pejados
de carro, com receio de andar por certas zonas a certas
horas, onde não se tem tempo para nada e onde tudo
é muito mais caro?
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