José Geraldes

Barbárie de ontem e de hoje


1. Foi há dez anos. O que se julgava ser uma barbárie do passado, voltou a acontecer. O massacre de oito mil bósnios muçulmanos em Sebrenica (ex-Jugoslávia) faz-nos recuar aos tempos mais negros da Humanidade.
Homens, mulheres, jovens encontram-se na povoação na condição de refugiados.
Estamos em Julho de 1995. Os sérvios bósnios “conquistam” um enclave sob protecção das Nações Unidas. Separam os homens das mulheres. Do grupo fazem parte muitos adolescentes sem preparação para combater. As mulheres são expulsas. Depois a sangue frio os homens adultos e os jovens são abatidos e enterrados em vala comum.
Os ódios recalcados de um nacionalismo irracional levaram à prática deste massacre.
Em pleno séc. XX, depois de uma Declaração solene dos direitos do homem, dá-se uma barbárie que custa a compreender. E que nenhuma explicação pode justificar. E os direitos do homem transformam-se em letra morta. Pura e simplesmente ignorados.
A vingança elimina a tolerância entre etnias diferentes. O homem continua “lobo do homem”, segundo o velho ditado.

2. Já se esperava que o atentado seria cometido. Só não se sabia quando. E deu-se a 7 de Julho. Depois do 11 de Setembro em Nova Yorque, depois do 11 de Março em Madrid, agora foi a vez de Londres.
O terrorismo cego volta a matar. A intolerância levada ao extremo procura destabilizar as sociedades democráticas. E não haja dúvidas que são os valores da nossa civilização que se querem destruir.
O fundamentalismo islâmico não aceita a democracia nem tolera o progresso.
Os intentos dos mentores do terrorismo com este ataque em Londres foram gorados. Não tiveram a expressão mediática que desejava. E os londrinos manifestaram uma coragem enorme. Tony Blair elogiou a atitude dos seus concidadãos : “Estamos unidos na determinação de que o País não será derrotado pelo terror mas derrotá-lo-á e emergirá deste horror com os nossos valores, a nossa forma de vida e o nosso respeito pelos outros intocado”.
Os londrinos sofreram bombardeamentos na II Guerra Mundial. Sentiram na pele os atentados do IRA. Não era agora que deixariam cair os braços.
Em Londres, existe uma convivência de etnias com as suas características próprias. O politólogo Ral Darhendorf definia, há tempos, Londres como “a coexistência de uma esfera pública, partilhada por todos e de um considerável grau de separação na esfera privada”. E onde “o espaço público é multicultural mas governado por valores acordados e aceites e mesmo por uma língua comum. Separados mas iguais”.
A estratégia montada pelo Governo inglês de resistência psicológica já se mostrou eficaz. Resta que ninguém se deixe vencer pelo medo, pois é o que o terrorismo pretende.

Nota

Em Unhais da Serra, vila do concelho da Covilhã, foi homenageado o padre Alfredo dos Santos Marques. Homenagem mais que justa. Pároco da vila tinha uma visão estratégica para a Serra da Estrela que foi impedido de concretizar. Mas fundou a fábrica de lanifícios A Penteadora que foi e é o ganha-pão dos habitantes de Unhais e freguesias vizinhas.
A barragem com o seu nome diz bem do seu espírito de iniciativa. E só foi pena não o terem deixado construir o teleférico de Unhais para a Torre que seria hoje uma mais-valia turística.
Aos homens de vistas largas há sempre pigmeus a contrariar o progresso.