Por Eduardo Alves



Este foi um dos maiores eventos culturais realizados na Covilhã, referem os organizadores

Escrever livros hoje “tem de ser um prazer, tem de ser por fascínio e não apenas por uma moda ou pelo prazer de os ver em capas de revistas”, sublinha Urbano Tavares Rodrigues. Este nome maior da literatura portuguesa foi um dos muitos a participar nas primeiras Jornadas de Literatura da Covilhã. Um evento organizado pela Câmara Municipal e que contou com o apoio de Manuel da Silva Ramos, escritor natural da Covilhã, e da Universidade da Beira Interior.
Foi em pleno pólo das Engenharias que as Letras se instalaram. Manuel da Silva Ramos pega neste facto pouco usual para introduzir um outro. O autor de “Café Montalto”, e um dos principais promotores deste evento refere que “um acontecimento desta grandeza jamais estaria pensado para uma cidade como a Covilhã”. “Esta noite dormi em minha casa e estava próximo dos 50 maiores escritores portugueses do nosso tempo”, uma coisa que “me transformou”. Silva Ramos descreve assim o sucesso da iniciativa que juntou vários nomes conhecidos da literatura nacional num mesmo lugar para falar “essencialmente do estado da língua portuguesa e das transformações por que esta tem passado”, acrescenta Mário Cláudio, outro dos presentes na Covilhã.
Durante todo o passado sábado, 16, os anfiteatros do pólo 8 albergaram as mesas redondas e os debates em torno de vários aspectos relacionados com a escrita. Para Agustina Bessa-Luís, “o encontro com o público anónimo, com aqueles que conhecem as nossas obras, melhor que nós próprios, é algo que marca esta iniciativa”. A autora da Síbila mostrou-se bastante agradecida com o reconhecimento dos participantes, da sua obra. Esta mulher das letras, “portuense de gema” destaca das Jornadas de Literatura, “a intervenção dos leitores”. Para Agustina, “são eles que tem a maior legitimidade de nos apontarem erros, de nos darem sugestões e de classificarem as nossas escritas”.




“Fluir de criatividade”


Pedro Mexia leva também as suas palavras pelas mesmas linhas. O poeta e crítico literário mostra-se bastante entusiasmado com o encontro que decorreu na “cidade neve”. Este escritor integrou, entre outras, a mesa onde se tratou do futuro da literatura refere que está a nascer “toda uma escrita estética e ética”. Uma ideia partilhada por Mário Cláudio que alude o facto de “a literatura ser um fluir constante de criatividade onde estão sempre a aparecer novos nomes e novos projectos muito bons”.
Já Baptista-Bastos que participou no debate onde se falou sobre “Literatura e Memória” abordou outro tipo de questões relacionadas com a literatura. Segundo este escritor e jornalista “a memória é algo selectiva, apenas guarda o que deseja”. Daí que a escrita seja vista por Baptista-Bastos como “um suporte da memória colectiva do homem”. Esse suporte passa em grande parte pela imprensa escrita. Este jornalista lembre que “uma das mais nobres memórias portuguesas é a herança da imprensa”. Ainda assim, Baptista-Bastos mostrou-se desagradado com o rumo que a cultura, a escrita “e os valores morais portugueses” estão a tomar. Lembrou o caso de Alberto João Jardim “que foi de uma arrogância tremenda e de um racismo estremo” e ainda assim, “apenas eu escrevi sobre isso”. Batista-Bastos sublinha também que sempre escreveu sobre aquilo que julgou ser escrito. No caso de João Jardim, o jornalista mostrou-se bastante desagradado com os jornais, mas descobriu “o poder imenso dos blogues”. Foi através desta nova forma de comunicação que viu partilhadas as suas ideias “com milhares de pessoas, sobre uma das mais ignóbeis atitudes racistas decorridas em Portugal”.
A iniciativa parece ter acolhido o apoio de grande parte dos covilhanenses e espera-se agora uma continuidade da mesma. Autarquia e escritores mostram-se disponíveis para voltar a repetir o evento com novos mesas de debate, promovendo a ligação entre os escritores e o público e os críticos literários.

Algumas reacções



"O público foi muito bom e é interessante que se tenha uma atenção especial por este público"

Agustina Bessa-Luís



“É uma iniciativa muito interessante, sobretudo a ideia de descentralizar este tipo de encontros, fazer com que eles não aconteçam só nos grandes meios”



"Está aqui reunido um grande número de bons escritores e isso é um dos grandes méritos destas primeiras jornadas"

Pedro Mexia



“Daqui saíram novas ideias. Estão a ser tecidas as novas mantas da literatura para o futuro.”



"Espero que este seja o princípio de uma série de colóquios e conferências aqui na Covilhã. "

Urbano Tavares Rodrigues



“Dar notícias, trocar ideias é o ponto alto destes encontros.”