Escrever livros hoje
“tem de ser um prazer, tem de ser por fascínio
e não apenas por uma moda ou pelo prazer de os
ver em capas de revistas”, sublinha Urbano Tavares
Rodrigues. Este nome maior da literatura portuguesa foi
um dos muitos a participar nas primeiras Jornadas de Literatura
da Covilhã. Um evento organizado pela Câmara
Municipal e que contou com o apoio de Manuel da Silva
Ramos, escritor natural da Covilhã, e da Universidade
da Beira Interior.
Foi em pleno pólo das Engenharias que as Letras
se instalaram. Manuel da Silva Ramos pega neste facto
pouco usual para introduzir um outro. O autor de “Café
Montalto”, e um dos principais promotores deste
evento refere que “um acontecimento desta grandeza
jamais estaria pensado para uma cidade como a Covilhã”.
“Esta noite dormi em minha casa e estava próximo
dos 50 maiores escritores portugueses do nosso tempo”,
uma coisa que “me transformou”. Silva Ramos
descreve assim o sucesso da iniciativa que juntou vários
nomes conhecidos da literatura nacional num mesmo lugar
para falar “essencialmente do estado da língua
portuguesa e das transformações por que
esta tem passado”, acrescenta Mário Cláudio,
outro dos presentes na Covilhã.
Durante todo o passado sábado, 16, os anfiteatros
do pólo 8 albergaram as mesas redondas e os debates
em torno de vários aspectos relacionados com a
escrita. Para Agustina Bessa-Luís, “o encontro
com o público anónimo, com aqueles que conhecem
as nossas obras, melhor que nós próprios,
é algo que marca esta iniciativa”. A autora
da Síbila mostrou-se bastante agradecida com o
reconhecimento dos participantes, da sua obra. Esta mulher
das letras, “portuense de gema” destaca das
Jornadas de Literatura, “a intervenção
dos leitores”. Para Agustina, “são
eles que tem a maior legitimidade de nos apontarem erros,
de nos darem sugestões e de classificarem as nossas
escritas”.
Mesas abertas discutiram
várias temáticas
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“Fluir de criatividade”
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Pedro Mexia leva também as suas palavras pelas
mesmas linhas. O poeta e crítico literário
mostra-se bastante entusiasmado com o encontro que decorreu
na “cidade neve”. Este escritor integrou,
entre outras, a mesa onde se tratou do futuro da literatura
refere que está a nascer “toda uma escrita
estética e ética”. Uma ideia partilhada
por Mário Cláudio que alude o facto de “a
literatura ser um fluir constante de criatividade onde
estão sempre a aparecer novos nomes e novos projectos
muito bons”.
Já Baptista-Bastos que participou no debate onde
se falou sobre “Literatura e Memória”
abordou outro tipo de questões relacionadas com
a literatura. Segundo este escritor e jornalista “a
memória é algo selectiva, apenas guarda
o que deseja”. Daí que a escrita seja vista
por Baptista-Bastos como “um suporte da memória
colectiva do homem”. Esse suporte passa em grande
parte pela imprensa escrita. Este jornalista lembre que
“uma das mais nobres memórias portuguesas
é a herança da imprensa”. Ainda assim,
Baptista-Bastos mostrou-se desagradado com o rumo que
a cultura, a escrita “e os valores morais portugueses”
estão a tomar. Lembrou o caso de Alberto João
Jardim “que foi de uma arrogância tremenda
e de um racismo estremo” e ainda assim, “apenas
eu escrevi sobre isso”. Batista-Bastos sublinha
também que sempre escreveu sobre aquilo que julgou
ser escrito. No caso de João Jardim, o jornalista
mostrou-se bastante desagradado com os jornais, mas descobriu
“o poder imenso dos blogues”. Foi através
desta nova forma de comunicação que viu
partilhadas as suas ideias “com milhares de pessoas,
sobre uma das mais ignóbeis atitudes racistas decorridas
em Portugal”.
A iniciativa parece ter acolhido o apoio de grande parte
dos covilhanenses e espera-se agora uma continuidade da
mesma. Autarquia e escritores mostram-se disponíveis
para voltar a repetir o evento com novos mesas de debate,
promovendo a ligação entre os escritores
e o público e os críticos literários.
Algumas reacções
"O público foi muito bom e é
interessante que se tenha uma atenção
especial por este público" |
Agustina Bessa-Luís |
Mário Cláudio
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“É uma iniciativa muito interessante,
sobretudo a ideia de descentralizar este tipo de
encontros, fazer com que eles não aconteçam
só nos grandes meios”
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"Está aqui reunido um grande número
de bons escritores e isso é um dos grandes
méritos destas primeiras jornadas" |
Pedro Mexia |
Manuel da Silva Ramos
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“Daqui saíram novas ideias. Estão
a ser tecidas as novas mantas da literatura para
o futuro.”
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"Espero que este seja o princípio
de uma série de colóquios e conferências
aqui na Covilhã. " |
Urbano Tavares Rodrigues |
Baptista-Bastos
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“Dar notícias, trocar ideias é
o ponto alto destes encontros.”
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