A falta de incentivos à leitura desde tenra idade leva a que os portugueses tenham pouco o hábito de ler livros
Hábitos de leitura
Beirões “vão muito mal”

O balanço feito pelos representantes de diversas livrarias, presentes da Feira do Livro, no mês passado, veio relembrar os fracos hábitos de leitura que se verificam por todo o País. Os elevados preços dos livros e a falta de tempo são as justificações mais utilizadas para não se ler.


Liliana Machadinha
NC / Urbi et Orbi


A falta de tempo, o elevado preço dos livros e mesmo a falta de paciência para ler, são as razões apontadas para os fracos hábitos de leitura. A mesma opinião é sustentada pelos comerciantes que montaram as barracas na Feira do Livro da Covilhã, que decorreu entre 23 e 26 de Junho, no Centro Cívico da cidade.
Com a feira como pano de fundo, os visitantes passam pelos stands entram, vêem, mexem, comentam, mas não compram. As razões apresentadas são variadas. Isabel Matos, 23 anos, procura especialmente livros infantis para oferecer. Mas não tinha intenção de comprar nenhuma obra para si. E revela que não tem muita paciência para ler. “ Até compro e tento lê-los. Começo, chego ao primeiro capítulo e fico por aí. Canso-me”. Salientando a sua sinceridade, Isabel Matos defende que “há quem diga que não tem tempo, mas na maioria dos casos são só desculpas”. E sublinha ainda que “todas as pessoas têm uma hora ou mesmo meia hora livre, que se quisessem podiam usar para ler”.
Já Nuno Pereira, afirma que gosta e lê “mais ou menos um livro por mês”, dependendo do tempo livre que tem. Enquanto verificava os títulos de várias obras e os respectivos preços, revela que ganhou o hábito de ler na escola, “mas principalmente na Universidade da Beira Interior” (UBI). Nuno Pereira, 23 anos, tirou a licenciatura em Língua e Cultura Portuguesa e está já a estagiar numa escola em Castelo Branco. Apesar de ter ganho o gosto pela leitura “tarde”, sustenta que é um “bom vício” e tenciona mantê-lo. Mas é um hábito que classifica de caro, pois defende que o preço dos livros é elevado, apontando este motivo como o principal responsável para os baixos índices de leitura. “Há pessoas que não gostam de ler, mas acredito que a maioria até se interessa, mas tem outras prioridades”.
Ana Amorim trabalha na livraria “Folhas Soltas” e estava como responsável pela barraquinha na Feira do Livro. Apesar de ter vendido alguns livros, queixa-se do decréscimo de vendas deste ano comparativamente com a edição anterior da iniciativa. Para Ana Amorim os hábitos de leitura “vão muito mal” e justifica que os livros “são muitos caros e as pessoas preferem gastar o pouco dinheiro que têm em bens de primeira necessidade”.
Entre os comerciantes que aderiram à Feira do Livro, e que fazem da venda de livros o seu labor durante todo o ano, a opinião é a mesma. Segundo Lurdes Nunes, representante das Publicações Europa-América, “as pessoas lêem pouco” e explica que os “jovens preferem computadores e jogos a um bom livro”. Já Paula Ribeiro, que viajou de Castelo Branco para a Covilhã para representar a livraria Mar Arte na Feira, também atesta os baixos índices de leitura. Mas acredita que a “situação está a mudar”, apesar de se queixar da fraca adesão dos covilhanenses e das baixas vendas. E aponta como factor de mudança a aposta das escolas em organizarem feiras do livro. E acrescenta que estas iniciativas “ajudam os jovens a adoptarem hábitos de leitura e, se gostarem, vão manter para sempre”.
Luís da Silva, 48 anos, tem dois filhos e sempre lhes tentou incutir o hábito de leitura. “Eu leio muito, até porque no meu trabalho tem de ser. Leio desde livros técnicos até romances, um pouco de tudo”, frisa. Silva também defende que se lê pouco e justifica que nem sempre a educação é a responsável, pois o “gosto pessoal também influencia”. “Sempre dei livros aos meus filhos e o Rui Pedro gosta muito de ler, mas o mais velho não lhes passa cartão.” Veio à Feira acompanhado pelo filho mais novo, também amante de livros, em busca de “bons negócios”, tendo comprado quatro obras literárias. Mas, apesar das compras que fez, queixa-se dos preços. “Mesmo com os descontos de 20 por cento, os livros são caros.”