António Lopes,
actual proprietário da Garagem de São João,
vai assegurar as indemnizações aos antigos
trabalhadores da firma. Foi no dia 17 de Março
do ano passado que a “Garagem de S. João”,
fundada há cerca de 50 anos, e que esteve na origem
da empresa “C.A. Pintura e Bate-Chapas, fechou as
portas. O encerramento lançou no desemprego cerca
de 25 trabalhadores, que já contavam com três
meses e meio de ordenados em atraso. “Sensibilizado
com tal problema, por já ter sido sindicalista”,
o empresário, que adquiriu recentemente o edifício
por cerca de dois milhões de euros, decidiu assumir
a liquidação das indemnizações,
estimadas num valor de 60 mil euros. Uma quantia bastante
inferior àquela que foi exigida pelo Sindicato
dos Metalúrgicos (SM): 250 mil euros. “Em
conjunto com a antiga administração vamos
fazer o levantamento de tudo, segundo a contabilidade
da empresa. Desta forma, tudo o que considerarmos que
são direitos dos trabalhadores serão pagos.
Depois tentaremos chegar a um acordo com o sindicato,
quando confrontarmos os números”, esclarece.
Os ex-trabalhadores da “Garagem de São João”,
reuniram-se à porta do edifício, na passada
semana, exigindo o cumprimento dos acordos do tribunal
e a investigação de todo o processo de falência
da empresa. “Conscientes dos seus direitos”,
os antigos funcionários da firma recorreram ao
SM e convocaram os meios de comunicação
social regionais para exporem o caso, “para que
toda a população fique realmente a conhecer
esta vergonha”, queixam-se os operários.
A maior indignação prende-se com o facto
de os ex-proprietários da “Garagem de São
João” se assumirem como credores no processo
de falência.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos, na
origem da firma, a “Garagem de São João”
pertencia a Alberto Carvalho, que pagava renda à
IMAIBEL, da qual também era proprietário.
Em 1994, a Garagem de São João foi dividida,
surgindo a C.A Pintura e Bate-Chapas. Esta era também
propriedade de Alberto Carvalho, com um por cento, de
Francisco Antunes, com 49 por cento, e da própria
Garagem de São João, com 50 por cento. Em
2001, as duas firmas e o edifício onde estavam
instaladas tornam-se património de Francisco Antunes
e da sua esposa Sílvia Pereira Antunes. Para a
Direcção do Sindicato, “os contornos
da transmissão, a forma de aquisição,
bem como os objectivos, são desconhecidos, o que
levanta sérias dúvidas”.
Francisco Antunes e a sua esposa assumiram o controlo
da empresa até 2003. No final desse ano, de acordo
com a entidade sindicalista, terão abandonado as
firmas, “deixando de pagar salários e subsídios,
a que quem ali trabalhava tinha direito, criando uma situação
precária aos trabalhadores e às suas famílias”,
esclarece Luís Esperança, director do SM.
Também segundo este órgão, em consequência
do incumprimento do contrato celebrado, Alberto Carvalho
retomou a propriedade do edifício, facto que muito
intriga o Sindicato: “Por que razão, com
o incumprimento do contrato, só volta para o senhor
Alberto Carvalho o edifício?”, questiona
o sindicalista.
Há ainda a questão de 35 mil contos alegadamente
pagos pela “Fiat Auto Portuguesa” a título
de compensação da perda de representação
da marca, e de 10 mil contos para indemnizações
aos trabalhadores. Todos os bens de valor, como maquinarias
de rectificação de motores, tornos mecânicos,
cabina de pintura, viaturas auto, entre outros, foram
vendidos pelos proprietários, já depois
das firmas encerradas.
O Sindicato já manifestou a sua preocupação
ao presidente da Câmara da Covilhã, Carlos
Pinto, que terá concordado que se trata de um problema
social e prometido falar com o proprietário do
imóvel, colocando a questão das indemnizações
aos trabalhadores. Até porque, segundo o autarca,
“o valor das indemnizações não
é nada comparado com os valores globais do negócio
que está em causa”. O imóvel está
já vendido a António Lopes, e segundo o
dirigente do Sindicato, “à margem da lei”.
O projecto já aprovado pela Câmara Municipal
da Covilhã visa o aproveitamento comercial do edifício.
“ O espaço vai contar com três ou quatro
pisos, sendo que um deles é destinado a escritórios.
O último piso será panorâmico, destinado
a abranger uma zona de restauração e cafés”,
explica o novo proprietário.
António Lopes garante o pagamento das indemnizações,
seja através de negociações com os
antigos proprietários, seja através da sua
conta pessoal. “ o que eu pretendo é acabar
com o problema. Há todo um jogo de interesses com
o qual eu não vou compactuar. Não se justifica
que hajam trabalhadores a receber o Fundo de Garantia
Salarial, outros empregados, e outros ainda que fizeram
acordo para o desemprego”, salienta António
Lopes.
O processo relativo à empresa de pintura e bate-chapas
foi suspenso pelo juiz titular e enviado para o Ministério
Público para investigação. Já
o processo da Garagem de São João foi arquivado.
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