José Geraldes

Unidade Local de Saúde e pessimismo


1. O pessimismo instalou-se, de novo, entre os portugueses. Parece que estamos em face de um fadário nacional que ciclicamente se apodera de nós.
As últimas sondagens feitas por várias empresas não deixam margens para dúvidas sobre este estado de espírito. Mas o curioso é que mesmo numa situação de pessimismo e de descontentamento, os portugueses continuam a endividar-se e a levar uma vida acima das suas possibilidades.
Criou-se uma mentalidade de novo-riquismo que leva ao consumo desenfreado e sem qualquer orientação. Esta é uma verdade de Mr La Palisse que se pode verificar todos os dias.
Os fundos europeus destinados ao desenvolvimento de Portugal ajudaram a esta mentalidade. Simplesmente os beneficiários convenceram-se de que a nova árvore das patacas dispensava trabalho e iniciativa.
O mal em si não foram nem são os dinheiros de Bruxelas mas a sua abundância como novas especiarias da Índia, fez crer que o País entrava na era do progresso em passo de mágica.
Se os fundos agora descerem como é de prever, até pode ser um bem, pois isso obrigará os portugueses a encontra novas formas para construir o futuro.
O País desenvolveu-se imenso. É um facto. A entrada no euro criou uma euforia. Mas depois os portugueses ficaram a descansar à sombra da bananeira.
As reformas para continuar o desenvolvimento sustentado ficaram por fazer. O Estado engordou cada vez mais.
As contas públicas derraparam. E começou a história do défice do qual nunca mais nos libertamos. Os governos tiveram as sua culpas, cuidando apenas dos seus interesses partidários. Os partidos políticos trataram todos da sua vidinha sem pensar nos verdadeiros objectivos do futuro dos portugueses.
Agora estamos na situação de penúria e incerteza. Resultado: sem reformas profundas, como lembrava Medina Carreira, dentro de vários anos, o Estado entra em falência.
Mas- outro paradoxo português - todos acham que as coisas estão mal. Propõem-se medidas que até deviam ser mais drásticas, para resolver os problemas do País. E ninguém as quer, pois todos se valem de direitos adquiridos.
A solidariedade nacional está cada vez mais em falta. Assim não vamos lá.

2. Nas medidas sobre a educação, o Governo mexeu no ensino básico. Já não era sem tempo. Júlio Pedrosa quando foi ministro da Educação, no tempo de António Guterres, havia prometido reformar este parente pobre do ensino. Mas faltou-lhe tempo para o fazer.
José Sócrates decidiu e bem prolongar o tempo das crianças nas escolas.
Para haver bom ensino secundário, é fundamental um ensino básico com pés e cabeça. Não é debalde que instâncias internacionais preconizem, antes do processo de Bolonha, que Portugal invista em verdadeiras reformas do ensino básico e secundário.

3. Para melhorar o sistema da saúde em Portugal, o ministério da tutela criou as Unidades Locais de Saúde a título experimental. Está previsto instalar uma destas Unidades no distrito de Castelo Branco.
As Unidades Locais de Saúde vão substituir as sub-regiões de saúde. No caso vertente, para gerir o Hospital Amato Lusitano de C.Branco, o Centro Hospitalar da Cova da Beira e 11 centros de saúde.
Ora acontece que, quem zelosamente informou o ministro da Saúde Correia de Campos, esqueceu-se ou não quis dizer-lhe que no despacho da criação da Faculdade das Ciências da Saúde está legalmente consagrada a articulação entre a Faculdade, os referidos hospitais e os centros de saúde.
Ora só uma Unidade Local de Saúde a funcionar vinha atrapalhar e pôr em causa esta articulação em que a UBI tem um papel preponderante pela Faculdade de Medicina.
O problema só pode, pois, ser resolvido pela criação de uma Unidade Local de Saúde na Covilhã.
Não se trata de uma questão de bairrismo bacoco. Mas de ter em conta uma realidade já existente para não pôr em causa o sistema de formação dos futuros médicos pela Faculdade de Medicina da UBI.