Câmara em Directo
Carlos Pinto vaiado no Paul

Foi talvez o pior dia da vida política do presidente da Câmara da Covilhã. Carlos Pinto recebeu uma enorme contestação na freguesia do Paul chegando mesmo a ser injuriado pelos populares.

Por Eduardo Alves

Carlos Pinto foi apupado pelos populares

“Ladrão” e “inimigo” foram algumas das palavras utilizadas pelos populares do Paul para caracterizar o presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Carlos Pinto. O autarca social-democrata deslocou-se à freguesia do Paul com o intuito de levar a cabo mais uma “Câmara em Directo”. Contudo, a recente construção de seis depósitos de água junto à ribeira do Ourondinho despoletou a ira da população.
Depois de estar marcada para o edifício da junta de freguesia, a reunião acabou por decorrer na praça central da localidade. Foram vários os populares que mostraram o seu descontentamento através de cartazes e de palavras de ordem. Na confusão inicial, o autarca sentiu mesmo algum “aperto” perante tamanha mobilização popular. Foram várias as palavras e os insultos proferidos contra Carlos Pinto, mas também contra Domingos Beato, presidente da Junta de Freguesia do Paul.
Os motivos que despoletaram toda esta movimentação popular parecem estar ligados a questões de águas públicas. Segundo alguns populares, têm vindo a ser construídos, “sem conhecimento da população”, seis reservatórios de água, junto à ribeira do Ourondinho. Esta empreitada, da responsabilidade dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) da Covilhã tem como fim, “precaver as piores situações em tempos de seca”, adianta o autarca covilhanense. Ainda assim, esta “nobre” justificação não parece contar com o apoio dos habitantes do Paul.
Estes mostraram-se indignados por todo o processo ter sido tratado “nas costas do povo”, adianta Joaquim Miguel, natural da freguesia. Este mesmo refere que “os agricultores regam com a água da ribeira, em tempo de seca esta já é pouca, se vão cortar nas horas de rega, ficam sem nada”.
Todas as explicações oficiais que poderiam ter sido dadas em boas condições acabaram por ser proferidas por Carlos Pinto do alto de uma viatura. A entrada do veículo da junta de freguesia local, no meio da praça inundada de gente, levou mais de uma hora. Depois foi um espectáculo pouco digno de se assistir, com o autarca a tentar tirar explicações de improviso e os populares a vaiarem Pinto de forma ininterrupta.
Os ânimos só acalmaram quando o social-democrata garantiu que as obras iriam parar e a água da ribeira não iria ser desviada. Uma noite que rendeu muito pouco em termos de informação sobre a freguesia. Pinto tinha programado para o Paul o anúncio da construção do quartel dos bombeiros e de um anfiteatro. No final desta jornada negativa, registaram-se ainda algumas agressões entre os populares.




Barco muito mais calmo

Logo no início da passada semana, Carlos Pinto arrancou com mais uma “Câmara em Directo”, na freguesia do Barco. A Associação Regional de Solidariedade e Progresso do Alto Zêzere (ARPAZ) foi o palco escolhido por Pinto para se juntar aos populares. Quem aceitou o convite da autarquia e da junta de freguesia local foi Maria da Conceição Serra. Esta natural da freguesia tem no rosto as marcas de 68 anos passados no amanho da terra. Na noite em que trocou um dos mais empolgantes episódios da nova novela portuguesa pela “Câmara em Directo” na freguesia do Barco mostra-se incomodada com quase tudo.
Desde o cheiro a humidade no auditório da ARPAZ, onde se realiza o evento, até ao atraso de meia hora do presidente de câmara, o social-democrata Carlos Pinto, tudo é motivo para queixas por parte desta agricultora. Mesmo assim, o objectivo que trouxe aqui é forte e não a demove. Maria da Conceição quer exigir ao presidente um caminho rural mais “certo, sem tantos buracos” e “água limpa e sem cortes”. A máquina de lavar roupa acabou por se avariar na passada semana, quando faltou a água e a agora esta natural do Barco não tem outro remédio senão ir ao lavadouro público.
Jerónimo Barata, presidente da Junta de Freguesia do Barco apresenta uma outra visão do trabalho feito na terra. Segundo este político, “a autarquia investiu aqui muito dinheiro”. Numa terra onde ainda se percebe melhor o valor do Escudo do que do Euro, Barata fala em qualquer coisa como “30 mil contos”, para descrever o esforço financeiro feito pelo Barco.
Para além de todos estes melhoramentos, a câmara colocou ainda uma caixa Multibanco e aprovou o brasão da freguesia. Trabalhos que esperam continuidade, até porque, no entender do actual presidente de junta “ainda há aqui muito a fazer”.
Uma das surpresas da noite foi a presença de José Joaquim Antunes, responsável pela Segurança Social a nível do distrito de Castelo Branco. O socialista, recentemente indigitado, não se coibiu em aparecer com o social-democrata nesta acção camarária, na qual foi atribuído à ARPAZ um subsídio de 5 mil euros.