António Fidalgo
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Contas e Crise
na AAUBI
Não é de agora
a crise na Associação de Alunos da UBI.
A segunda demissão do Presidente da AAUBI no espaço
de um ano é com certeza um acto pessoal lamentável
e reprovável, mas essa demissão deve ser
vista também e sobretudo como consequência
e sinal de um estado de coisas e de espírito preocupante
e inaceitável. É de recordar que há
dois anos não surgiu nenhuma lista a concorrer
à eleição para os órgãos
da AAUBI. Lembro palavras então escritas aqui neste
mesmo espaço: “Os estudantes estão
adormecidos. Não só eles, é verdade.
Há como que uma letargia em toda a sociedade, onde
cada um apenas olha para o seu umbigo. Mas quando são
os próprios jovens a alhearem-se completamente
dos assuntos que lhes dizem respeito, então a situação
é grave.”
O buraco das contas da AAUBI é preocupante, mas
muitíssimo mais preocupante e inaceitável
é o modo como se chega a esse buraco. São
as festas da Semana Académica, as despesas com
transportes e telemóveis, entre outros gastos,
que levaram à actual crise financeira, conforme
análise do próprio Conselho Fiscal da AAUBI.
Que uma associação de estudantes universitários
não deve ser uma comissão de festas é
algo de que ninguém discordará. As associações
de estudantes são elemento fundamental na vida
de uma academia e mesmo no seu governo. Convém
lembrar que o Presidente da AAUBI tem assento nos órgãos
administrativos da própria UBI e dos Serviços
de Acção Social. Pede-se espírito
de responsabilidade aos estudantes e aos seus eleitos.
É preciso repetir sempre que “uma universidade
não são apenas as aulas, mas muito mais
que isso, nomeadamente o empenho na vida da academia,
a participação plena de uma cidadania activa,
o combate pela política, pela cultura, pela ciência,
pelo saber.” Os estudantes têm de se empenhar,
têm de se comprometer, com a vida da universidade
e da sua própria associação. Por
uma questão de respeito para consigo próprios.
E isso significa, em particular nos dias que correm de
dificuldades orçamentais graves para Portugal,
que devem saber gerir os seus dinheiros, não gastar
mais do que o que têm, e muito menos em concertos
e farras de semanas académicas, que de académicas
nada têm.
Mas fica a esperança de que outros dias virão,
de que os estudantes da UBI se preocuparão e se
comprometerão com a sua Associação
e que honrarão a exigência, a cultura e o
saber. A citação do poema de Mia Couto no
final do parecer do Conselho Fiscal da AAUBI, da necessidade
de descalçar os sapatos sujos, nomeadamente a ideia
de que o sucesso não nasce do trabalho, a vergonha
de ser pobre e o culto das aparências e a passividade
perante a injustiça, é razão para
alimentar essa esperança.
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