José Geraldes

Malefícios e benefícios da música ambiente


A chamada música ambiente está, hoje, por todo o lado. Mesmo a mercearia de aldeia não escapa aos sons da televisão ou da rádio.
Nos cafés, nos restaurantes, nos bares, nas salas de espera, nos elevadores, no metro, nos autocarros, a presença da música ambiente é considerada imprescindível.
Chegado o Verão, as esplanadas e as praias fazem também parte do circuito desta música. Trata-se, na verdade, de um elemento cultural da actualidade.
E tão importante que a Comunicação Social começa a dar-lhe atenção. A revista Grande Reportagem dedicou –lhe, há tempos, várias páginas que nos inspiraram a escrever sobre o assunto.
Longe vão os tempos em que os cafés eram locais de estudo e de leitura tranquila. Agora nem a música ambiente permite que se converse se o som está demasiado alto.
O argumento de ter a música ambiente funda-se na frase de que as pessoas gostam. Então dá-se o que agrada. O objectivo é manter nos clientes o consumo.
E, depois, não há outros ruídos persistentes? Temos os automóveis que fazem barulho, máquinas de todo tipo de ruído ensurdecedor e os telemóveis a tocar quando menos se espera. Até nas igrejas onde o silêncio é sagrado.
Sondagens indicam que há um terço das pessoas que gostam e um terço que não gostam, dizendo-se as restantes indiferentes. Mas as que não gostam apresentam-se mais contestatárias.
O fenómeno verifica-se em todo o mundo. Também neste ponto a globalização dita as suas ordens.
O comércio invadiu esta área do ruído. Há empresas que fornecem já pacotes conforme as necessidades da clientela.
A música ambiente vende-se em tal quantidade que, nos Estados Unidos, se constituíram verdadeiros conglomerados. E confirma-se que o negócio tem futuro assegurado.
Se há os defensores da música ambiente, um movimento de protesto já se fez notar. O movimento conta com personalidades mediáticas e músicos de nomeada.
No Parlamento britânico, foi proposta legislação conducente a evitar que este tipo de música possa interferir com direitos de outros. No caso concreto, os surdos e os mudos. Com a música muito alta, estas pessoas podem não ouvir os ruídos pelos quais se orientam. E assim perderem-se, o que já aconteceu em centros comerciais.
Para obviar aos contratempos que possam surgir e, como a necessidade aguça o engenho, um dispositivo já se vende no mercado que pode, com a técnica dos infra-vermelhos, desligar os aparelhos de música ambiente.
A vitória dos opositores a este tipo de música ganha pontos. E dá estímulos para continuar a luta.
Mas os malefícios da música ambiente e os seus benefícios perfilam-se lado a lado.
Os efeitos negativos sobre a saúde estão confirmados: aumento da pressão arterial, alterações do sono, enfraquecimento do sistema imunitário.
Do lado dos benefícios, aduz-se que certo tipo de música ambiente pode diminuir actos de vandalismo. Numa estação de comboios, a música de Mozart terá tido este efeito. Verdade? Peritos comprovam. Mas a dúvida persiste.
Mas para o bem ou para o mal, a música ambiente rodeia-nos, goste-se ou não. Mas só se pede que o som não esteja muito alto. Pois o ruído também é uma poluição. E que poluição! À atenção dos ambientalistas.