João Canavilhas
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Interesses
Como já é habitual,
sindicatos e Governo fazem diferentes leituras dos números
relativos à greve dos professores. Enquanto os
primeiros consideram que a greve está a ser um
enorme sucesso, o ministério fala numa adesão
pouco significativa. Independentemente dos números,
há uma certeza que fica: esta greve prejudica fortemente
a imagem dos professores, uma classe que deveria estar
acima das guerrilhas políticas.
Para a opinião pública, a questão
que se coloca é muito simples: qual deve ser a
primeira preocupação dos educadores: os
seus interesses pessoais ou os interesses dos seus alunos?
Com a questão posta nestes moldes, é óbvio
que os sindicatos perderam a guerra da opinião
pública.
Inteligentemente, o Ministério da Educação
falou sempre em “greve aos exames”, colocando
a tónica no prejuízo causado aos alunos.
As associações de pais, como é óbvio,
afinaram pelo mesmo diapasão, deixando os sindicatos
num beco sem saída.
Ao invés de repensarem a estratégia, os
sindicatos deixaram-se enrolar na estratégia governamental,
manifestando publicamente a sua satisfação
pelo sucesso desta actividade: foi, segundo dizem, a maior
greve dos últimos 15 anos.
O problema é que este sucesso sindical é
insignificante face aos danos que a greve está
a causar à imagem dos professores, uma classe que
surge ainda entre as mais conceituadas pela opinião
pública.
Não é preciso ser estudante do 12º
ano, ou ter um filho a fazer exames, para se perceber
a importância deste momento. É o culminar
de 12 anos de estudo, um momento determinante para quem
pretende prosseguir os seus estudos e, por isso mesmo,
um dos períodos mais tensos na vida dos estudantes.
Por isso, marcar uma greve para os dias de exames é
um acto inqualificável, uma forma de pressão
que apenas prejudica a parte mais fraca do sistema: os
estudantes.
O efeito perverso desta greve é o facto da atitude
de alguns professores afectar a imagem de todos os docentes
do ensino secundário. Por isso nunca é demais
sublinhar que, apesar das medidas governamentais afectarem
a totalidade dos docentes, muitos foram os que colocaram
os interesses dos seus alunos em primeiro lugar, assegurando
a realização das provas. Para estes vai
o meu aplauso e reconhecimento.
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