José Geraldes
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Ética da medicina e as amoras de Eugénio
de Andrade
Na linguagem da ética
da medicina, é frequente ouvir-se e usar-se a expressão
"consentimento informado". Hoje fala-se muito
desta realidade não só entre os profissionais
de saúde mas também nas comissões
de ética e conversas de rua, para além de
congressos e jornadas de bioética. E é um
assunto que interessa a todos nós.
Que significa a expressão? Trata-se da concordância
livre e esclarecida de um doente a qualquer acto médico
que lhe diga respeito. 0 acto tanto pode referir-se a
um exame para diagnóstico, medicamentos a tomar
ou ensaio clínico.
Este "consentimento" é exigido, de forma
clara, por documentos emanados de reuniões internacionais
como a Declaração de Helsínquia revista
em Edimburgo, no ano 2000, e a Convenção
sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina assinada em
Oviedo em Abril de 1997.
A norma do consentimento informado é taxativa neste
último documento. Diz o artigo 5°: "Qualquer
intervenção no domínio da saúde
só pode ser efectuada após ter sido prestado
pela pessoa em causa o seu consentimento livre e esclarecido".
0 Código de Deontologia Médica italiano
vai ao ponto de concretizar que o dever de informar o
paciente e respectiva obtenção do consentimento
no acto médico, são os fundamentos de uma
nova relação médico-paciente que
se baseie, precisamente, no princípio de dignidade
igual e de auto-determinação.
Assim há atitudes de comportamento a respeitar
que salvaguardam a autonomia do médico e do doente.
A ética está na base de toda a relação
médico-doente. Exigem-se ao médico elementos
de psicologia suficientes para saber dar as informações
no momento próprio. E com cuidado caso possam causar
preocupação e sofrimento especiais ao doente.
A terminologia não pode ser traumatizante e sempre
apta a deixar uma réstia de esperança embora
a cura se afigure difícil.
Isto não significa que o médico deixe de
dar informações verdadeiras e completas.
A limitação aqui reside, apenas, no - que
se chama competência. Ou seja, os elementos a comunicar
devem ter em conta a cultura e a condição
psicológica do doente, sem recurso a concretizações
de dados científicos do tratamento. E a pormenores
escusados.
Em 1980, escreveu : "Pela manhã de Junho é
que eu iria/ / pela última vez./ iria sem saber
onde a estrada leva / E foi em Junho que partiu. Do "meu
país" que "sabe a amoras bravas no verão".
Do país que tem "esta voz doce / de quem acorda
cedo para cantar nas silvas". E onde "também
o céu é azul".
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