Não é
um cenário habitual. Na passada quinta-feira as
ruas da Covilhã voltaram a ouvir soar o realejo
de um amolador, toque usado para fazer notar a sua presença.
E apesar de a profissão ser cada vez menos comum,
parece que a necessidade dos clientes permanece, pois
o serviço foi aparecendo de todo o lado.
Foi assim também na Rua Direita. À passagem
de Luís Silva, que circula com a velha bicicleta
verde à mão e vai tocando o realejo, vão
aparecendo interessados nos seus serviços, e não
são poucos. Vêm sobretudo com tesouras e
todos os tipos de facas para afiar. “Há muito
tempo que não aparecia nenhum por cá e já
quase não existem. Assim é mais cómodo
e nós acabamos por nem nos lembramos de ir às
lojas fazer isto”, diz António Coelho, do
restaurante Trovador, que aproveitou para afiar algumas
facas.
Na hora de pagar pelo serviço de seis peças
entrega nove euros e é durante a curta conversa
que chega a surpresa. Luís Silva, de 29 anos e
amolador desde sempre, como o resto da família,
nem é da região. Veio de Almada e com dois
irmãos está a percorrer o País, um
dia em cada localidade. Um dos familiares foi para o Fundão
e ao final da tarde partem para a Guarda. Ele ficou pela
Covilhã, uma cidade “com muitas rampas”,
mas está a gostar porque trabalho não tem
faltado.
Recebe mais uma tesoura, que tem de afiar, lixar, pôr
óleo, e volta a parar a bicicleta de montanha,
que transporta à mão pelas ruas. Desce a
base triangular de ferro que vai fazê-la ficar fixa
e sem sair do lugar, coloca a corrente de cabedal na roleta
junto à roda de trás, para fazer rodar a
pedra de esmeril enquanto pedala e começa a trabalhar.
O resto do equipamento auxiliar, como os alicates ou o
óleo, viajam numa caixa de madeira por trás
da roda traseira.
“Nós temos a vantagem de ir ao encontro das
pessoas e elas sentem a falta destas profissões”,
sublinha Luís Silva. Razões para o facto
de ser uma profissão cada vez menos comum, não
adianta, mas vai alertando para o facto de não
ser fácil e dar algum trabalho. “De andar
pelas ruas e de tanto pedalar quando estou a trabalhar
por vezes chego ao fim do dia com as pernas doridas. Não
é fácil”. “E não é
tudo lucro, porque é preciso comprar uma pedra
nova todos os meses que custa 90 euros, para além
da gasolina para nos deslocarmos”, acrescenta. Leva
entre um e meio, dois, três euros, dependendo do
serviço que for, e dá para tirar uma média
de 30 euros de lucro por dia. Quanto a panelas, diz que
já é raro arranjar, porque actualmente quando
estão furadas as pessoas preferem comprar uma nova.
Nos próximos dias a viagem deste amolador dos tempos
modernos, que vai de terra em terra de furgoneta, vai
prosseguir até ao Interior Norte, para voltar a
descer pelo Litoral até casa. Uma forma de aproveitar
em cada sítio a notória falta de concorrência.
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