A má prescrição e uma utilização abusiva estão na base da venda acentuada de antibióticos diz a tese de mestrado

Mestrado em Imunologia Clínica
O abuso dos fármacos

Numa altura em que Portugal é apontado como um dos principais consumidores de medicamentos surge um estudo inédito nesta área. Perceber e mudar mentalidades entre a prescrição de medicamentos é um dos principais objectivos deste trabalho.


Por Eduardo Alves


Olhar para os antibióticos como solução para qualquer patologia “é um mal, também ele, clínico e constante”, afirma Cristina Rosa Martins Pissarra. Autora de uma dissertação de mestrado apresentada na UBI com o título “Diversidade e Clonalidade de Streptococcus pneumoniae de Origem Não Invasiva”, esta investigadora é a primeira a assumir que entre a classe médica “existem alguns excessos”.
Portugal encontra-se assim nos lugares cimeiros da tabela de países “onde se receitam demasiados antibióticos e de forma errada”. Desde a informação médica, passando pela utilização de canais menos próprios e terminando numa certa rotina pessoal, “os medicamentos são ministrados, em muitos casos, sem que o seu fundamento seja respeitado”, adianta Cristina Pissarra. Durante o estudo de dados e de casos concretos para aplicação na sua tese, esta professora de Biologia apurou que “muitas das vezes, nem é o facto de se estarem a receitar medicamentos em demasia ou não”, o que não está correcto, diz a mesma “é a forma e a finalidade para que esses fármacos são receitados”. No caso dos antibióticos, mais precisamente, no campo dos não invasivos, “por vezes não se receita um só medicamento, na sua dosagem correcta”, mas sim, “vários outros antibióticos e fármacos em aplicações e dosagens menos certas”.
Para solucionar toda esta questão, a autora do estudo aponta para uma reformulação e reciclagem de alguns procedimentos médicos, assim como, “uma maior e melhor divulgação por parte dos laboratórios”.
Esta tese mereceu a aprovação por parte de um júri constituído por José Gabriel Saraiva da Cunha, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Maria Manuela Marin Caniça, investigadora principal do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e Luís Manuel Taborda Barata, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior.