José Geraldes
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Condução
na estrada: educação ou repressão?
Nunca é demais
o que se fizer pela segurança nas estradas. O cortejo
de mortes e vítimas de todas as idades que ficam
inutilizadas para sempre interpelam a sociedade para que
o tema da prevenção rodoviária seja
permanente. Por isso, a Presidência Aberta sobre
a sinistralidade de iniciativa do Presidente da República
é oportuna.
Aliás, anote-se que, em França, os acidentes
da estrada começaram a diminuir depois de o presidente
Chirac ter abraçado a causa com intervenções
públicas. A função de influência
presidencial na opinião pública tem as suas
virtualidades .
Dados já divulgados mostram o muito desleixo e
a muita incúria que existe quer da parte dos cidadãos,
quer da parte de organismos que têm relação
com a segurança nas estradas. A entrada em vigor
do novo Código ainda não modificou os comportamentos
dos portugueses ao volante, já que este instrumento
legal está muito centrado só no aumento
das multas. A parte pedagógica quase não
figura no seu articulado.
À Presidência Aberta cabe já o mérito
de transformar este problema na agenda mediática
para que os condutores tomem consciência da gravidade
da situação. E Jorge Sampaio ao ser interrogado
sobre o que esperava da iniciativa, desabafou a convicção
de que se trata de uma campanha a ser levada a cabo todos
os dias. Está cheio de razão.
Ao vermos os factos e números relacionados com
a sinistralidade, a expressão tantas vezes usada
de verdadeira “guerra civil” impõe-se
obrigatoriamente.
Mais de 30 por cento das vítimas-condutoras revelam
uma taxa de álcool elevada. Quase metade dos condutores
mortos em 2004 em acidentes de viação tinha
excesso de álcool no sangue.
E que dizer de condutores que irresponsavelmente circulam
sem o seguro automóvel obrigatório? As últimas
estatísticas apontam para 75 mil. Mas presume-se
que andem pelos 100 mil.
Sabe-se que o parque automóvel português
é velho, apesar de nas nossas estradas se ver um
grande número de carros de topo de gama que não
se vislumbram nos países mais ricos da União
Europeia. Mais de 150 mil automóveis fogem anualmente
às inspecções periódicas ou
seja a partir do quarto ano de posse do carro. Estes automóveis
constituem um perigo permanente na estrada por falta de
mautenção.
Outra realidade observada diz respeito ao ensino da condução
que precisa de ser actualizado. Os lóbis desta
área são fortes ( atenção,
engenheiro Sócrates a estes grupos de pressão).
Porquê fazer os exames de condução
em cinco circuitos previamente estabelecidos? E a corrupção
que grassa neste meio fragiliza mais a transparência
e a honestidade que devia presidir nas decisões.
Jorge Sampaio apelou para a mobilização
das famílias e das escolas, facto recorrente, mas
que retoma nova força por ser palavra do Presidente
da República.
Será que o civismo dos portugueses mudará?
Muitos acidentes e falsas manobras resultam da falta do
mínimo de educação que qualquer ser
humano deveria ter.
Como é que os pais educam os seus filhos se nem
sequer lhes ensinam as boas maneiras de estar à
mesa, do respeito pelos outros, pelos professores e pala
autoridade constituída? Depois, em adolescentes
e adultos como queremos que respeitem as regras de conduzir?
Aos meninos tudo se permite para não serem “traumatizados”!
Comece a família de braço dado com a escola
a educação para o civismo em toda a vida
que é o que este País bem precisa. A condução
na estrada beneficiará naturalmente. Só
repressão, se bem que necessária, não
chega.
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