Pode aos olhos do comum
cidadão parecer mais uma obra literária,
mais um estudo, mais um simples gesto feito em prol do
comum. Mas as doações, a passagem do que
é particular para o domínio de instituições
“é uma das bases de apoio de um museu”,
afirma a responsável pelo Museu de Lanifícios
da UBI. Elisa Pinheiro falava sobre a mais recente doação
feita ao Museu dos Lanifícios. Trata-se da obra
literária intitulada “A Indústria
de Lanifícios no Fundão”, cujo autor
é José Torquato Salvado Travassos. Este
cidadão natural do Fundão cedeu todos os
direitos da sua obra à instituição
sedeada na Universidade da Beira Interior.
Um gesto que tem como objectivo ajudar uma obra comum
e preservar o que faz parte da cultura de um povo. Esta
cedência abrange os direitos de autor e de edição
da obra que retrata a indústria de lanifícios
naquela cidade da Beira Baixa. Outro dos pontos ainda
referidos por José Torquato Salvado Travassos prende-se
com a doação de 93 exemplares impressos
do seu livro, num valor aproximado de 500 euros. A partir
de agora, todos os dividendos editoriais do livro passam
a rever para o Museu de Lanifícios.
Maria Julieta Mosaco encontrou
no Museu dos Laníficios uma forma de preservar
a memória da sua família
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“Preservar uma memória de família
e de todos”
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Com 95 anos Maria Julieta Mosaco Alçada de Almeida
Ribeiro ainda preserva uma memória impressionante.
Agora, à distância de quase um século
vê nascer, de novo, o único gerador hidráulico
do País, da marca De Nayer.
Este monstro de ferro, constituído por um complexo
emaranhado de tubos e fornalhas, encimado por uma enorme
caldeira que mais o assemelha a uma locomotiva antiga
serviu de gerador para a fábrica Alçada.
Há 90 anos “era capaz de dar luz a toda a
cidade da Covilhã”. Hoje, mora no novo pólo
do Museu de Lanifícios. Maria Julieta esboçou
um enorme sorriso ao ver a peça de família
que doou ao museu, “completamente restaurada, como
nova”. As memórias avivaram-se, o barulho
produzido pela enorme máquina “quase que
se tornou realidade”, e a até então
proprietária soube o porquê desta oferta.
A passagem de testemunho “é uma homenagem
que faço ao meu pai”. Maria Julieta sabe
agora “que esta deveria ser também a sua
vontade, uma vontade que vai ficar patente a todos quantos
visitem este lugar e conheçam o que as pessoas
da Covilhã conseguiram fazer dos têxteis
e pelos têxteis”.
Esta peça, segundo Elisa Pinheiro, “é
única na Europa”. Embora existam semelhantes
caldeiras, quer da marca De Nayer, quer de outras concorrentes,
“não há registo de uma peça
igual a esta estar assim tão bem conservada e operacional”.
O Museu de Lanifícios, que abre agora portas de
um novo núcleo obteve em pouco tempo várias
doações, os responsáveis agradecem
de viva voz e esperam que outras também cheguem.
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