Por Eduardo Alves


A caldeira De Nayer é uma peça única em Portugal

Pode aos olhos do comum cidadão parecer mais uma obra literária, mais um estudo, mais um simples gesto feito em prol do comum. Mas as doações, a passagem do que é particular para o domínio de instituições “é uma das bases de apoio de um museu”, afirma a responsável pelo Museu de Lanifícios da UBI. Elisa Pinheiro falava sobre a mais recente doação feita ao Museu dos Lanifícios. Trata-se da obra literária intitulada “A Indústria de Lanifícios no Fundão”, cujo autor é José Torquato Salvado Travassos. Este cidadão natural do Fundão cedeu todos os direitos da sua obra à instituição sedeada na Universidade da Beira Interior.
Um gesto que tem como objectivo ajudar uma obra comum e preservar o que faz parte da cultura de um povo. Esta cedência abrange os direitos de autor e de edição da obra que retrata a indústria de lanifícios naquela cidade da Beira Baixa. Outro dos pontos ainda referidos por José Torquato Salvado Travassos prende-se com a doação de 93 exemplares impressos do seu livro, num valor aproximado de 500 euros. A partir de agora, todos os dividendos editoriais do livro passam a rever para o Museu de Lanifícios.




“Preservar uma memória de família e de todos”

Com 95 anos Maria Julieta Mosaco Alçada de Almeida Ribeiro ainda preserva uma memória impressionante. Agora, à distância de quase um século vê nascer, de novo, o único gerador hidráulico do País, da marca De Nayer.
Este monstro de ferro, constituído por um complexo emaranhado de tubos e fornalhas, encimado por uma enorme caldeira que mais o assemelha a uma locomotiva antiga serviu de gerador para a fábrica Alçada.
Há 90 anos “era capaz de dar luz a toda a cidade da Covilhã”. Hoje, mora no novo pólo do Museu de Lanifícios. Maria Julieta esboçou um enorme sorriso ao ver a peça de família que doou ao museu, “completamente restaurada, como nova”. As memórias avivaram-se, o barulho produzido pela enorme máquina “quase que se tornou realidade”, e a até então proprietária soube o porquê desta oferta. A passagem de testemunho “é uma homenagem que faço ao meu pai”. Maria Julieta sabe agora “que esta deveria ser também a sua vontade, uma vontade que vai ficar patente a todos quantos visitem este lugar e conheçam o que as pessoas da Covilhã conseguiram fazer dos têxteis e pelos têxteis”.
Esta peça, segundo Elisa Pinheiro, “é única na Europa”. Embora existam semelhantes caldeiras, quer da marca De Nayer, quer de outras concorrentes, “não há registo de uma peça igual a esta estar assim tão bem conservada e operacional”. O Museu de Lanifícios, que abre agora portas de um novo núcleo obteve em pouco tempo várias doações, os responsáveis agradecem de viva voz e esperam que outras também cheguem.