António Fidalgo
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As fábricas,
o arquitecto e a UBI
Com a inauguração
em 30 de Abril, no décimo nono aniversário
da UBI, do Eco-Museu de Lanifícios no Edifício
da Real Fábrica Veiga repetiu-se novamente a recuperação
de uma antiga fábrica têxtil num edifício
da UBI. As fábricas de outrora converteram-se em
faculdades agora; onde reinou a azáfama fabril
durante largas décadas ou mesmo séculos
reina agora o ritmo do estudo e da investigação.
Os 30 anos de ensino superior na Covilhã, primeiro
com o Instituto Politécnico da Covilhã (1975-1979),
depois com o Instituto Universitário da Beira Interior
(1979-1986) e agora com a UBI, são os anos da transformação
das ruínas fabris em edifícios universitários,
de salas de aula, de anfiteatros, laboratórios
e gabinetes.
O Pólo I da UBI, o da Degoldra, é caso exemplar
e notável como do velho se fez novo, como se insuflou
vida e arte em ruínas fabris. Na recuperação
das antigas fábricas, na sua conversão académica
teve papel determinante o Arquitecto Bartolomeu Costa
Cabral. Cabe-lhe o mérito de, respeitando o espírito
do local forjado pelas fábricas desde o século
XVIII, nomeadamente os patamares e em especial a sapata
em que assenta o edifício da Real Fábrica
dos Panos, ter conjugado com verdadeira felicidade as
condições dos edifícios existentes
e as necessidades de uma moderna instituição
universitária.
A UBI aproveitou a celebração dos 30 anos
de ensino superior para editar um belo volume dedicado
à obra de Bartolomeu Costa Cabral sobre a cidade
da Covilhã e a UBI, justamente intitulado A Universidade
e a Cidade. O livro de 287 páginas com fotografias
de Catarina Costa Cabral, textos de Santos Silva, o reitor
da UBI, Nuno Teotónio Pereira, Madalena Cunha Matos,
e design do Atelier de Henrique Cayatte, além de
assinalar dignamente os 30 anos da intervenção
arquitectónica da UBI na Covilhã, constitui
um documento precioso para conhecer e perceber os espaços
da UBI.
Pela fotografia, graças aos ângulos da câmara,
aos planos visados, à luz captada num momento propício
do dia, obtém-se uma noção nova dos
espaços em que nos movemos no dia a dia de aulas
e de vida académica. A mediação fotográfica
oferece-nos a distância que a proximidade da vivência
e da circulação quotidianas torna impossível.
Algumas fotografias de espaços bem conhecidos causam-nos
mesmo estranheza, espanto e admiração. É
mesmo aquele o corredor onde tantas vezes passamos, são
mesmo aquelas as escadas que tantas vezes subimos e descemos?
Sim, são eles mesmos, mas purificados, pela câmara,
da habituação em que os envolvemos. E depois,
quantos e quantos pormenores de arquitectura nos são
presentes que passam despercebidos a olho nu.
É uma mais valia significativa da UBI ter as instalações
que tem. As velhas fábricas recuperadas conservam
memórias, oferecem a identidade e a dignidade de
uma cidade que viveu dos e para os lanifícios.
Os edifícios de uma universidade, como aliás
quaisquer edifícios, não são apenas
de natureza instrumental, mas são eles mesmos elemento
crucial da identidade da instituição que
albergam. Os edifícios fabris, recuperados pela
UBI nos 30 anos que passaram, são o ressurgimento
de uma cidade que sofreu a grave crise industrial das
décadas de 70 e 80 e são também um
bom sinal de um país secular que brotou para uma
nova era em Abril de 74.
A obra arquitectónica realizada nas antigas fábricas
justificará mesmo um neologismo aplicado às
faculdades da UBI: as fabriculdades ou fábricas
do saber. As civilizações e as culturas
também se reconhecem no modo como vão alterando
o aproveitamento de antigos edifícios. Os antigos
conventos tornaram-se liceus e quartéis no século
XIX com a afirmação do Estado social, a
sociedade do conhecimento concretiza-se aqui na Covilhã,
no início do século XXI, na transformação
de fábricas em uma universidade. Há um espírito
que caracterizou a época industrial e que é
também imperioso para uma universidade de qualidade:
a junção da iniciativa dos empresários
e do trabalho contínuo dos operários. O
empreendorismo é cada mais uma exigência
indispensável de quem procura e tem no conhecimento,
na sua criação, obtenção e
difusão, a maior riqueza.
Pelo 19º aniversário os parabéns à
UBI, pela obra realizada os agradecimentos ao Arq. Costa
Cabral, e o desejo de bom trabalho e de felicidades a
todos os que convivem, que trabalham, estudam e investigam,
nas ex-fábricas, agora faculdades.
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