João Correia
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A UBI e o futuro
da Covilhã
Há coincidências
que podem ser o mote de um artigo de opinião. O
30 de Abril (Aniversário da UB) e o 1º de
Maio (Dia do Trabalhador) sucedem-se no calendário.
Isto, na Covilhã, significa muito.
O Primeiro de Maio é uma data que vem da revolução
industrial. Está ligada às lutas sociais
pelos direitos dos trabalhadores no tempo das indústrias
pesadas. Na Covilhã, nesse tempo que expirou mais
ou menos no início da década de 80 do século
passado, não se conseguia falar na rua por causa
do barulho dos teares (não era em todas as ruas
mas, em algumas, era mesmo assim). Os operários
têxteis (alguns milhares entre tecelões,
tintureiros, debuxadores e outras profissões mais
ou menos especializadas que hoje laboram em condições
muito diferentes) participavam num conjunto de festividades
que assinalavam a conquista de regalias sociais ou, então,
manifestavam-se para protestarem contra a ausência
de outras.
A UBI, que comemorou o seu aniversário, é
uma realidade do final do primeiro milénio. Está
ligada à terciarização da sociedade.
Apesar de originalmente estar ligada à produção
de quadros para a indústria têxtil, tornou-se
uma Universidade plural e completa. Está também
ligada às Novas Tecnologias, às Artes e
às Letras, à Medicina e às Ciências
Sociais.
A UBI é talvez o símbolo que, na Covilhã,
assinala melhor alguns traços do segundo milénio:
o acesso à sociedade da informação
e do conhecimento e o desenvolvimento das novas tecnologias.
Muitos destes saberes têm hoje aplicação
na indústria, mesmo naquela indústria tradicional
que se orienta por novas condições de gestão
e de produção e que, felizmente, também
ainda tem alguns exemplos na Covilhã.
Nesse sentido, a UBI é uma ponte entre o passado
– bem representado pelo magnífico Museu Têxtil
– e o futuro, ainda cheio de incertezas e de inseguranças,
mas para o qual é a única instituição
covilhanense vocacionada para estudar e propor soluções
planeadas.
Sabemos todos que muitos dos problemas sociais (como o
desemprego e a desigualdade) não terminaram com
a decadência das sociedades industriais e dos sectores
tradicionais que lhe estavam associados. É provável
que a resposta possível passe também pela
busca de novos modelos de desenvolvimento em que o capital
tecnológico, a informação e a comunicação
rápidas, o conhecimento e a capacidade de inovar
se tornam impossíveis de ignorar.
A Covilhã Industrial e a Covilhã Universitária,
a do passado (que se deve honrar) e a do futuro (que é
preciso construir) devem andar de mãos dadas. O
símbolo dessa relação devia traduzir-se
num acolhimento activo da Universidade pela cidade. A
política da autarquia deveria ser a expressão
desta união.
Infelizmente, nem sempre a Covilhã velha compreende
a Covilhã Nova. Há empregadores na Covilhã
que desprezam os Licenciados da UBI, os mesmos que são
aceites em empresas de maior dimensão e sabedoria
estratégica. A Covilhã está habituada
a isso. Há um velho ditado que dizia que a cidade
era madrasta para os da terra. Alguns dos responsáveis
da Covilhã Nova ainda transportam uma incapacidade
para se adaptarem ao presente e o futuro. Para além
das rotundas: a Covilhã merece uma estratégia
de modernização e afirmação
no contexto da Região. Desde a qualidade de vida
que proporciona
às populações e a capacidade de atracção
e fixação de quadros à análise
das questões do crescimento urbano. Para além
das rotundas, há mais mundo.
PS: Na hora em que escrevia este
texto, um incêndio na parte velha da cidade lembra
a necessidade de ser urgente promover uma recuperação
daquela zona. Além da qualidade de vida dos que
aí moram, há estratégias de animação
da vida da cidade que mereciam ser pensadas. De preferência,
antes das chamas.
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