Urbi et Orbi
- De que forma se tem trabalhado para que a biblioteca
seja um ponto de referência para docentes, alunos
e comunidade em geral?
Joana Dias - Esse trabalho tem evoluído
de várias formas. Por um lado, foram criados vários
objectivos, cujas metas têm de ser alcançadas.
Por outro lado, trabalhamos na base das sugestões
que nos chegam através de alunos e docentes. Para
que todos esses objectivos possam ser alcançados
há muitas pessoas envolvidas. Costumo dizer que
há muito trabalho feito neste piso escondido (menos
2) que permite que as coisas lá em cima funcionem.
A nossa função passa, essencialmente, por
melhorar os serviços e responder às necessidades
de quem aqui vem.
U@O - Quais são as áreas em que
mais se tem investido?
J. D. - Sem qualquer sombra de dúvida,
tem-se investido em novos livros. Apostamos também
em coisas diferentes, como a formação dos
utilizadores de software e outros.
Iniciativas que dão muito trabalho, porque estamos
a enfrentar rotinas e para mudá-las, temos de introduzir
novas funções. Neste momento estamos a preparar
o novo software para que todos os serviços bibliotecários
fiquem informatizados. Esta aposta requer um trabalho
de base bastante demorado e continuado.
U@O - Há ainda muitas lacunas no que diz
respeito à informática. Comparando com outras
universidades o software existente deixa muito a desejar.
Para quando uma biblioteca, com os seus serviços
totalmente informatizados e com os seus conteúdos
disponíveis on-line?
J. D. - Essa é uma situação
que vai ter novidades, vai ficar desbloqueada dentro de
dois ou três meses. Até agora existiu um
conjunto enorme de situações que têm
vindo a adiar a implementação de um programa
informático nas operações bibliotecárias
da UBI. Está a ser preparado um software específico,
mas que agora, por ter ficado centralizado numa só
pessoa, ainda não está concluído
e pronto a funcionar.
"Estamos a enfrentar
rotinas e para mudá-las, temos de introduzir
novas funções"
|
"Sem qualquer sombra de dúvida, tem-se
investido em novos livros"
|
U@O - Mas ao que é que vamos assistir,
em concreto?
J. D. - Vamos passar uma fase muito complicada.
Isto porque, o novo sistema de requisição
de livros vai ser feito através de um código
de barras que será colocado em todos os livros.
Neste momento existem livros que já têm esse
código, outros ainda não. Daí que
vá existir uma fase em que vão estar os
dois processos de requisição e consulta
de livros, a funcionar em simultâneo. Vai ser complicado
e, sobretudo, vai ser precisa paciência dos dois
lados, tanto dos bibliotecários, como dos utilizadores
deste espaço. Relativamente à utilização
do software, vamos disponibilizar aulas de formação
para que os alunos possam aprender a retirar todo o potencial
do próprio programa.
U@O - Em várias bibliotecas universitárias
portuguesas e não só os alunos têm
já a possibilidade de aceder a publicações
on-line ou então requisitarem os títulos
que desejam através da Internet. A Biblioteca da
UBI está a pensar em adoptar também este
tipo de sistema?
J. D. - Este novo sistema vai dotar os utilizadores
de um cartão ao qual está associada uma
password própria para entrar nos nossos serviços.
Uma vez dentro do sistema, os alunos vão poder
pesquisar os títulos existentes, ver sua disponibilidade,
requisitá-los e renovar essa mesma requisição.
Para além da normal consulta de artigos e revistas
on-line. Este programa vai tornar o processo de requisição
mais simples e eficaz. Os responsáveis podem saber
os livros que estão requisitados, tal como os alunos,
mas também, ver se para um determinado título
existe uma lista de espera grande ou não. Outra
das grandes vantagens deste mesmo programa é ter
a possibilidade de penalizar os utilizadores que mais
ultrapassam o tempo de requisição permitido
para os livros. Sempre que este é excedido, o aluno
é penalizado e alertado de imediato.
U@O - O livro de reclamações é
muito utilizado ou nem por isso?
J. D. - Existem queixas de todos os tipos e “para
todos os gostos”. Lembro-me que a última
reclamação escrita no livro para o efeito
é de um aluno de mestrado, a quem os funcionários
da biblioteca pediram para devolver um livro com 20 dias
de atraso e ele não gostou.
"Existem queixas de todos os tipos e “para
todos os gostos" |
"Este programa vai tornar o processo de requisição
mais simples e eficaz" |
U@O - Qual a reclamação ou sugestão
que mais se repete?
J. D. - Nomeadamente duas. Por um lado, o utilizador
tem uma ideia que é a seguinte, paga propinas logo
quer, pode e manda. Mas, o pagar propinas não descompromete
ninguém das suas obrigações.
Nas sugestões temos o problema do barulho. Esse
é um ponto que parece ser consensual. Diz-se muito
que se deve reduzir o barulho. Eu penso que o barulho
na biblioteca já foi pior. Não se deve esquecer
aqui um factor muito importante que é o da educação
cívica. As pessoas começam agora a entender
o que é e para que é aquele espaço.
A solução deste problema passa por um esforço
repartido entre aluno, professor e funcionário.
Outra das reclamações/sugestões prende-se
com o horário. O período de funcionamento
da biblioteca é sempre pouco. Os alunos querem
a biblioteca aberta durante mais tempo. Este tipo de pedidos
tem incidência na época de exames. Compreendo
que nessas alturas os alunos estejam mais interessados
em estudar, mas esquecem-se que a biblioteca e o estudo
em geral estiveram no mesmo local durante todo o semestre,
entre as 9 e as 23 horas. Nós temos obrigações,
é um facto, mas os alunos também as têm
e não podem ser os serviços técnicos,
os responsáveis por aquilo que um aluno fez ou
não durante um ano inteiro.
U@O - Em relação ao horário
de funcionamento não vai haver alterações?
J. D. - Acho difícil, pelo menos neste
momento. Encontrar recursos humanos para cumprirem esse
mesmo alargamento é complicado. O Estado tem vindo
a cortar nas despesas, nos recursos humanos e no material
técnico e as pessoas que estão, também
já têm a sua vida estruturada de uma determinada
forma que não comporta estarem a trabalhar fora
de certos horários. Esta estrutura, como todas
as outras, tem custos de manutenção, de
limpeza e de conservação. Despesas que se
agravam consoante o alargamento do horário de funcionamento.
U@O - Ainda em relação ao ruído,
não se coloca a possibilidade de separar os computadores
das salas de leitura e consulta bibliográfica?
J. D. - Eu sei que é essa a ideia que
as pessoas têm, mas de uma maneira geral, o que
provoca mais ruído são os sofás onde
as pessoas se sentam em grupo e falam como se estivessem
no café. Para além disso, julgo que existe
um grande défice de educação cívica.
Isto porque neste caso, quando é pedido às
pessoas para se deslocarem ao bar ou coisa parecida, elas
ficam muito ofendidas. Geralmente, as pessoas que estão
nos computadores estão isoladas, ou então,
em grupos de duas pessoas. Se o conjunto de alunos é
maior, como é o caso dos estudantes das áreas
de ciências, com a acústica do próprio
edifício, o barulho torna-se incómodo.
"O Estado tem vindo
a cortar nas despesas, nos recursos humanos e
no material técnico"
|
"O utilizador tem uma ideia que é a
seguinte, paga propinas logo quer, pode e manda"
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U@O - A resolução do problema passa
então por uma maior educação cívica?
J. D. - E por uma maior frequência, ao
longo da vida, de espaços como a biblioteca. Fico
chocada ao constatar que grande parte dos alunos da UBI
se torna utilizador da biblioteca no último ano
do curso. A percentagem deste tipo de utilizadores é
muito elevada.
U@O - A Biblioteca está também
aberta à comunidade exterior à universidade,
como tem sido a adesão das pessoas a este espaço?
J. D. - Quem vem à Biblioteca da UBI,
do exterior, são antigos alunos ou pessoas que
querem ter acesso à Internet e não conseguem
a partir da sua casa ou do seu local de trabalho. Neste
ponto há que frisar um aspecto importante. Os utilizadores
das bibliotecas públicas, do circuito normal, procuram
uma leitura mais virada para o lazer, nós aqui
na UBI, temos uma leitura para o saber. Há ainda
uma outra barreira que se prende com o facto das pessoas
olharem para a Universidade como um local privado, onde
só podem entrar os alunos. Mas é claro que
abrimos as portas, com muito gosto, a toda a gente.
U@O - Para além de livros existem também
jornais e revistas. Há alguma atenção
especial destinada a estes títulos?
J. D. - São um sorvedouro enorme de dinheiro
(risos) … O que acontece é que nós
trabalhamos com diversas revistas, jornais e publicações
técnicas e especializadas. De há algum tempo
a esta parte, o preço das revistas subiu na ordem
dos 30 por cento. As bibliotecas, e não só,
referiram que os editores não podem estar a subir
os preços de forma permanente. No circuito nacional
começaram a aparecer consórcios como a “B-On”
para fazer face às despesas que as instituições
têm, de forma isolada, e devido às quais
não conseguem acompanhar o número desejado
de publicações e o crescimento abrupto dos
editores.
"Fico chocada ao constatar que grande parte
dos alunos da UBI se torna utilizador da biblioteca
no último ano do curso" |
"Quem vem à Biblioteca da UBI, do exterior,
são antigos alunos ou pessoas que querem
ter acesso à Internet" |
U@O - Está acessível, há
já algum tempo, o portal que permite a pesquisa
simultânea a 3500 revistas científicas de
seis editoras (Elsevier, Wiley, Sage, Kluwer, Springer,
IEEE). Qual tem sido o feedback que têm recebido
a este respeito.
J. D. - Quando começaram a aparecer estas
ferramentas e a ser dado um maior destaque noticioso e
publicitário às mesmas, a utilização
e o feedback eram bons, depois decresceram. Penso que
são recursos que pela sua natureza requerem uma
utilização em crescendo, assim como um melhoramento,
sobretudo ao nível do software de pesquisa. Mas
julgo que depois das pessoas estarem adaptadas, a adesão
vai ser boa. Isso viu-se nas formações que
nós promovemos no semestre passado. O número
de participantes foi sempre crescendo, o que mostra o
interesse por este tipo de ferramentas e pela utilização
das novas tecnologias.
U@O - Tem existido alguma preocupação
especial com a profissionalização dos quadros
técnicos da Biblioteca?
J. D. - Há uma preocupação
em manter os funcionários motivados e interessados.
A formação tem desempenhado, também
aqui, um papel importante. Contudo há que ressalvar
que existem diversas rotinas. E não é num
curto espaço de tempo que se mudam rotinas de 20
anos. A rapidez com que agora introduzem um livro não
vai ser mesma quando essa acção for feita
recorrendo a um programa informático. Será
depois de algum tempo.
U@O – Como define o conceito de “aluno
universitário”?
J. D. - Pessoas jovens e muito irreverentes.
Qualidades que os fazem bastante reivindicativos, o que
é bom. Mas devo acrescentar que os vejo, de um
modo geral, como pouco razoáveis nas críticas
que fazem. No caso do software e da informatização
da Biblioteca Central da UBI, são coisas que ainda
não estão a funcionar, não porque
as pessoas não querem, mas sim porque são
coisas que demoram a fazer, levam o seu tempo a estar
concluídas e prontas a utilizar. Na vida real não
há varinhas de condão. É preciso
trabalhar para que as coisas aconteçam.
U@O - Em termos gerais, pode dizer-se que a Biblioteca
da UBI acompanha as necessidades dos docentes e alunos?
J. D. - Posso dizer que sim, mas há ainda
muito por fazer. Aqui entra a história das minorias
que não podem ser ditaduras das maiorias. A maioria
dos alunos faz barulho, mas é uma minoria que reclama.
Temos de saber olhar para o todo e ver se as reclamações
são legítimas ou não. Mas de uma
maneira geral, estou convicta de que a biblioteca desempenha
as suas funções. Também estamos atentos
aos problemas do Ernesto Cruz, onde as estruturas são
manifestamente escassas. Costumo brincar com o senhor
reitor sobre o assunto dizendo-lhe que aquele espaço
já rebentou. Claro que estas situações
estão a ser tratadas. Como o caso do novo pólo
da Universidade, onde vai ser instalada a Faculdade de
Medicina, para onde temos projectado um espaço
que servirá de biblioteca.
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