A comunicação
é falada e estudada há milhares de anos,
mas a actual necessidade crescente de abordar a temática
dos processos comunicativos é uma evidência.
“Já na Antiguidade, Aristóteles escreveu
uma retórica para ensinar as pessoas a falarem,
a comunicarem através de estilos ficcionais. Nessa
altura não reflectíamos sobre a nossa fala.
Todavia, hoje em dia, usamos dispositivos que são
exteriores ao nosso corpo e que não são
tão familiares e íntimos, pelo que se torna
mais fácil questionar o processo comunicacional”
– explica João Correia, professor do Departamento
de Comunicação e Artes da UBI.
Dois séculos de Comunicação é
uma iniciativa realizada pelo LABCOM, no âmbito
dos projectos Compolis (Identidade e Cidadania) e Nico
(Novas Formas de Informação e Comunicação
On-line) que, beneficiando de total apoio por parte do
Departamento, procurou debater como é que os novos
media e as novas tecnologias de informação
podem ajudar as pessoas a tornarem-se conscientes das
suas acções, para promoverem o seu próprio
desenvolvimento e superarem as suas dificuldades.
No passado dia 21 de Abril, Eduardo Vizer, doutorado em
Sociologia e professor de Ciências da Comunicação
da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, foi o especialista
convidado para palestrar sobre estas temáticas.
As novas tecnologias da informação e da
comunicação são uma questão
que está a ser muito revitalizada, não só
no âmbito das Ciências da Comunicação,
mas também ao nível dos próprios
governos, na medida em que estes pretendem saber como
é que as novas tecnologias ajudam na promoção
da educação e da cultura, nomeadamente,
junto dos excluídos económica e socialmente.
“O excesso de informação só
pode ser um problema para os países ricos. Isto
porque até nos países ricos existe uma forte
info-exclusão, ou seja, há pessoas que não
têm sequer possibilidade de ler um jornal”
– salienta João Correia. Desta forma, o objectivo
primordial desta conferência assentou em compreender
como colocar os novos meios e tecnologias de comunicação
ao serviço das pessoas que não têm
acesso a qualquer forma de educação, e cuja
informação que possuem é baseada
exclusivamente na tradição e na experiência
de vida.
Para Vizer, o grande problema com que se debatem todas
as universidades é saber, em primeiro lugar, o
que é a comunicação. “Comunicação
e informação são coisas distintas.
A comunicação é a liberdade de praticar
o acto de comunicar, ao passo que a informação
está mais relacionada com os dados e os factos
que nos são oferecidos de forma mais ou menos clara”
– explicita o professor argentino. Eduardo Vizer
procurou alertar ainda os alunos para o aspecto assustador
das novas tecnologias da comunicação e da
informação. “Um computador pode, na
actualidade, escrever um texto totalmente correcto a nível
gramatical, e possuir (imagine-se só) traços
de criatividade humana. Isso assusta-me imenso”
– confessa.
Dentro de um mundo hiper-comunicado, torna-se complicado
discernir entre o que é verdade e mentira. Todavia,
“nesta imensa circulação de informação,
o ser humano não é totalmente passivo. A
circulação de informação influencia
a forma como pensamos o social, isto é, permite
a construção de sentidos na nossa vida”
– afirma Eduardo Vizer.
Até ao final do ano vão ainda ser realizadas
diversas iniciativas pelo LABCOM e pelo Departamento de
Comunicação e Artes. Ligado também
ao tema das tecnologias de informação, vai
decorrer nos dias 14 e 15 de Outubro, o Encontro Nacional
de Weblogs, que reunirá bloggers de quase todo
o País. Terão lugar também umas jornadas
sobre Media e Proximidade, onde se debaterá a importância
dos media comunitários on-line nas pequenas comunidades.
Vão realizar-se ainda jornadas sobre Comunicação
Política centrada nas Eleições, em
que o debate procura descobrir até que ponto as
novas tecnologias da comunicação já
estão a penetrar nas campanhas eleitorais.
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