Urbi @ Orbi
– Em breves palavras, como é que surgiu a
banda?
Norton - Antes de formarmos os Norton, os elementos
que compõem o grupo faziam parte de duas bandas.
Uma era composta por mim (Rodolfo Matos), pelo Pedro,
e uma outra pessoa, com o nome de Alien Picnic. No último
concerto com essa banda, hà três anos atrás,
decidimos formar um novo grupo musical. Foi por ser precisamente
o último concerto enquanto Alien Picnic que decidimos
formar os Norton. Além disso, eu tinha outra banda
com o Alexandre e o Leonel, que se denominava Oscillating
Fan. Esta era uma banda mais antiga, com a qual começámos
a tocar ainda muito novos. No entanto, éramos poucos
para fazer aquilo que gostaríamos. Três pessoas
não davam para tocar todos os instrumentos que
queríamos ou compor uma coisa mais a sério.
Com os Oscillating Fan já tínhamos cerca
de cinco anos de experiência, com vários
temas e muitas compilações. Chegámos
mesmo a lançar um LP em vinil, mas depois as coisas
começaram a esmorecer um pouco. Na altura, o meio
musical onde nos encontrávamos inseridos não
ajudava muito… Então decidimos dissolver
as bandas, inicialmente apenas à experiência,
e fundir os elementos das duas para ver o resultado.
U@O – Essa junção foi feita
há quanto tempo?
N. - Há dois anos. Vai fazer em Maio três.
Como foi dito anteriormente, inicialmente foi apenas à
experiência. Entretanto, começaram os ensaios
e as reuniões para compor as músicas. Estivemos
sensivelmente desde Maio a Outubro de 2002 a ensaiar e
a compor. Depois foi a escolha de um nome…
U@O – Já agora, porquê este
nome?
N. - É a primeira vez que vamos divulgar!
Tínhamos já a banda formada e íamos
dar a primeira entrevista para um jornal de Castelo Branco
– o Reconquista. Este semanário tinha compilado
um mini-dossier sobre as bandas da cidade. Nesta altura,
já estávamos formados enquanto Norton, mas
ainda sem nome! Resumindo, íamos a caminho do Reconquista
sem saber como nos haveríamos de chamar…
No caminho, telefonei (Rodolfo Matos) aos restantes membros
e perguntei se gostavam do nome Norton para a banda. Todos
gostaram da ideia e assim ficou. Como é uma palavra
pequena e sem tradução, é como que
um nome próprio.
"Temos um público
bastante heterogéneo"
|
"Norton é uma palavra pequena e sem
tradução, é como que um nome
próprio"
|
U@O – A que público se dirigem os
Norton?
N. - A todos que nos queiram ouvir! Por acaso,
temos tido um público bastante heterogéneo.
Desde crianças de cinco anos até…
aos avós! Por exemplo, o pai do Pedro não
gostava inicialmente daquilo que fazíamos e agora
vai no carro a cantarolar o nosso CD. Quando fizemos um
dos primeiros concertos tínhamos pouca gente a
assistir. O auditório da ESE (Escola Superior de
Educação), em Castelo Branco, estava composto
por uma audiência com uma faixa etária muito
mais elevada que a nossa, que ronda os 25 anos.
U@O – São uma banda que está
neste momento a ter algum sucesso no panorama musical.
Como é que estão a viver este momento?
N. - Sem dinheiro! Risos. Estamos completamente
tesos!
U@O – Não ganham com os concertos?
N. - Ganhamos… mas tudo o que conseguimos
arrecadar é para ser investido logo de seguida.
Praticamente, não chegamos a ver dinheiro. È
necessário comprar material, temos que gravar o
que produzimos… Enfim, há imensas despesas.
Ir simplesmente tocar a qualquer lado torna-se dispendioso.
Neste momento, somos quatro elementos (temos tido um guitarrista
convidado) e ainda temos um técnico. Já
são seis pessoas a andar de um lado para o outro
com a banda! Assim sendo, é preciso alugar uma
carrinha. Os nossos concertos são maioritariamente
em Lisboa e no Porto, o que acarreta tempo e disponibilidade.
Apesar de eu (Rodolfo Matos) e o Pedro estarmos a estudar
na capital, o Alexandre está a trabalhar em Castelo
Branco, e o Leonel em Aveiro… Como podem ver, a
nível de tempo torna-se um pouco complicado. Suponhamos
que Sábado vamos tocar a Lisboa: 90% das vezes,
temos todos que vir a Castelo Branco para nos reunirmos
e arrumar o material! Isto torna-se bastante dispendioso.
Depois é lógico que não somos os
U2! Não levamos 250 mil euros por concerto…Risos.
No patamar em que estamos todo o dinheiro que ganhamos
é para investir na banda. Até porque não
temos uma grande equipa atrás de nós que
nos suporte tudo.
U@O – O que mais vos fascina no mundo da
música?
N. - Tudo! É o contacto com teclados,
guitarras, pedais… De chegar à sala de ensaios
com qualquer coisa nova para descobrir…Explorar
o material que temos… Somos completamente exploradores
de som. Gostamos de tirar o máximo partido das
coisas e brincar com os instrumentos.
U@O – Não tem qualquer tipo de formação
musical?
N. - Não. Somos autodidactas, o que possibilita
uma maneira diferente de explorar a música. Se
andássemos no conservatório estávamos,
por mais que não quiséssemos, virados para
um certo domínio musical. Quando se frequenta uma
escola de música, seja ela de Jazz ou de outro
tipo, começam-se a fechar os horizontes apenas
para aquilo que se está a aprender. Como nós
não temos essa formação musical,
não nos interessa se a nota sai mais ao lado ou
não. O que importa é a sonoridade corresponder
àquilo que desejamos.
"Gostamos de tirar o máximo partido
das coisas" |
"O que importa é a sonoridade corresponder
àquilo que desejamos" |
U@O – E em palco, o que é que gostam
mais?
N. - O calor humano! Em Dezembro do ano passado,
fizemos um concerto óptimo em Castelo Branco. Para
além do som estar impecável, tínhamos
o Cine-teatro esgotado e com um público participativo,
o que para nós foi uma surpresa! Sobretudo o aspecto
da participação do público! Geralmente,
as pessoas retraem-se um pouco por ser num local com lugares
sentados. A nossa sonoridade não é propriamente
uma música de festa. É algo mais intimista
e não é fácil cativar um público
para bater palminhas ou cantarolar. Então foi uma
surpresa, porque a meio da segunda música já
havia pessoas em pé e a bater palmas. Pessoas essas
com quem não tínhamos grande contacto. Parecia
não ter sentido tudo aquilo, mas foi uma das melhores
sensações que tivemos.
U@O – Quais são as vossas principais
inspirações na composição
das letras?
N. - O dia-a-dia. Durante o dia passam-nos inúmeras
coisas pela cabeça, não é? Há
dias que estamos mais sentimentais, em que pensamos na
namorada ou no amigo que faz falta… Não há
algo de concreto ou pré-definido para compor uma
música. Além disso, baseamo-nos no que gostamos
de ouvir.
U@O – E o que é que gostam de ouvir?
Quais são as vossas referências?
N. - Radiohead, DEUS… Enfim, há
tanta coisa que gostamos! Também ouvimos muito
música electrónica, experimental e rock.
Vamos buscar um pouco de tudo para ouvir e examinar.
U@O – Qual é a banda de sonho com
a qual gostariam de actuar?
N. - Boa pergunta! Por acaso, nunca tínhamos
pensado nisso! Existem várias, mas apenas uma é
complicado! Talvez os Radiohead… Não há
“aquela”. Por acaso, não nos importávamos
de fazer a primeira parte dos U2, porque íamos
actuar para muita gente! Risos.
U@O – Se vos pedisse para vos definir o
vosso trabalho, como é que o fariam?
N. - É um trabalho árduo!
U@O – Refiro-me ao tipo de música
que compõem…
N. - É música indie, com mistura
de electrónica, pop e rock. O Henrique Amaro, da
Antena 3, disse em conversa, quando lhe enviámos
o nosso disco, que os Norton têm um grande conceito
musical. O que ele quis dizer, foi que não há
no nosso disco uma música que seja uma influência
disto ou daquilo. Passa antes pelo agrupamento de várias
coisas. Ao ouvirem o nosso disco vão notar que
é muito pouco homogéneo, mas isto no bom
sentido. Vamos buscar, como referi anteriormente, um pedaço
de tudo o que se passa nos nossos dias ou como nos sentimos.
Não há nada esbatido no Make me Sound que
se possa dizer “é isto” ou “Os
Norton são os Radiohead versão portuguesa”.
Também o Nuno Gonçalves dos The Gift, que
ouviu o disco antes de ser editado, nos disse que “somos
influenciados, mas não influenciáveis”.
Isto é, nota-se que a influência está
lá, mas não é uma coisa chapada.
Já nos aconteceu compor uma música e não
a aproveitarmos porque é igual a Radiohead ou algo
do género. E isso acontece sem nos apercebermos.
Por acaso temos esse cuidado. Quando as coisas soam igual
a uma outra banda, ou pomos de parte ou tentamos dar o
nosso cunho pessoal.
"É muito mais
complicado singrar no Interior que nos grandes
centros"
|
"Ao ouvirem o nosso disco vão notar
que é muito pouco homogéneo"
|
U@O – O facto de serem uma banda do Interior
não acaba por influenciar pela negativa a vossa
divulgação?
N. - Sim, um pouco. Neste momento nem tanto.
Ao início era mais complicado. Mas felizmente superaram-se
as expectativas, a nível de imprensa, com o lançamento
do E.P. Foi uma espécie de ‘boom’.
De repente aparecemos e todas as pessoas queriam falar
connosco. Isto para o disco foi um grande passo. Mas é
muito mais complicado singrar no Interior que nos grandes
centros. Aqui não há imprensa especializada,
distribuidoras, editoras, os bons estúdios, os
técnicos…O meio musical é, basicamente,
em Lisboa e no Porto. Em Castelo Branco temos o dobro
do trabalho. Quando se lançou o álbum, tivemos
de ir de propósito para Lisboa duas semanas só
para dar entrevistas. Se fossemos da capital, bastava
combinar um café. Apesar de nós os dois
estudarmos lá, os outros dois elementos não
têm a mesma disponibilidade que nós.
U@O – Quais são as principais dificuldades
que encontram no mercado nacional musical? Ainda por cima
sendo uma banda recente…
N. - O mercado nacional está completamente
viciado. É muito complicado uma banda como nós
entrar dentro do circuito dos grandes palcos. Falo no
Sudoeste, Paredes de Coura, Vilar de Mouros, as grandes
queimas do Porto ou de Coimbra. Mesmo até em queimas
mais pequenas é muito difícil. Os agentes
e os managers têm tudo sob controlo com as grandes
editoras e não há sequer buracos onde te
possas enfiar. Portugal, neste aspecto, está muito
viciado. Por muito bom que sejas é um sistema muito
dificultado.
U@O – As rádios portuguesas passam
pouca música portuguesa. É precisamente
por isso que cantam em inglês?
N. - Nós cantamos em inglês porque
sempre cantámos nesta língua. A música
que nós fazemos não tinha sentido ser cantada
em português. Talvez, se cantássemos na língua
materna, seríamos bastante originais. Não
há ninguém a fazer este tipo de música
em português. Para isso, é preciso escrever
muito bem. Tens que escolher com rigor aquilo que vais
dizer. Em inglês isso é mais fácil,
porque é uma língua com melhor sonoridade
musical. A nível das rádios … As rádios
locais, como a da universidade de Coimbra, apoiam imenso
as bandas portuguesas, mas não são ouvidas
por muita gente. Quanto às rádios nacionais…Por
exemplo, a Antena 3, nunca nos negou nada, apesar de ser
muito complicado obter certas regalias. Voltamos de novo
à história das grandes editoras que dominam
tudo. Mas, com um pouco mais de trabalho temos conseguido
ultrapassar esses obstáculos.
U@O – Qual é a filosofia de trabalho
dos Norton?
N. - A nossa ideia é subir os degraus
devagarinho. Ir fazendo discos e concertos à medida
que avançarmos no tempo.
"Não há ninguém a fazer
este tipo de música em português" |
"A nossa ideia é subir os degraus devagarinho" |
U@O – Como é que se vêem daqui
a dez anos?
N. - Gordos!!! Risos. Vivemos em Portugal e temos
consciência de que não é fácil
ter duas vidas paralelas – o trabalho e a música.
Se nos derem a oportunidade para que possamos ter uma
vida regular ligada à música isso era genial.
Embora saibamos que não é fácil.
Uma das nossas melhores características é
o facto de termos os pés bem assentes na Terra.
Nunca voamos muito alto. Contudo, todos temos o sonho
de estar daqui a dez anos no mundo da música, com
o nosso estúdio na Escócia! Não estamos
nisto por dinheiro, definitivamente. Se assim fosse já
tínhamos deixado de tocar há anos!
U@O – Qual poderá ser o contributo
dos Norton para a música portuguesa?
N. - Falta uma coisa indispensável em
Portugal: a ajuda entre as bandas. Existe alguma rivalidade
na música portuguesa. A nossa maneira de estar,
todavia, não é essa. Temos grandes laços
de amizade com os Jaguar, Loto, The Gift. O Rodrigo Leão
também nos ajudou imenso. Não nos podemos
queixar. Poderemos, desta forma, contribuir para uma maior
solidariedade entre as bandas – construindo grandes
amizades.
U@O – Qual é a etapa a superar nos
próximos tempos?
N. - Neste momento são duas: A primeira
é terminar o novo disco. Ainda estamos na fase
de composição das músicas. Pensamos
começar a gravá-lo no final do ano, mas
isso vai depender do tempo disponível até
lá e da criatividade que tivermos…Quando
se especulam datas, normalmente, é dois meses depois
que se concretizam. Mesmo assim, queremos lançar
o disco no próximo ano. Daqui a alguns meses, vai
sair no mercado um disco de remisturas do nosso disco
anterior. Neste CD, estão incluías ainda
músicas dos The Gift, Jaguar, Loto, Musgo, entre
outros. A outra etapa será para o mês de
Junho. Vamos fazer um concerto pela primeira vez fora
de Portugal, num festival em Espanha- o Contemporanea.
Vamos tentar ao máximo divulgar a banda por lá.
Estamos agora a ter os primeiros contactos, na chamada
internacionalização.
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