A desilusão do “sonho americano”


 

 

 








 

 

 

 

 

 

 

Green Day



Warner | 2004


“Don’t wanna be an american idiot”. Assim, sem mais nem menos, num registo tipicamente punk, tem início o último trabalho dos californianos Green Day. Enquanto disco, “American Idiot” até nem é nada de extraordinário. Talvez até nem seja o melhor disco da banda (“Dookie”, de 1994, continua a ocupar um lugar muito especial no coração deste escriba), mas é com certeza, e ninguém duvide disso, o mais politizado.
Os Green Day sempre foram considerados dentro do movimento punk que passou um pouco à margem do grunge de Seattle dos Nirvana e dos Pearl Jam, porque bebia as suas próprias influências em outras fontes dos anos 70, prícipios de 80. Mas essa catalogação tinha por base quase exclusivamente a componente melódica. Ritmos alucinantes com guitarras em máxima distorção sem que, no entanto, se perdesse um único acorde, uma única nota, bem à boa velha maneira shoegaze, A componente lírica, por seu turno, sempre foi caracteristicamente hedonista, sem pretensões políticas ou interventivas, sem tomadas de posição assumidas.
“American Idiot” é, neste aspecto, um rompimento com o passado. Belas melodias envolvem poemas que são autênticos manifestos anti-guerra, anti-Bush, anti-militar, anti-injustiça social, anti-“América-tal-como-ela-é”: “A nation rulled by the media”.
A faixa de abertura, que dá o nome ao disco, é, talvez, a mais pungente porque a que mais se assemelha ao que já conhecíamos da banda. Depois, durante quase uma hora de música, sarcasmo, ironia e revolta, vemos uns Green Day amadurecidos, completamente “desmamados”, desencantados das ilusões da adolescência (oiçam “Boulevard of broken dreams” e saberão do que falo) e conscientes de um papel que já muitos reclamavam que assumissem. Já não há ingenuidade, já não há ilusões, e o sonho americano… é o pesadelo do resto do mundo. Sejam bem-vindos à idade adulta.