“Don’t
wanna be an american idiot”. Assim, sem
mais nem menos, num registo tipicamente punk,
tem início o último trabalho dos
californianos Green Day. Enquanto disco, “American
Idiot” até nem é nada de extraordinário.
Talvez até nem seja o melhor disco da banda
(“Dookie”, de 1994, continua a ocupar
um lugar muito especial no coração
deste escriba), mas é com certeza, e ninguém
duvide disso, o mais politizado.
Os Green Day sempre foram considerados dentro
do movimento punk que passou um pouco à
margem do grunge de Seattle dos Nirvana e dos
Pearl Jam, porque bebia as suas próprias
influências em outras fontes dos anos 70,
prícipios de 80. Mas essa catalogação
tinha por base quase exclusivamente a componente
melódica. Ritmos alucinantes com guitarras
em máxima distorção sem que,
no entanto, se perdesse um único acorde,
uma única nota, bem à boa velha
maneira shoegaze, A componente lírica,
por seu turno, sempre foi caracteristicamente
hedonista, sem pretensões políticas
ou interventivas, sem tomadas de posição
assumidas.
“American Idiot” é, neste aspecto,
um rompimento com o passado. Belas melodias envolvem
poemas que são autênticos manifestos
anti-guerra, anti-Bush, anti-militar, anti-injustiça
social, anti-“América-tal-como-ela-é”:
“A nation rulled by the media”.
A faixa de abertura, que dá o nome ao disco,
é, talvez, a mais pungente porque a que
mais se assemelha ao que já conhecíamos
da banda. Depois, durante quase uma hora de música,
sarcasmo, ironia e revolta, vemos uns Green Day
amadurecidos, completamente “desmamados”,
desencantados das ilusões da adolescência
(oiçam “Boulevard of broken dreams”
e saberão do que falo) e conscientes de
um papel que já muitos reclamavam que assumissem.
Já não há ingenuidade, já
não há ilusões, e o sonho
americano… é o pesadelo do resto
do mundo. Sejam bem-vindos à idade adulta.