Urbi et Orbi
- Qual o motivo que o levou a candidatar-se novamente
à Associação Académica?
Nuno Costa - Na altura da demissão, a
3 de Dezembro, a minha vontade não era a de continuar.
Tinha várias razões, desde o cansaço
até à vontade de me dedicar mais ao curso.
Nas férias do Natal reflecti e amadureci algumas
ideias. Depois da análise do trabalho que já
tinha sido feito, desde Maio até Dezembro e mais
os restantes meses, que seriam de gestão corrente,
decidi-me pela recandidatura. Achei que faltava cumprir
algumas coisas e, por isso, decidi candidatar-me novamente.
U@O - O trabalho a realizar por esta direcção
será uma continuação do que foi feito
anteriormente?
N. C. - Será uma continuação
lógica. Sabemos que vai haver um grande leque de
problemas para resolver, nomeadamente, a apresentação
obrigatória de um plano de actividades até
20 de Abril. Esse mesmo plano deve estar devidamente orçamentado,
o que no cenário actual é uma tarefa árdua.
Mas é algo que tem de ser cumprido, para que a
AAUBI entre no rumo certo. Temos por objectivo reduzir
significativamente, até final do mandato, a dívida
da associação. Há outras metas como
a implementação de mais acções
nos campos pedagógico e de acção
social.
U@O - Do plano de actividades que referiu, quais
os projectos que mais gostaria de concretizar?
N. C. - A questão financeira estará
a cargo de pessoas que nesta direcção são
bastante competentes para tal. Eu vou dedicar-me exclusivamente
à pedagogia, já que existe uma secção
autónoma, à acção social,
aos novos pacotes legislativos que vão ser implementados
com o Processo de Bolonha e não só. Há
questões muito importantes como a Lei de Bases
do Sistema Educativo, a Carreira Docente, a implementação
do Processo de Bolonha e a Lei de Financiamento do Ensino
Superior. As propinas e as prescrições são
também matérias que nos vão deixar
muito ocupados até Dezembro.
"Sabemos que vai haver
um grande leque de problemas para resolver"
|
"Um dos pontos que também tem vindo
a merecer a nossa atenção é
o do emprego"
|
U@O - No que respeita à UBI, quais os
principais problemas que os estudantes têm vindo
a apontar?
N. C. - Primeiro, o insucesso escolar, um dos
pontos que vai ser ainda mais afectado pela nova Lei da
Prescrição. As pessoas ainda não
perceberam que agora já não existe nada
a fazer, como em outras épocas, em que o reitor
aprovava um despacho que permitia ao aluno deixar de estar
prescrito.
Outra das problemáticas transmitidas pelos alunos,
prende-se com a questão dos exames. Um estudante
que pague 9.20 euros para ir fazer um exame e o docente
diz que essa avaliação não pode ser
feita encontra-se defraudado porque cada aluno tem direito
a dois períodos de avaliação e não
pode ficar limitado a um.
Um dos pontos que também tem vindo a merecer a
nossa atenção é o do emprego. É
muito importante que um estudante, quando termina o seu
curso, tenha uma ajuda na ligação ao mercado
de trabalho. Estamos a actuar em parceria com o Centro
de Estágios da Universidade, para que o leque de
ofertas seja mais adequado às necessidades e estamos
a preparar uma Feira de Emprego da Beira Interior que
deverá acontecer no final de Maio.
U@O - E quanto a outros problemas do dia-a-dia?
N. C. - São também bastante importantes
para nós. Chegam à associação
estudantes que precisam de informações sobre
matrículas, sobre inscrições em exames,
sobre as leis que regem um determinado assunto da Universidade
e que tendem a ser resolvidos por nós, dentro das
nossas possibilidades. Sendo estes mais quotidianos merecem
a mesma atenção e preocupação.
Veja-se o exemplo da Acção Social no pagamento
das mensalidades das bolsas. Actualmente existem atrasos
de cerca de um mês e meio no pagamento das bolsas,
a AAUBI está constantemente em contacto com os
responsáveis pelos Serviços de Acção
Social e com os alunos, na tentativa de resolver o assunto.
U@O - Refere com frequência a importância
da gestão financeira. Neste campo, em que situação
está a AAUBI?
N. C. - Neste momento estamos a respirar um pouco
melhor. A AAUBI recebeu, finalmente, o subsídio
do Instituto Português da Juventude (IPJ) no valor
de 41 mil euros que é uma ajuda, mas que não
chega nem para metade das dívidas acumuladas ao
longo dos tempos pela Associação Académica.
É necessário termos consciência que
se quisermos fazer actividades, estas têm de ser
pagas por elas próprias, ou seja, o dinheiro angariado
nos eventos deve servir para os auto-financiar. Veja-se
o caso da Semana Académica, da Recepção
ao Caloiro e da própria Feira de Emprego, que são
exemplos de actividades auto-financiadas. Estas vão
ter prioridade perante todo um outro conjunto de actividades
que, provavelmente, terão de ser cortadas, por
não apresentarem rentabilidade suficiente.
Neste momento, as dívidas da AAUBI rondam os 45
mil euros. Para que um dos nossos objectivos fundamentais,
que é o de colocar o passivo a zero, seja cumprido,
todas as iniciativas da AAUBI têm de se mostrar
rentáveis. Uma das principais preocupações,
neste domínio é a Secção Desportiva.
Se não conseguirmos encontrar um patrocinador que
pague todas as deslocações e as despesas
inerentes às actividades dos atletas, algumas modalidades
terão de acabar, porque já que o Estado,
através da Acção Social, - responsável
pelo garante da actividade desportiva a este nível
-, não cumpre a lei, não podemos nós
endividar-nos.
U@O - Uma das principais lutas estudantis prende-se
com o valor das propinas. Acredita que o valor pago actualmente
por cada aluno possa baixar?
N. C. - O ministro que agora tutela o Ensino
Superior mostrou-se contra à alteração
da lei que passou para os Senados e para os órgãos
deliberativos das Universidades a obrigação
de estipularem o valor das propinas. Nessa mesma altura,
o Partido Socialista defendia o congelamento das propinas.
Agora, não sei como vai ser feito esse congelamento
porque existe uma lei que obriga os Senados a estipular
um valor, logo não se sabe qual vai ser esse valor.
Durante a apresentação do programa do Governo
nada foi dito a este respeito, nem relativamente ao Processo
de Bolonha ou à Lei de Autonomia das Universidades.
Daí que nós, dirigentes associativos, tenhamos
decidido dar o benefício da dúvida ao ministro
Mariano Gago, uma tomada de posição encontrada
no Encontro Nacional de Direcções Associativas
(ENDA), realizado na Covilhã. Esta atitude vai
ser mantida até à realização
do próximo encontro.
Para nós, parece justa a alteração
da lei, com a instituição de um valor único
para as propinas, a nível nacional, valor esse
que só aumentaria consoante a inflação.
Mas neste momento a situação financeira
do País não vai permitir isso.
"Neste momento, o grande encargo com a educação
passou a ser das famílias" |
"O insucesso escolar é um dos pontos
que vai ser ainda mais afectado pela nova Lei da
Prescrição" |
U@O - Até agora, o aumento das propinas
foi proporcional ao aumento da qualidade no Ensino Superior?
N. C. - Esse é o grande problema nessa
questão. Uma abordagem que se assume transversal
a todas as instituições do Ensino Superior
português. Recordo-me de que quando o valor actual
da propina foi estipulado pedi aos estudantes para apresentarem
os problemas que o aumento iria trazer, mas até
ao momento ainda não fui contactado por ninguém.
Mas sei que noutras instituições isso aconteceu.
Falo concretamente na Universidade do Minho e Alto Douro,
onde alguns alunos abandonaram os estudos devido ao elevado
valor da propina.
Em alguns cursos desta Universidade existe um aumento
significativo na qualidade de ensino, nomeadamente ao
nível da licenciatura em Medicina. Noutros, digo
frontalmente, que não existiu qualquer tipo de
melhoria. Costuma comentar-se nos corredores que a UBI
se está a tornar uma Universidade “semi-privada”
onde tudo se paga. Neste momento, o grande encargo com
a educação passou a ser das famílias.
Recordei, no meu discurso de tomada de posse, que o grande
investimento de um país, o garante do desenvolvimento
de qualquer território está na educação.
A Irlanda fez isso, a Grécia está a fazer
isso, mas Portugal não.
U@O - A propósito dessa questão,
tinha referido no mandato anterior, a criação
de um Observatório da Qualidade, um organismo que
tinha como objectivo analisar o aumento da qualidade no
ensino ministrado na UBI. Como está esse projecto?
N. C. - Essa foi uma proposta alterada no Senado,
visto que existe uma comissão que está a
trabalhar para a implementação do Processo
de Bolonha. Esse é um tema que não está
esquecido e temos vindo a trabalhar nele. Espera-se que
haja conclusões em breve.
U@O - Considera que a representatividade dos alunos
nos órgãos deliberativos da UBI, como o
Senado, deveria ser maior?
N. C. - Completamente. A representatividade deveria
ser maior, mais, deveria ser paritária. Volta-se
aqui à Lei da Autonomia que irá causar problemas
em termos de contestação. Esta lei é
essencial e nós sabemos que ela está a ser
preparada há muito. Contudo, os estudantes têm
de ser ouvidos.
Neste momento, no Senado temos uma representatividade
que ronda os 20 por cento. A Lei da Autonomia irá
reduzir, ainda mais, essa percentagem. Estamos em contacto
com outras associações e por agora vamos
esperar para saber qual é a posição
por parte das forças políticas. Nós
somos pela paridade, até porque, nesse cenário
seria bastante interessante discutir qual o valor da propina.
U@O - Caso esta lei não seja favorável
aos estudantes, como é que estes vão reagir?
N. C. - No próximo dia 14 de Abril vamos
apresentar um livro negro sobre o Superior, um documento
onde estão assinalados os problemas de cada instituição.
Esse livro será depois entregue ao ministro da
tutela e aqui, no caso da UBI, será entregue na
reitoria, para que se retirem as devidas ilações.
Neste momento a grande luta dos estudantes é de
facto a Lei da Autonomia e vamos fazer tudo para que esta
seja aprovada só depois de sofrer algumas alterações.
"A AAUBI está
constantemente em contacto com os alunos"
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"Um dos pontos que também tem vindo
a merecer a nossa atenção é
o do emprego"
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U@O - Como justifica o pouco interesse dos estudantes
nas questões académicas? Nas últimas
eleições votaram menos de 700 alunos em mais
de 5 mil inscritos…
N. C. - Discutiu-se, no sábado anterior
às eleições a falta de interesse dos
estudantes do superior pelo associativismo. Recordo-me que
a Associação Académica do Minho apresentou
um resultado bastante negativo. Nas suas eleições,
em 12 mil alunos votaram mil. Números ainda piores
do que os registados na UBI. A fraca adesão a estas
questões é visível em todo o lado.
Algumas das razões apontadas para este cenário
passam pela vontade dos alunos quererem terminar os seus
cursos no mais curto espaço de tempo e não
mostrarem vontade de ingressar nas andanças da associação.
U@O - Como se pode alterar esta situação?
N. C. - Costumo dizer que não há
fórmulas mágicas. Mas cabe aos dirigentes
associativos a capacidade de encontrar maneiras de chamar
novas pessoas, com muita capacidade de intervenção
e outra tanta dose de imaginação.
U@O - Como vê a AAUBI hoje?
N. C. - Quando me candidatei pela primeira vez,
em Maio de 2004, sabia onde me vinha meter. Foi muita
dor de cabeça, muita preocupação,
mas conseguimos, de algum modo, eliminar parte do passivo.
Até porque, nós temos muitas dívidas
de longa data, pessoas que nos vêm aqui pedir contas,
temos também a receber ainda alguns dividendos,
enfim.
Outra das coisas que foi feita e que hoje é visível
prende-se com a questão da credibilidade da AAUBI,
que diga-se, estava a zero. Vamos agora continuar todo
um trabalho que tem sido feito, lentamente. Estamos a
reconstruir a “casa azul”.
U@O - De que forma imagina a AAUBI daqui a alguns
anos?
N. C. - Se existir uma continuidade do trabalho
que está a ser feito, se não houver nenhuma
quebra neste processo rigoroso, se não houver desperdícios,
acredito que a AAUBI, provavelmente em Dezembro de 2006,
esteja com as dívidas a zero, no rumo certo.
Não serei mais candidato a presidente da direcção,
isso é uma condição que coloquei
logo à partida, o que não invalida que continue
numa equipa sólida que trabalhe para a associação.
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