Por Catarina Rodrigues e Eduardo Alves



"Achei que faltava cumprir algumas coisas e, por isso, decidi candidatar-me novamente"

Urbi et Orbi - Qual o motivo que o levou a candidatar-se novamente à Associação Académica?
Nuno Costa -
Na altura da demissão, a 3 de Dezembro, a minha vontade não era a de continuar. Tinha várias razões, desde o cansaço até à vontade de me dedicar mais ao curso. Nas férias do Natal reflecti e amadureci algumas ideias. Depois da análise do trabalho que já tinha sido feito, desde Maio até Dezembro e mais os restantes meses, que seriam de gestão corrente, decidi-me pela recandidatura. Achei que faltava cumprir algumas coisas e, por isso, decidi candidatar-me novamente.

U@O - O trabalho a realizar por esta direcção será uma continuação do que foi feito anteriormente?
N. C. -
Será uma continuação lógica. Sabemos que vai haver um grande leque de problemas para resolver, nomeadamente, a apresentação obrigatória de um plano de actividades até 20 de Abril. Esse mesmo plano deve estar devidamente orçamentado, o que no cenário actual é uma tarefa árdua. Mas é algo que tem de ser cumprido, para que a AAUBI entre no rumo certo. Temos por objectivo reduzir significativamente, até final do mandato, a dívida da associação. Há outras metas como a implementação de mais acções nos campos pedagógico e de acção social.

U@O - Do plano de actividades que referiu, quais os projectos que mais gostaria de concretizar?
N. C. -
A questão financeira estará a cargo de pessoas que nesta direcção são bastante competentes para tal. Eu vou dedicar-me exclusivamente à pedagogia, já que existe uma secção autónoma, à acção social, aos novos pacotes legislativos que vão ser implementados com o Processo de Bolonha e não só. Há questões muito importantes como a Lei de Bases do Sistema Educativo, a Carreira Docente, a implementação do Processo de Bolonha e a Lei de Financiamento do Ensino Superior. As propinas e as prescrições são também matérias que nos vão deixar muito ocupados até Dezembro.




"Um dos pontos que também tem vindo a merecer a nossa atenção é o do emprego"

U@O - No que respeita à UBI, quais os principais problemas que os estudantes têm vindo a apontar?
N. C. -
Primeiro, o insucesso escolar, um dos pontos que vai ser ainda mais afectado pela nova Lei da Prescrição. As pessoas ainda não perceberam que agora já não existe nada a fazer, como em outras épocas, em que o reitor aprovava um despacho que permitia ao aluno deixar de estar prescrito.
Outra das problemáticas transmitidas pelos alunos, prende-se com a questão dos exames. Um estudante que pague 9.20 euros para ir fazer um exame e o docente diz que essa avaliação não pode ser feita encontra-se defraudado porque cada aluno tem direito a dois períodos de avaliação e não pode ficar limitado a um.
Um dos pontos que também tem vindo a merecer a nossa atenção é o do emprego. É muito importante que um estudante, quando termina o seu curso, tenha uma ajuda na ligação ao mercado de trabalho. Estamos a actuar em parceria com o Centro de Estágios da Universidade, para que o leque de ofertas seja mais adequado às necessidades e estamos a preparar uma Feira de Emprego da Beira Interior que deverá acontecer no final de Maio.

U@O - E quanto a outros problemas do dia-a-dia?
N. C. -
São também bastante importantes para nós. Chegam à associação estudantes que precisam de informações sobre matrículas, sobre inscrições em exames, sobre as leis que regem um determinado assunto da Universidade e que tendem a ser resolvidos por nós, dentro das nossas possibilidades. Sendo estes mais quotidianos merecem a mesma atenção e preocupação. Veja-se o exemplo da Acção Social no pagamento das mensalidades das bolsas. Actualmente existem atrasos de cerca de um mês e meio no pagamento das bolsas, a AAUBI está constantemente em contacto com os responsáveis pelos Serviços de Acção Social e com os alunos, na tentativa de resolver o assunto.

U@O - Refere com frequência a importância da gestão financeira. Neste campo, em que situação está a AAUBI?
N. C. -
Neste momento estamos a respirar um pouco melhor. A AAUBI recebeu, finalmente, o subsídio do Instituto Português da Juventude (IPJ) no valor de 41 mil euros que é uma ajuda, mas que não chega nem para metade das dívidas acumuladas ao longo dos tempos pela Associação Académica.
É necessário termos consciência que se quisermos fazer actividades, estas têm de ser pagas por elas próprias, ou seja, o dinheiro angariado nos eventos deve servir para os auto-financiar. Veja-se o caso da Semana Académica, da Recepção ao Caloiro e da própria Feira de Emprego, que são exemplos de actividades auto-financiadas. Estas vão ter prioridade perante todo um outro conjunto de actividades que, provavelmente, terão de ser cortadas, por não apresentarem rentabilidade suficiente.
Neste momento, as dívidas da AAUBI rondam os 45 mil euros. Para que um dos nossos objectivos fundamentais, que é o de colocar o passivo a zero, seja cumprido, todas as iniciativas da AAUBI têm de se mostrar rentáveis. Uma das principais preocupações, neste domínio é a Secção Desportiva. Se não conseguirmos encontrar um patrocinador que pague todas as deslocações e as despesas inerentes às actividades dos atletas, algumas modalidades terão de acabar, porque já que o Estado, através da Acção Social, - responsável pelo garante da actividade desportiva a este nível -, não cumpre a lei, não podemos nós endividar-nos.

U@O - Uma das principais lutas estudantis prende-se com o valor das propinas. Acredita que o valor pago actualmente por cada aluno possa baixar?
N. C. -
O ministro que agora tutela o Ensino Superior mostrou-se contra à alteração da lei que passou para os Senados e para os órgãos deliberativos das Universidades a obrigação de estipularem o valor das propinas. Nessa mesma altura, o Partido Socialista defendia o congelamento das propinas. Agora, não sei como vai ser feito esse congelamento porque existe uma lei que obriga os Senados a estipular um valor, logo não se sabe qual vai ser esse valor. Durante a apresentação do programa do Governo nada foi dito a este respeito, nem relativamente ao Processo de Bolonha ou à Lei de Autonomia das Universidades. Daí que nós, dirigentes associativos, tenhamos decidido dar o benefício da dúvida ao ministro Mariano Gago, uma tomada de posição encontrada no Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), realizado na Covilhã. Esta atitude vai ser mantida até à realização do próximo encontro.
Para nós, parece justa a alteração da lei, com a instituição de um valor único para as propinas, a nível nacional, valor esse que só aumentaria consoante a inflação. Mas neste momento a situação financeira do País não vai permitir isso.



"Neste momento, o grande encargo com a educação passou a ser das famílias"

"O insucesso escolar é um dos pontos que vai ser ainda mais afectado pela nova Lei da Prescrição"

U@O - Até agora, o aumento das propinas foi proporcional ao aumento da qualidade no Ensino Superior?
N. C. -
Esse é o grande problema nessa questão. Uma abordagem que se assume transversal a todas as instituições do Ensino Superior português. Recordo-me de que quando o valor actual da propina foi estipulado pedi aos estudantes para apresentarem os problemas que o aumento iria trazer, mas até ao momento ainda não fui contactado por ninguém. Mas sei que noutras instituições isso aconteceu. Falo concretamente na Universidade do Minho e Alto Douro, onde alguns alunos abandonaram os estudos devido ao elevado valor da propina.
Em alguns cursos desta Universidade existe um aumento significativo na qualidade de ensino, nomeadamente ao nível da licenciatura em Medicina. Noutros, digo frontalmente, que não existiu qualquer tipo de melhoria. Costuma comentar-se nos corredores que a UBI se está a tornar uma Universidade “semi-privada” onde tudo se paga. Neste momento, o grande encargo com a educação passou a ser das famílias. Recordei, no meu discurso de tomada de posse, que o grande investimento de um país, o garante do desenvolvimento de qualquer território está na educação. A Irlanda fez isso, a Grécia está a fazer isso, mas Portugal não.

U@O - A propósito dessa questão, tinha referido no mandato anterior, a criação de um Observatório da Qualidade, um organismo que tinha como objectivo analisar o aumento da qualidade no ensino ministrado na UBI. Como está esse projecto?
N. C. -
Essa foi uma proposta alterada no Senado, visto que existe uma comissão que está a trabalhar para a implementação do Processo de Bolonha. Esse é um tema que não está esquecido e temos vindo a trabalhar nele. Espera-se que haja conclusões em breve.

U@O - Considera que a representatividade dos alunos nos órgãos deliberativos da UBI, como o Senado, deveria ser maior?
N. C. -
Completamente. A representatividade deveria ser maior, mais, deveria ser paritária. Volta-se aqui à Lei da Autonomia que irá causar problemas em termos de contestação. Esta lei é essencial e nós sabemos que ela está a ser preparada há muito. Contudo, os estudantes têm de ser ouvidos.
Neste momento, no Senado temos uma representatividade que ronda os 20 por cento. A Lei da Autonomia irá reduzir, ainda mais, essa percentagem. Estamos em contacto com outras associações e por agora vamos esperar para saber qual é a posição por parte das forças políticas. Nós somos pela paridade, até porque, nesse cenário seria bastante interessante discutir qual o valor da propina.

U@O - Caso esta lei não seja favorável aos estudantes, como é que estes vão reagir?
N. C. -
No próximo dia 14 de Abril vamos apresentar um livro negro sobre o Superior, um documento onde estão assinalados os problemas de cada instituição. Esse livro será depois entregue ao ministro da tutela e aqui, no caso da UBI, será entregue na reitoria, para que se retirem as devidas ilações. Neste momento a grande luta dos estudantes é de facto a Lei da Autonomia e vamos fazer tudo para que esta seja aprovada só depois de sofrer algumas alterações.




"Um dos pontos que também tem vindo a merecer a nossa atenção é o do emprego"

U@O - Como justifica o pouco interesse dos estudantes nas questões académicas? Nas últimas eleições votaram menos de 700 alunos em mais de 5 mil inscritos…
N. C. -
Discutiu-se, no sábado anterior às eleições a falta de interesse dos estudantes do superior pelo associativismo. Recordo-me que a Associação Académica do Minho apresentou um resultado bastante negativo. Nas suas eleições, em 12 mil alunos votaram mil. Números ainda piores do que os registados na UBI. A fraca adesão a estas questões é visível em todo o lado. Algumas das razões apontadas para este cenário passam pela vontade dos alunos quererem terminar os seus cursos no mais curto espaço de tempo e não mostrarem vontade de ingressar nas andanças da associação.

U@O - Como se pode alterar esta situação?
N. C. -
Costumo dizer que não há fórmulas mágicas. Mas cabe aos dirigentes associativos a capacidade de encontrar maneiras de chamar novas pessoas, com muita capacidade de intervenção e outra tanta dose de imaginação.

U@O - Como vê a AAUBI hoje?
N. C. -
Quando me candidatei pela primeira vez, em Maio de 2004, sabia onde me vinha meter. Foi muita dor de cabeça, muita preocupação, mas conseguimos, de algum modo, eliminar parte do passivo. Até porque, nós temos muitas dívidas de longa data, pessoas que nos vêm aqui pedir contas, temos também a receber ainda alguns dividendos, enfim.
Outra das coisas que foi feita e que hoje é visível prende-se com a questão da credibilidade da AAUBI, que diga-se, estava a zero. Vamos agora continuar todo um trabalho que tem sido feito, lentamente. Estamos a reconstruir a “casa azul”.

U@O - De que forma imagina a AAUBI daqui a alguns anos?
N. C. -
Se existir uma continuidade do trabalho que está a ser feito, se não houver nenhuma quebra neste processo rigoroso, se não houver desperdícios, acredito que a AAUBI, provavelmente em Dezembro de 2006, esteja com as dívidas a zero, no rumo certo.
Não serei mais candidato a presidente da direcção, isso é uma condição que coloquei logo à partida, o que não invalida que continue numa equipa sólida que trabalhe para a associação.





Perfil



Nuno Manuel Martins Costa é aluno do 4º ano de Economia na UBI. Este jovem de 24 anos, natural de Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, sempre mostrou um gosto especial pelas contas e questões financeiras. Uma característica que viria a marcar o seu primeiro mandato como presidente da Associação Académica da Beira Interior (AAUBI). Mandato esse, que fica também assinalado pela demissão dos corpos directivos passados seis meses de terem sido eleitos. O caos contabilístico em que se encontrava a academia “assim o ditou”, explica Costa.
Com muitas ideias e acções ainda por cumprir, resolveu candidatar-se novamente. Num acto eleitoral marcado pela forte abstenção, Nuno Costa vence novamente a presidência da AAUBI. Desta vez promete cumprir o mandato até final, mas adianta também ao Urbi que não se irá recandidatar em Dezembro próximo.
Uma das suas maiores paixões reside no associativismo. Anda nestas coisas de “trabalhar para o bem comum” desde 1996. Na altura começou pelo secretariado do clube da sua terra natal, o “Sport Futsal Clube de Moncorvo”. Actualmente, ainda nesta mesma colectividade desempenha funções de presidente da Assembleia Geral. Na UBI começou por pertencer à direcção do Núcleo de Estudantes de Economia e mais tarde veio a presidir a este mesmo grupo estudantil. Actualmente desempenha, pela segunda vez, o mandato de presidente da AAUBI. Mas no que diz respeito à “saúde” do associativismo, Costa refere que este atravessa uma grave crise, começando logo pelo sentido actual do conceito e dos actos associativos, ambos em crise. Para Nuno Costa, as pessoas estão cada vez mais desligadas das actividades e dos movimentos colectivos. Cabe, segundo o jovem, aos dirigentes e a todos quantos estão dentro das associações, tentar atrair um maior número de pessoas para esta actividade. A “AAUBI está também a tentar chamar mais pessoas a si”, sublinha com convicção.
A UBI surgiu como terceira opção, depois de um ano a frequentar Engenharia Informática no Instituto Politécnico da Guarda. Hoje, Nuno Costa mostra-se muito contente por ter mudado para a Covilhã. Como principais hobbies, no pouco tempo livre de que dispõe, destaca o cinema e o futebol, ambos, como espectador. No caso da bola, gosta de assistir a uma boa partida de futebol, na sétima arte, salienta filmes marcantes como “A Lista de Schindler”, “A Raiz do Medo” e o “Clube dos Poetas Mortos”.
No campo das personalidades destaca Aníbal Cavaco Silva, primeiro por este ser um economista com teses ao nível da macroeconomia que agradam a Nuno Costa, depois por ter sido também um político destacado. No lado internacional, sublinha as personalidades de Isaac Rabin e Yasser Arafat. No leitor de CD’s, Nuno Costa gosta de ter “Ornatos Violeta”.