Lembra-se do que fez
no passado dia 14 de Março? Não? Pois fique
a saber que, nesse dia, uma jovem de 21 anos, na Covilhã,
apresentou na secção da Covilhã da
PSP, uma queixa contra o seu próprio marido, de
26 anos, acusando-o de cerca das 22 horas e 50 do dia
anterior, no interior da residência que coabitam,
a ter agredido por forma a causar-lhe hematomas nos braços
e no rosto, dos quais teve que receber tratamento hospitalar.
Tratou-se de mais uma denúncia de violência
doméstica que, muitas vezes, são abafadas
e ficam entre as quatro paredes da casa, sem nunca se
saberem. O medo de represálias acaba por limitar
as vítimas a apresentarem queixas, uma tendência
que, nos últimos anos, segundo a Associação
de Apoio à Vítima, tem vindo a ser alterada.
Na Beira Interior, por exemplo, entre Janeiro e Setembro
de 2004, esta entidade registou 142 casos de violência
doméstica. No distrito de Castelo Branco foram
89, e na Guarda, 53.
Em território albicastrense, das 89 queixas apresentadas,
32 eram relativas a maus-tratos físicos, 26 a maus-tratos
psicológicos, 19 a ameaças e coacção,
cinco por injúrias e seis por abuso sexual, sendo
outra relativa a uma situação não
especificada. Já na Guarda, dos 53 casos, 19 foram
por maus-tratos físicos, 14 de âmbito psicológicos,
13 por ameaças ou coação, dois por
injúrias, dois por violação e três
por abuso sexual.
Novo gabinete apoia vítimas em Castelo
Branco
Uma das dúvidas que se coloca quase sempre às
vítimas de violência doméstica é
a quem recorrer. Talvez por isso terem surgido, no País,
gabinetes de apoio a estas vítimas, o que também
aconteceu na passada segunda-feira, 4, em Castelo Branco,
através da PSP da cidade. O Gabinete de Apoio à
Vítima de Violência Doméstica é
um espaço reservado, que pretende apoiar e encaminhar
os cidadãos que sofrem daquele tipo de agressão
e que resulta do aumento desse tipo de crime. A PSP albicastrense
já registou nos primeiros meses deste ano 22 casos,
mas apenas os que chegam aos tribunais, já que
existem situações em que as pessoas apresentam
queixa e no dia seguinte, retiram-na. Segundo Martins
Cruz, comandante da PSP albicastrense, este gabinete poderá
vir a contar com o apoio de outras entidades, casos da
Câmara de Castelo Branco, Segurança Social
e até mesmo de empresas, como hipermercados, que
darão o seu apoio às famílias que
devido àquele problema ficam carenciadas. O novo
espaço vai impedir que vítima e agressor
se cruzem dentro das instalações da Polícia,
quando ambos têm que prestar depoimentos. Segundo
este, existem grandes objectivos a atingir com a criação
do Gabinete. Um deles é o de acolher e informar
as vítimas dos seus direitos e deveres, o outro
é de apoiá-las e encaminhá-las para
as instituições competentes, e acompanhá-las
durante todo o processo. O Gabinete funcionará
com três agentes especializados, pelo que os procedimentos
de atendimento serão alterados. “O que ainda
sucede é que uma pessoa vítima de violência
doméstica quando vem à esquadra apresentar
uma queixa é ouvida pelo graduado de serviço.
Ele até pode fazer um atendimento personalizado,
mas surgem dois inconvenientes graves: o primeiro é
a vítima poder ser uma mulher e ter que estar a
contar o sucedido, por vezes situações relacionadas
com a vida sexual, a um agente homem. O segundo diz respeito
à probabilidade de se cruzar com o agressor. Ora
com este Gabinete isso não acontece, pois além
do espaço próprio onde a vítima será
ouvida, no caso de ser uma mulher é atendida por
uma agente, e se for um homem é ouvido por um agente”
diz. Martins Cruz lembra que os agentes afectos ao gabinete
irão receber formação especializada,
com psicólogos e sociólogos.
|