Foi há quase
dois anos que tudo começou. Com a conclusão
da primeira fase das obras, que incluíam o segundo
relvado e as pistas de atletismo, bem como as bancadas
e todas as estruturas de apoio, o Complexo Desportivo
da Covilhã estava apto a receber provas oficiais.
Ficavam a faltar, como ainda acontece, os pavilhões,
as piscinas, e o estádio de futebol. Mas pelo menos
uma parte da estrutura estava a 100 por cento e pronta
a ser utilizada. E assim foi.
Cerca de duas semanas após a conclusão efectiva
o espaço recebia a sua primeira prova oficial:
o Agrupamento das Beiras. Foi a 25 de Abril de 2003. Tarde
chuvosa que não impediu uma enchente. E a estreia
nem podia ser melhor. Nessa mesma tarde, Tiago Rato, então
em representação do local Desportivo da
Mata, entrava para a história do Complexo Desportivo
como o primeiro a bater um recorde distrital no recinto,
no seu caso, em triplo-salto.
Ainda não tinha decorrido uma semana sobre o primeiro
evento, e já o recinto recebia nova prova, ainda
mais importante. O I Meeting Internacional, realizado
no dia 3 de Maio seguinte. Uma prova que trouxe à
cidade serrana atletas de várias nacionalidades,
mas em que as estrelas maiores eram mesmo nacionais. Francis
Obikwelu, Rui Silva e Carlos Calado lideravam uma comitiva
de atletas de luxo oriundas, na sua maior parte, do Sporting
Clube de Portugal.
Não foram batidos recordes, por um lado porque
a época estava mesmo a começar e os atletas
ainda não tinham atingido a forma ideal, por outro
porque, em algumas modalidades, o vento acabou por ser
prejudicial. Ainda assim, no final, atletas e técnicos
consideravam ter-se tratado de um excelente teste para
os campeonatos nacionais e europeus que se aproximavam.
Mas mais importante foi, talvez, o reconhecimento, por
parte de pessoas habituadas aos grandes palcos mundiais,
da qualidade da estrutura. Elogios que se sucederam em
cada prova e evento realizado no Complexo Desportivo.
E tudo isto ainda antes da inauguração,
que só seria oficializada pelo, então, primeiro-ministro
Durão Barroso, a 27 de Julho desse ano.
Sp. Covilhã prefere Santos Pinto
Durante estes quase dois anos, o espaço acolheu
um segundo Meeting Internacional, um Campeonato Nacional
de Juniores em atletismo e diversas provas regionais.
Extra atletismo, contam-se também um estágio
da Selecção Nacional de Futebol sub-21 para
o Europeu da categoria que se disputou na Alemanha, em
2004. Para além, do certificado da Federação
Portuguesa de Futebol que indicava o complexo serrano
como apto a receber estágios de selecções
participantes no Euro 2004.
A nível local, o complexo foi ainda utilizado em
competições oficiais pelos Juniores da ADE
e do Sporting da Covilhã. A formação
Sénior dos Leões da Serra chegou a fazer
vários amigáveis no novo relvado, entre
os quais o jogo que marcou a despedida de Nuno Coelho
de partida para o Porto. Mas em competição
oficial, o emblema leonino sempre preferiu o Santos Pinto,
e apenas por uma vez, na segunda jornada da corrente temporada
frente ao Fátima, recebeu um opositor no Complexo.
Rentabilização deficiente
Mas se no que toca a competições, sejam
Regionais, Nacionais ou Internacionais o currículo
é, tendo em conta a idade, impressionante, já
no que se reporta a actividades locais deixa muito a desejar.
Não obstante algumas iniciativas promovidas pela
Câmara, continuam a faltar eventos promovidos pelos
clubes. João Coelho diz que um dos problemas é
que “os clubes do concelho estão mais vocacionados,
historicamente, para provas de estrada e de corta-mato,
e que a vertente de pista ainda não está
completamente desenvolvida”. Mas por outro lado,
os atletas e responsáveis dos emblemas locais que
ali pretendem treinar, dizem estar de “mãos
atadas”. Tudo porque, dois anos após primeira
prova ali realizada, o tão apregoado regulamento
de utilização, prometido desde então,
ainda não está pronto ou, se está,
ainda não foi aplicado. O que impede uma coordenação
mais estreita entre a autarquia e os clubes no que diz
respeito à utilização das pistas
para treino.
Vários atletas que costumam utilizar o Complexo
dizem já terem sido obrigados, durante o Inverno,
a concluir o treino às escuras, uma vez que, na
maior parte das vezes os holofotes de iluminação
eram desligados logo após a conclusão do
treino da equipa de futebol da ADE. Isto para além
de várias queixas pelo facto de as casas de banho
e restantes estruturas de apoio estarem sempre indisponíveis.
Durante a maior parte da semana a estrutura está
completamente fechada, e é necessário, para
treinar, chamar um zelador que ocupa a função
em part-time e que, por isso, nem sempre está disponível.
Dois anos depois, a rentabilização do espaço,
a principal preocupação dos clubes de atletismo
da região e da própria Câmara, ainda
deixa muito a desejar e dá razão às
perspectivas mais pessimistas da altura que temiam que
o Complexo Desportivo Desportivo se viesse a transformar
numa espécie de “elefante branco” se
não fossem definidas rapidamente normas de utilização
para o seu funcionamento.
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