A chuva que se registou nos últimos dias não coloca de lado o cenário de seca
Beira Interior
Apesar da pouca chuva, seca afecta região

Seca moderada. É nesta situação que, segundo o Instituto da água, se encontram a maioria dos concelhos da Beira Interior. Porém, há populações que já são abastecidas por bombeiros, e alguns autarcas apelam à racionalização. No Regadio da Cova da Beira, também há restrições para regar culturas. Apesar de ter chovido um pouco nos últimos dias.


José Manuel Alves
NC / Urbi et Orbi


A chuva, afinal, sempre veio. Nas últimas semanas, choviscou na Beira Interior, mas muito pouco para as necessidades. É que, de algumas semanas a esta parte, há quem espere, em alguns concelhos da Beira Interior, todas as manhãs, pelo auto-tanque dos bombeiros para abastecer garrafões, bilhas e recipientes com água para utilizar durante o dia. As torneiras deixaram de pingar em algumas casas, sobretudo em aldeias dos concelhos do Sabugal, Almeida, Celorico da Beira e Trancoso, no distrito da Guarda. Aldeias como Aldeia Bela, Peva, Carrapichana, Vale de Azares, Cogula ou Corças, já começaram a ser abastecidas pelo auto-tanque. Em Castelo Branco já há dificuldades, mas a situação não é tão grave. É isto que revela o relatório quinzenal do Instituto Nacional da Água (INAG), tornado público na passada semana e que faz uma abordagem geral da seca em Portugal.
Apesar de tudo, a Beira Interior é ainda uma das poucas regiões do País onde este Inverno ainda há territórios onde a seca é classificada como “seca moderada”. Em Portugal já não existem zonas de seca fraca. Todo o resto regista uma seca severa a extrema, segundo os dados do INAG. A Sul da Beira Interior as coisas pioram significativamente.
O estudo faz uma análise exaustiva de diversos parâmetros (precipitação, quantidade de água nos solos ou nas barragens) no período compreendido entre 1 e 15 de Março. Este período, diz o INAG, caracterizou-se “por valores muito baixos de quantidade de precipitação. Os valores ocorridos em Portugal Continental até 15 de Março forma inferiores em 65 por cento (1961-1990) para este período”.
No que toca ao armazenamento em albufeiras, é possível verificar que, por exemplo, nas bacias do Tejo, na Lagoa Comprida, em plena Serra da Estrela, essa capacidade era de 60 por cento, em média, entre 1990 e 2000, e este ano está em cerca de 40 por cento. No Vale do Rossim, o normal é estar nos 40 por cento, um valor que este ano está um pouco abaixo (cerca de 38 por cento). Já a Barragem da Meimoa, que em média se situa nos 80 por cento de capacidade de armazenamento, e que no ano passado ultrapassou esse valor, agora regista pouco mais de 40 por cento. Todas as bacias do Tejo, em conjunto, armazenam 72,4 por cento de água, habitualmente, mas em Março tinham cerca de 59,3 por cento.
Já no abastecimento público de água, o INAG detecta “carências no abastecimento a aglomerados de pequenas dimensões”, em municípios do Interior, entre os quais a Guarda. Apesar de alguns concelhos procurarem diversificar as origens de água com recurso a novas captações e alguns sensibilizarem a população a racionalizar o consumo, a verdade é que no Sabugal, por exemplo, 2,5 por cento da população já está ser afectada com falta de água, 6,5 por cento em Almeida, 8 por cento em Celorico da Beira e cerca de 9 por cento no concelho de Trancoso. Porém, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH) exclui a hipótese de uma catástrofe por falta de água. “A situação de seca é complicada. Mas não vai haver uma catástrofe, porque temos recursos hídricos na origem suficientes afirma Teresa Leitão.