Preços mais baixos na origem
e uma qualidade inferior são condições
para os comerciantes portugueses protestarem
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Associação
Empresarial alerta para má qualidade
“Lojas dos Chineses”
estão por todo o lado
A associação
Empresarial alerta para a má qualidade dos produtos
e para atropelos que se cometem no país de origem
para conseguirem preços mais baixos. Mas os clientes
lembram a crise e dizem que não têm razões
de queixa.
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Ana Ribeiro
Rodrigues
NC / Urbi et Orbi
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Começaram por chegar
ao Interior do País com os restaurantes, numa altura
em que também surgiam em Portugal as “lojas
dos 300”. Entretanto essas lojas, que havia por todo
o lado, acabaram por perder alguma força, embora
ainda existam muitas a funcionar com base no mesmo princípio:
vendem de tudo um pouco, desde material escolar a produtos
de higiene e limpeza, e sobretudo artigos de decoração
a preços mais baixos que o habitual noutros estabelecimentos,
se bem que têm produtos para vários preços.
Depois dos restaurantes os chineses começaram a apostar
na região, tal como acontece por todo o País,
em lojas onde também se vende de tudo. E não
há cidade que não tenha pelo menos uma.
Normalmente, e como acontece no Fundão e Covilhã,
esses espaços comerciais estão bem situados,
em locais amplos e a falta de clientes, como acontece em
muitas lojas de comércio tradicional, parece ser
um problema que não lhes bate à porta, tendo
em conta o movimento que têm a qualquer hora do dia.
O segredo? Não só os preços baixos,
que segundo os clientes muitas vezes não se confirmam,
mas a variedade e diversidade de produtos, que já
não são só os que havia nas “lojas
dos 300”. Passaram a ter também, por exemplo,
roupa, calçado e até cosméticos.
O que é facto é que este tipo de estabelecimentos,
tal como acontece também com as chamadas “lojas
indianas”, têm proliferado e estão disseminadas
por todo o lado, numa espécie de “invasão”
de artigos destes países, a que os portugueses aderiram.
Delfina Duarte diz que tem o hábito de entrar na
loja Hua Xia, situada na zona do pelourinho, na Covilhã,
para ver o que têm de novo, porque estão sempre
a chegar novos produtos. Para esta covilhanense é
bom na cidade haver este espaço, por onde se pode
optar. Delfina Duarte diz que compra aqui algumas coisas
a preços acessíveis e que vale sempre a pena
passar por esta loja de grandes dimensões, mas sublinha
que nem sempre os preços são atractivos. E
dá o exemplo dos produtos de higiene, que garante
serem mais caros que nas outras lojas.
Dificuldades económicas obrigam a procurar o mais
barato
A adesão a estas lojas Delfina, tal como outros clientes,
justifica-a com a situação económica
que se vive, numa região em que o desemprego atinge
números cada vez mais preocupantes. Para além
disso lembra os baixos salários da maior parte da
população. Por isso parece-lhe natural que
as pessoas optem pelo mais barato, o que por vezes se consegue
nestas lojas. Uma situação que pode acabar
por ter repercussões no comércio tradicional.
Mas na perspectiva de Delfina Duarte as pessoas estão
preocupadas é em gerir o seu orçamento para
que haja dinheiro até ao final do mês, e entende
que não deve ser o cliente a preocupar-se com isso,
e sim os comerciantes a encontrar soluções.
Miguel Bernardo, responsável executivo da Associação
Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor, frisa
que a China é o país cuja balança comercial
mais tem crescido favoravelmente. “Eles beneficiam
de vantagens do próprio governo e têm tido
apoios que com certeza não são conhecidos,
mas suspeita-se que existe essa relação, para
escoarem os seus produtos no estrangeiro”, sublinha.
Miguel Bernardo diz que entende as dificuldades económicas
das pessoas, mas salienta que os clientes devem ter consciência
que quando compram uma calças mais baratas que na
distribuição normal, que provavelmente nem
têm os mesmos acabamentos, podem estar a comprar umas
calças feitas por uma criança que não
foi à escola, ou um rádio a alguém
que não trabalhou 8h mas sim 16horas. “O estado
chinês permite isso e os consumidor tem de desenvolver
um espírito crítico”, acentua. Este
responsável sublinha ainda que ao olhar para a questão
unicamente na perspectiva do preço podemos estar
a pôr em causa o nosso próprio emprego e a
contribuir para a violação de direitos em
países como a China.
“Não beneficiam a economia local”
Os proprietários da loja Hua Xia, que têm outro
estabelecimento no Fundão, preferem não responder
a estes comentários, mas vão dizendo que na
loja vendem também muitos artigos que não
são chineses. Para além disso o presidente
executivo da Associação Empresarial questiona
a qualidade desses produtos. “O consumidor deve pensar
se o importante é ter um relógio por dois
meses ou um que dure mais tempo, com as garantias e qualidade
que permitem o uso mais prolongado do produto”.
Delfina Duarte diz que não tem razões de queixa
nesta matéria, tal como Ana Silva, que garante não
se arrepender do que compra. Já Rita Santos, que
está com o filho no corredor dos brinquedos, entende
que os produtos “não são assim tão
baratos, porque não têm a mesma qualidade”.
De qualquer forma diz que de vez em quando vem dar “uma
volta” a este tipo de lojas, onde sempre acaba por
comprar qualquer coisa.
Miguel Bernardo considera que este comércio não
beneficia a economia local porque o resultado das vendas
não é aplicado na região e não
gera emprego para residentes. No entanto é possível
verificar que, ao contrário do que acontecia antes,
em que trabalhavam apenas com pessoas da comunidade e quando
abriam um novo negócio vinham familiares da China,
cada vez se vê mais nestas lojas empregados portugueses.
Talvez pela contingência de satisfazer uma necessidade
imediata. O responsável da AECBP alerta para as situações
precárias e mesmo sem ditreitos que por vezes se
constatam no País. Mas também sobre isso os
proprietários da Hua Xia preferem não tecer
qualquer comentário, dizendo que não se conseguem
fazer entender bem.
Miguel Bernardo frisa que quando lhe chega alguma queixa,
encaminha a investigação para as entidades
a quem compete fiscalizar. E salienta que é importante
ter em atenção se os produtos cumprem as directivas
e regulamentos a que estão obrigados, assim como
se foram devidamente tarifados na alfândega.
À margem destas preocupações estão
os consumidores, que enquanto aqui continuarem a satisfazer
algumas necessidades, em muitos casos a preços convidativos,
continuam a procurar estas lojas. |
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