Anabela Gradim
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Verde te quero
ver
A Covilhã está
muito mais bonita desde que a Câmara tratou de ajardinar
e arranjar as numerosas rotundas da cidade. Parece pequeno,
mas faz toda a diferença no aspecto da cidade e
na sua «habitabilidade». Os covilhanenses
que vivem alcandorados nas faldas da serra deveriam agradecer
muito – só não sei exactamente a quem
– o facto de a divisão de jardins da Câmara
ter iniciado o ajardinamento e a plantação
de árvores e flores numa série de espaços
públicos. Não só nas rotundas, mas
também na envolvente de alguns prédios da
cidade.
Num País onde toda a gente parece achar normal
(a prova é que compram) o facto de as urbanizações
ficarem sistematicamente a meio, e de os arranjos exteriores
das casas e prédios muitas vezes não serem
concluídos; ou, quando se concluem, não
serem depois objecto de qualquer tipo de conservação
por parte dos proprietários, cuidar destes espaços
públicos pode fazer toda a diferença na
inversão da cultura dominante.
Também o gosto se educa, e daí que a iniciativa
da Câmara, além dos benefícios directos
que comporta para a cidade, poderá, do meu ponto
de vista, a médio e longo prazo ter um efeito pedagógico
e multiplicador na própria gestão dos espaços
privados. Muita da feiura que ensombra subúrbios
e cidades é uma questão cultural e de gosto,
e poderia ser resolvida de formas relativamente económicas.
É por razões culturais, e não estritamente
económicas, por exemplo, que os povoados alentejanos
têm regra geral muito melhor aspecto do que os do
norte. Porque os que os habitam, mesmo pobres, colocam
cuidado no arranjo dos espaços públicos
e exteriores, incluindo a cerimónia anual do caiar
das casas, que espero nunca entre em desuso.
Quando falo de efeito pedagógico, e multiplicador,
acredito que ele existe mesmo. Há uns anos, em
viagem, passei salvo erro no Alvito, que oferecia um espectáculo
comum nas terras alentejanas: muito calor, muitos idosos,
ruas imaculadamente limpas. E queria apagar um cigarro
– mas não fui capaz. Em vão procurei
vestígios de outras pontas no chão; ou mesmo
uma papeleira amiga: e não havia, nem um nem outro.
O arranjo dos espaços públicos, para além
do bem objectivo que configuram - eles tornam, de facto,
a cidade muito mais bonita - pode ter o mesmo efeito pedagógico
e educador se, cá vai um grande Se, for trabalhado,
conservado e mantido de forma a que perdure no tempo.
Imagino que seja mais económico ajardinar um espaço
verde, em vez de lá plantar um mono de betão
ou metal ferrugento e intitulá-lo de «arte
pública». Mas o mono é quase certo
que não precisa de conservação (o
verdete ou a ferrugem fazem parte da pátine da
obra), o jardim certamente a consumirá em grandes
doses. Mas vale a pena. Não haja sombra de dúvidas
– vale mesmo a pena.
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