José Geraldes
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Crise
: decisão e mudança
São de crise
os tempos que vivemos. A afirmação nada
tem de original e ouve-se no mercado, nos cafés
e nos táxis. Todos estão de acordo com a
sua existência. A nível individual e a nível
geral.
O escritor francês e também filósofo
do existencialismo, de origem argelina, Albert Camus deixou,
após a sua morte, um texto inédito intitulado
“A crise do Homem” que, passados quase 60
anos, permanece actual. Que diz o texto?
Começando por definir a crise, Camus considera-a
como “o terror suscitado por uma corrupção
de valores que faz com que um homem ou uma força
histórica sejam julgados não em termos de
dignidade humana mas em termos de sucesso”. Depois
enuncia uma descoberta terrível: “Alguns
homens são inteiramente inacessíveis à
persuasão”. E continua: “ Graças
aos papéis, aos escritórios, aos funcionários
nasceu um mundo de onde desapareceu todo o calor humano”.
Sobre “ a transformação do homem em
político”, Camus lamenta que “as paixões
não sejam privadas mas colectivas e abstractas
e apenas conte o triunfo de uma doutrina”. Com tristeza,
nota que a tendência para o culto da eficácia
e da abstracção leve “ao triunfo da
solidão e do silêncio”. E, para justificar
a afirmação, escreve com ênfase: “
Na medida em que pensamos que nada tem sentido, devemos
concluir que aquele que tem razão, é aquele
que triunfa”.
O escritor não se deixa vencer pelo pessimismo
e prefere encontrar caminhos pela positiva. O seu projecto
é afirmar positivamente “os valores capazes
de dar um fundamento à acção. Ou
seja, “criar valores positivos capazes de conciliar
um pensamento negativo com a possibilidade de uma acção
positiva”. Sob o ponto de vista religioso, Camus
declara sem sofismas que “o Absoluto não
é um problema de todos mas de cada um”.
Corrupção de valores, procura exclusiva
do sucesso, aposta somente na eficácia das coisas,
falta de calor humano, relativização da
dignidade humana, solidão, ausência de sentido
da vida, inexistência de valores positivos, eis
o que caracteriza o nosso tempo. Situação
igual à que se verificava na data em que Camus
escreveu o seu texto.
Será que o Homem é incapaz de se transformar
e de mudar o seu tempo? A História comprova a possibilidade
de alterar o estado das coisas.
Indo à raiz grega da palavra crise, vemos que significa
decisão. E a expressão latina quer dizer
mudança. Ora sempre os homens foram capazes de
tomarem decisões e operarem mudanças.
O importante é terem vontade política de
não terem medo de tomar as decisões mesmo
que sejam impopulares mas que se afigurem necessárias
para o bem comum e de protagonizarem as mudanças
que se impõem para o melhor bem-estar colectivo.
Tantos homens e mulheres figuram na galeria da História
por decisões e mudanças que tomaram para
bem do seu povo.
Como observou John Kennedy, escrita em chinês, a
palavra crise compõe-se de dois caracteres: um
representa o perigo e o outro a oportunidade. Duas faces
da mesma moeda mas que podem dar origem a um novo destino.
E é em tempos de crise que se conhecem os verdadeiros
homens.
O País a viver uma crise difícil espera
que os homens que escolheu nas eleições,
tenham a coragem de tomar as decisões sábias
e proceder às mudanças oportunas. Mesmo
correndo riscos para que o futuro de todos seja assegurado
de acordo com os nossos valores.
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