Urbi @ Orbi
- De uma maneira geral, quais foram os motivos que vos
levaram a construir o projecto “fantasma”?
Pedro Fonseca - Nas últimas eleições
para o Núcleo de Estudantes de Economia, em Maio,
apresentámos um projecto semelhante. Soubemos que
em Vila Real tinha sido formada uma lista fantasma e resolvemos
pegar na ideia. O nosso objectivo inicial era mentalizar
os estudantes de que existem problemas e é necessária
uma mobilização para que sejam resolvidos.
U@O- E que problemas são esses?
P. F. - Temos muitas questões por resolver
no pólo do Ernesto Cruz. O principal problema é
o elevado número de alunos para umas instalações
tão pequenas. A nossa Biblioteca, o bar e a papelaria
não conseguem comportar tantos estudantes. Somos
obrigados a ter aulas em salas interiores, onde é
muito complicado permanecer, sobretudo na época
de maior calor. Por outro lado, o pólo só
funciona até às 19 horas. Os equipamentos
informáticos e as próprias residências
novas deixam muito a desejar em matéria de qualidade.
Entretanto, as licenciaturas de letras foram transferidas
para o Pólo I, mas com a abertura de mais um ano
de cursos como Marketing e Psicologia, a diminuição
de alunos é irrelevante.
U@O- Relativamente aos resultados das eleições,
registou-se uma elevada taxa de abstenção...
P.F.- De facto. Os números chegaram aos
87%. Sinto que parte da culpa foi nossa, porque apelámos
ao voto na Mesa da AGA e ao voto de protesto nos restantes
órgãos da AAUBI (Direcção
e Conselho Fiscal), que não nos interessavam tanto.
Talvez alguns colegas tenham sentido que o seu voto não
era necessário. De qualquer modo, o problema da
abstenção estende-se a nível nacional.
Há um desinteresse generalizado por estas questões,
um pouco por se ter instalado a ideia de que um voto não
pode modificar nada. A Lista Fantasma tentou combater
isso.
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"Candidatámo-nos devido ao feedback
dos estudantes" |
U@O- A vossa campanha foi pautada pela originalidade.
Porque seguiram essa via?
P. F. - Quisemos, essencialmente, pôr a
descoberto os problemas da Academia. Apostámos
numa imagem de marketing forte, que pudesse chamar a atenção
dos estudantes em geral. Tínhamos uma mensagem
para passar e foi esta a melhor forma que encontrámos
para o fazer.
U@0- Por outro lado, mantiveram o anonimato quase
até à última hora...
P. F. - Sim. Uma Lista Fantasma é, obviamente,
anónima. No último dia de campanha (segunda-feira,
7 de Março), a Lista Fantasma deixou de o ser,
dando lugar à Lista F. Passámos o fim-de-semana
reunidos a decidir se haveríamos de avançar
ou não com a candidatura. Optámos por essa
via devido ao feedback que nos chegou, vindo dos estudantes
em geral.
U@O- O humor que utilizaram ao longo da campanha
não vos terá retirado, junto dos estudantes,
alguma credibilidade?
P. F. - Antes de mais, o nosso objectivo nunca
foi ganhar as eleições. Para o fazermos,
teríamos de ter aberto mais a nossa lista. Na verdade,
do nosso grupo de trabalho constavam apenas alunos das
licenciaturas em Matemática-Informática,
Economia, Gestão e Sociologia. Porém, ao
elaborar a lista, não tive a preocupação
de vencer. O objectivo era transmitir aos colegas que
a academia não está bem e que muita coisa
pode (e deve) ser feita. O humor foi a via que escolhemos,
como já referi, para chamar a atenção
das pessoas e pô-las a reflectir sobre o actual
estado de coisas. Sentimo-nos vencedores só pelo
feedback que obtivemos. Além disso, 35% dos votos
para a Assembleia Geral é algo de notável
para uma Lista Fantasma.
"Nuno Costa encontrou a AAUBI numa situação
extremamente complicada"
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U@O- Recorrendo ao humor, a Lista também
falou de muita coisa a sério...
P. F.- Sim, claro. Sentimos que muitas coisas
têm de mudar na nossa Academia. Questões
como os horários, o processo de candiatura às
bolsas e o Gabinete de Estágios constituem algumas
das nossas preocupações. Em relação
aos pólos da Ávila e Bolama, chegou-nos,
essencialmente através dos nossos colaboradores
de Matemática-Informática, um conjunto de
problemas, entre os quais o sistema de presenças
adoptado em muitas cadeiras. A esse respeito, gosto de
citar parte de um texto elaborado pelo núcleo de
Psicologia e apresentado, creio, no último Fórum
de Pedagogia: " Este critério admite que não
há motivação para ir à aula;
decorrerá esta desmotivação só
do desinteresse do aluno ou de aulas desmotivantes?"
U@O- O que esperam do próximo mandato de
Nuno Costa?
P. F. - O Nuno é meu colega de Economia
e a par disso temos muitas outras afinidades. Ele encontrou
a Associação Académica numa situação
extremamente complicada, sobretudo em termos financeiros.
Acredito que ele já fez um trabalho muito grande
no sentido de colmatar parte dessas dificuldades e espero
que assim continue. O Movimento Fantasma ajudará
no que for necessário.
U@O- Vão estar presentes na tomada de posse
da AAUBI, no dia 16?
P. F. - Certamente que sim. Faço questão
de ir dar todo o meu apoio ao colega e amigo Nuno. Sou,
inclusivamente, colaborador do grupo de trabalho dele
no mandato que ainda vigora. A Lista Fantasma irá
lá estar, para o congratular. A ele e à
sua equipa de trabalho.
U@O- Irão continuar a “assombrar”
a Academia?
P. F. - Claro! Vamos tentar manter com o projecto
fantasma. Já temos um sítio na internet
(http://movimento.fantasma.tripod.com) e vamos continuar
por aí, atentos aos assuntos da Academia e intervindo
sempre que se justifique.
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