O Núcleo de
Estudantes de Química da UBI (UBIQuímica)
promoveu, pelo terceiro ano consecutivo, as Jornadas Nacionais
de Bioquímica que tiveram lugar entre os dias 4
e 6 de Março. A descoberta de terapias eficazes
para doenças que acarretam grandes custos humanos
e económicos como a esquizofrenia, a rara doença
de Batten e o cancro, são questões que preocupam
os cidadãos em geral. O mesmo se pode dizer da
descoberta de novos fármacos e da aplicação
da Bioquímica nos processos de atribuição
de paternidade, identificação de um criminoso
e avaliação do envolvimento de causa tóxica
em determinada morte.
Entre as várias actividades do laboratório
dos Serviços de Genética e Biologia Forense
do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) consta
a realização de perícias referentes
a casos de parentesco, criminalística biológica
e identificação genética individual,
designadamente de restos cadavéricos. A investigação
biológica de paternidade é o tipo de perícia
mais frequentemente solicitado sendo secundado por perícias
relacionadas com a identificação de autores
de crimes no âmbito das agressões sexuais.
Nestes casos o grande objectivo da prova pericial é
ajudar o juiz a apreciar e a valorizar as provas materiais
existentes.
A Bioquímica é uma das licenciaturas privilegiadas
quando se abre um concurso em medicina legal para a ocupação
dos quadros de um destes laboratórios. No entanto,
estes concursos são raros e os quadros pequenos
o que implica que sejam poucos os jovens a conseguir trabalho
nesta área logo nas primeiras tentativas. Segundo
a doutora Maria Fátima Pinheiro, Directora do Serviço
de Genética e Biologia Forense da Delegação
do Porto do INML, na área forense, “Portugal
encontra-se ao mesmo nível de qualquer país
europeu e de qualquer laboratório dos Estados Unidos
da América”. Para ela, este tipo de conferência
permite aos alunos consciencializarem-se das potencialidades
que existem em Portugal e dar uma perspectiva aos alunos
sobre o que querem fazer no futuro. Na Toxicologia Forense,
primeira ciência forense a ganhar autonomia no seio
da medicina legal, a sua participação pode
ser solicitada no âmbito de avaliação
de risco toxicológico, na determinação
de alterações do comportamento dos indivíduos
sob efeito de substâncias, em aspectos de saúde
pública ou mesmo a nível de desastres em
massa de origem tóxica. Um dos aspectos em que
o papel desempenhado pela Toxicologia Forense é
fundamental é na realização de exames
toxicológicos de referência na definição
do estado de influenciados por álcool ou substâncias
legalmente consideradas estupefacientes ou psicotrópicas
a nível da condução rodoviária.
Em Portugal a sua função principal é
mais de prevenção do que no estudo do surgimento
de novas substâncias tóxicas, isto porque
o nosso país é mais um país de passagem
para essas substâncias do que de consumo.
Foram vários os temas
em discussão durante as jornadas
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Indústria farmacêutica e genética
em destaque
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A Indústria farmacêutica é uma área
fundamental para o aumento da qualidade de vida das populações
que integra áreas como a Medicina, Farmacologia,
Química, Física, Biologia e até Matemática.
A descoberta de novos fármacos, possuindo as propriedades
biológicas e terapêuticas desejadas, representa
o culminar de um longo processo de investigação,
na indústria farmacêutica, envolvendo tipicamente
centenas de milhar de compostos químicos. A abordagem
a algumas das técnicas aplicadas em diferentes
fases do processo de design de novos fármacos e
as suas vantagens e limitações foram assim
discutidas através de exemplos concretos. Foi também
apresentado um projecto desenvolvido no âmbito de
uma colaboração com a indústria farmacêutica
BIAL.
Outro dos aspectos focados nas jornadas foi o cancro,
uma doença multifactorial resultante da interacção
de factores ambientais e factores genéticos. Por
vezes a mutação existe nos genes, mas apenas
se manifesta após a exposição do
indivíduo a factores desencadeantes ambientais,
como a radiação e o fumo do tabaco. O mesmo
tipo de processo pode ocorrer na esquizofrenia, uma patologia
comum e incapacitante. Para além destas doenças
existem também as chamadas doenças raras
como é o caso da doença de Batten. Esta
é uma doença hereditária do sistema
nervoso central com início na infância, manifesta-se
entre os cinco e os dez anos, e em que a morte do doente
ocorre na fase final da adolescência. Trata-se de
uma doença para a qual ainda não existe
cura, apenas terapias compensatórias que não
conseguem evitar o desfecho final. É nestes casos
que a investigação genética pode
ser o grande passo para se salvarem milhões de
vidas. Apesar de o painel de temas ser muito interessante,
variado e actual, houve uma menor adesão às
jornadas deste ano, 82 alunos inscritos face aos 107 do
ano passado. O balanço feito por Tiago Capote,
presidente da direcção do UBIQuímica,
é, no entanto, positivo. “Houve um feedback
muito positivo, as pessoas mostraram-se intervenientes
e interagiram bem com os oradores o que não é
muito habitual entre alunos e investigadores".
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