Urbi et Orbi
- Como define o seu cargo de pró-reitor?
José Carlos Venâncio - As minhas
funções neste cargo estão ligadas
ao sentido de humanizar e estreitar as relações
da UBI com os espaços de língua portuguesa,
com o mundo lusófono. No fundo, eu sou o pró-reitor
para a cooperação, um lugar que passa pela
dinamização dessas relações.
Esta dinamização passa também pelo
contacto com professores, por acções de
investigação, pelo sentir a academia de
estudantes, prestando apoio aos alunos dos países
lusófonos que estão na UBI. Sou, em relação
a eles, qualquer coisa como um provedor.
U@O - É também presidente do Departamento
de Sociologia?
J. C. V. - Sim, um cargo que os meus colegas
julgaram que eu deveria voltar a ocupar. Esta foi uma
tarefa, uma “incumbência” com a qual
não estava a contar, mas que tive de assumir. Sou
presidente deste departamento pela terceira ou quarta
vez. Ainda me recordo de estar neste cargo quando, para
além do curso de Sociologia, havia também
o curso de Comunicação Social no Departamento.
Estou também empenhado em acções
de investigação e na organização
do V Congresso de Estudos Africanos no Mundo Ibérico,
que terá lugar em Abril de 2006.
U@O - Sociologia é um dos cursos que tem
sempre as suas vagas preenchidas. Como explica isso?
J. C. V. - A sociologia é uma área
internacionalmente reconhecida, com um espaço de
intervenção social onde o mercado de trabalho
tem absorvido bem os licenciados. Depois, um segundo factor
tem a ver com o facto de a sociologia portuguesa ter conquistado
um espaço público determinado, indo nomeadamente
de encontro às necessidades do mercado. E aqui,
na UBI, temos feito esforços no sentido de acompanhar,
numa situação de primeira linha, essas tendências.
"Vejo a Sociologia
como um espaço de intervenção
social"
|
"A sociologia vai conquistar o seu espaço
próprio em vários domínios
da sociedade."
|
U@O - Considera que o mercado de trabalho ainda
precisa de mais sociólogos?
J. C. V. - O grau de empregabilidade nesta área
é bom. Temos um projecto que decorre há
algum tempo, no âmbito do Centro de Estudos Sociais,
liderado pela professora Maria João Simões
e pelo professor Alcides Monteiro sobre a empregabilidade
dos nossos licenciados de sociologia que nos revela quadros
muito animadores a esse respeito. Aliás, os dados
recolhidos foram utilizados no Relatório de Auto-Avaliação
da licenciatura, permitindo-nos obter uma boa classificação
nesse preciso item e em termos gerais.
U@O - Falou no Centro de Estudos Sociais, do qual
também faz parte…
J. C. V. - Sim, neste momento sou ainda o presidente,
mas vamos ter eleições em breve e um dos
meus colegas assumirá, como espero, o cargo. Tenciono
ficar apenas ligado aos corpos sociais numa posição
recuada.
U@O - Quais são os principais projectos
desenvolvidos no CES?
J. C. V. - São vários, eu próprio
estive ligado a três e, agora, a dois. Coordenei,
por parte do CES-UBI, o ConVidas, que será, segundo
esperamos, substituído e continuado pelo COMpasso.
Liderei a equipa de avaliação do LEADER
+, com implantação na área de intervenção
da Aderes – Associação de Desenvolvimento
Rural Estrela-Sul. E ainda estou ligado a um outro projecto
sobre a pintura cabo-verdiana, cujos primeiros resultados
constituem um capítulo do livro que publicarei,
ainda este ano, na Editorial Estampa, que tem por título,
A dominação colonial. Protagonismos e heranças.
Está igualmente prevista, no âmbito do congresso
de que lhe falei, uma exposição de pintura
cabo-verdiana, da qual farão parte pintores de
Cabo Verde, naturalmente, os mesmos que têm sido
objecto de estudo deste projecto.
Mas o CES-UBI desenvolve ainda, entre outros, os seguintes
projectos, tais como: Dinâmica sócio-económica
da fileira da madeira em concelhos do Pinhal Interior:
uma análise atraves do conceito de meio inovador
(coordenado pela minha colega Maria João Simões);
Avaliação das Redes Sociais dos concelhos
Fundão, Seia e Guarda, onde colaboram os colegas
Alcides Monteiro, Maria João Simões e Alcino
Couto, para além dos técnicos do CES.
U@O - Todos estes projectos tentam ligar a UBI
à comunidade envolvente?
J. C. V. - Sim. A maioria dos projectos do CES-UBI
envolve o meio em que a UBI está inserido. Trata-se,
aliás, de projectos que envolvem vários
parceiros da região. Geralmente cabem ao CES-UBI
as tarefas de investigação científica
e o acompanhamento técnico.
"A lusofonia só tem pujança porque
vivemos numa situação pós-colonial." |
"Há dois sentidos de lusofonia" |
U@O - O que é para si o conceito de lusofonia?
J. C. V. - Eu diria que há dois sentidos
de lusofonia. Um deles mais vivencial, aquele que nos
diz que somos lusófonos, na medida em que falamos
a língua portuguesa e nela nos revemos em termos
identitários. Depois há um outro sentido,
mais institucional, que está ligado à política
e à governação, invocado, então,
no sentido de dinamizar todo um conjunto de possíveis
afinidades em proveito de um projecto comum e eventualmente
diferenciado de um espaço construído pela
globalização que, muitas vezes, se confunde
com o que podemos designar por anglo-saxonização.
U@O - É, portanto, difícil encontrar
uma definição unânime do conceito?
J. C. V. - Sem dúvida. Ele foi decalcado
do conceito de francofonia. Há quem, aliás,
veja quer a francofonia, quer a lusofonia como formas
de perpetuação da dominação
colonial. O que é, naturalmente, controverso.
U@O - Com o aparecimento das novas tecnologias,
com a aproximação das diferentes culturas,
o espaço lusófono está mais pequeno?
J. C. V. - Existe, de facto, uma nova forma de
estar e de encarar a lusofonia. Os novos meios serviram
como aproximação de culturas, servindo para
aproximar mais os diferentes falantes de português
no mundo.
U@O - Foi já distinguido com o prémio
Gilberto Freyre, da Fundação Oriente. Acha
que estes reconhecimentos funcionam como incentivos para
o desenvolvimento de trabalhos de investigação
nesta área e como tal deveriam ser em maior número?
J. C. V. - Quanto aos prémios, sou a favor
destes, até porque o valor é quase sempre
aplicado em novos projectos de investigação,
como foi o meu caso.
"Há um défice
grande nas trocas culturais"
|
"Portugal ainda está de costas viradas
para as grandes transformações"
|
U@O - Nos últimos tempos tem-se registado
um aumento no número de estudos sobre as relações
culturais entre Portugal e os PALOP’s, nomeadamente
teses de mestrado e doutoramento?
J. C. V. - Não sei. Creio que ainda se
regista um défice muito grande nesse campo. Sou
da opinião que Portugal ainda está de costas
viradas para as grandes transformações que
estão a acontecer em determinados pontos do globo,
nomeadamente na Ásia e na África.
Há alguns anos organizámos, a minha colega
Johanna Schouten e eu próprio, um colóquio
sobre as relações entre Portugal e a Ásia
do Sudeste. Infelizmente a participação
da classe empresarial foi mínima.
U@O - Mas já estão dados alguns
passos no sentido de mudar esta situação?
J. C. V. - Sim. Veja-se o caso da Fundação
para a Ciência e Tecnologia (FCT). Através
do professor Ramôa Ribeiro e do engenheiro Armando
Trigo de Abreu conseguimos que fosse constituído
um painel específico para os Estudos Africanos.
Mas isso só não basta. E a Ásia?...
E as outra instituições com vocação
para apoiar a investigação? As universidades?
U@O - Há algum tempo falou-se na criação
de um Centro de Estudos Lusófonos na UBI…
J. C. V. - A ideia ficou por aí. Isto
porque, e ao abrigo do que disse sobre a lusofonia, tem
de se ter em atenção que o conceito não
é unanimemente bem aceite. Este pode ser entendido
como qualquer coisa que “cheira” a neo-colonialismo.
O Centro de Estudos Lusófonos, que julgo ser de
extrema importância, criado aqui na UBI e/ou noutra
Universidade, corre sempre o risco de ser identificado
com posturas neo-colonialistas e por isso tem de ser muito
bem organizado e justificado.
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