Por Mayra Fernandes


Uma peça diferente a dar outra dinâmina ao teatro universitário

Na noite de sábado, dia 5 de Março, o Teatro-Cine recebeu o grupo informal de teatro amador, Tretas, com a peça “La Comédia Tetraédrica”. Esta, veio substituir o clássico “Alice no País das Maravilhas”, do Grupo de Teatro da Universidade do Algarve, que cancelou a sua actuação.
“La Comédia Tetraédrica” é um teatro de cordel, por vezes a rimar, acompanhado por músicos e canções ao vivo. Um cigano, para ganhar a vida, constrói bonecos e conta histórias a partir dos seus sonhos e devaneios. São seus companheiros o Pardal e um burrinho que quando é preciso também dão a sua perninha. O problema é que de vez a vez os bonecos ganham vida e decidem tomar conta da situação.
Com oito pessoas em palco, algumas cadeiras e pouca luz, o Tretas proporcionou ao público um misto de fantasia e erotismo. O que a princípio parecia uma peça infantil, com personagens como o Pierrot, Arlequim, um burrinho e um cigano que poderiam fazer as delícias dos mais pequenos, transformou-se numa grande surpresa, com o diabo à mistura, um conjunto de músicos e uma personagem extremamente sensual (Mim). Quase um musical “La Comédia Tetraédrica” tenta mostrar os mais variados encantos da vida, sem dispensar um desempenho ao nível da expressão corporal deveras fascinante. Trata-se de uma peça moralista interpretativa, em que cada um deve encontrar sua moral. Em jeito de cortina, que separa os actos de uma peça, um dos cantores introduzia um novo acto, uma nova ética ou modo de vida, sendo eles quatro: desafios, tentações, desejos e atitudes, todos eles fomentados pela noite.
O curioso e original trazido pelo grupo algarvio foi uma espécie de rewind. A meio da peça ela recomeça com a troca de papéis, exactamente a mesma história, mas interpretada por personagens diferentes, que nos remete para o roubar a personagem do outro. É aqui que o cigano vai os seus bonecos dominar a situação, ele já não manda nada e se a peça tivesse mais tempo, menos mandaria. Isto, segundo o autor da peça, Pedro Monteiro, reporta-se à epistemologia do teatro: "até que ponto é que o autor/ encenador controla tudo?" No que respeita a essa troca de papéis, a qual por unanimidade foi considerada muito interessante, o segredo do sucesso está num trabalho de preparação fora do comum, que consiste numa média de quatro a cinco meses de ensaio para cada personagem, sendo que todos ensaiam o papel de todos.
Quando questionado sobre a mensagem da peça, o autor algarvio responde: "a vida é uma bebida, cada um destila da maneira que quiser!" Para o Teatr'UBI foi mais uma noite com balanço positivo, contando com a adesão de cerca de 50 pessoas.