Às 21h45 as
pessoas entram na sala do Teatro-Cine da Covilhã.
Sentam-se, acomodam-se e ficam em silêncio. No entanto,
as luzes não se apagam e as cortinas não
se abrem. De repente, no meio do público, levanta-se
do chão um indivíduo com movimentos frenéticos
e surpreendentes. Este foi o início do trabalho
Instantâneos, do Teatr’UBI, que estreou no
passado dia 1 de Março.
Foi com uma peça do grupo teatral “da casa”
que se abriu o IX Ciclo de Teatro Universitário
da Beira Interior, organizado há nove anos pelo
grupo de teatro da instituição académica
da Covilhã.
O grupo teatral da Universidade da Beira Interior apostou
na encenação de uma peça invulgar
no seu currículo, baseada na improvisação,
trabalho corporal e encenações aéreas.
Os 45 minutos de duração do espectáculo
são preenchidos com duas histórias de duas
personagens que tentam criar um fundamento para a realização
de uma peça de teatro fora do comum. “Não
pretendemos passar uma mensagem concreta ao público.
É antes um espectáculo com duas histórias
que entram em confronto e que, instantaneamente, são
apresentadas aos presentes”, salienta Mário
Gomes, actor e director-administrativo do Teatr’UBI.
Este projecto, totalmente original, é uma criação
conjunta de encenadora e intérpretes. “Todos
nós trabalhámos esta peça em conjunto,
sendo, portanto, uma história colectiva”,
refere Filipa Francisco, encenadora da peça.
Instantâneos é uma criação
teatral que mistura desejos e ideias, com música,
dança, e a grande novidade, a incorporação
de encenações aéreas. Durante os
quatro meses de realização deste trabalho,
os actores tiveram aulas onde assimilaram algumas técnicas
para «sobrevoar» os palcos, não havendo,
por isso, qualquer tipo de dificuldade nas provas de suspensão
no ar. “Não houve entrave nenhum para fazermos
movimentos aéreos. Os medos foram superados, até
porque o Teatro-Cine oferece as condições
mínimas para que isso pudesse ser feito”,
explica Mário Gomes.
Outra das características do Instantâneos
é a não linearidade da sua apresentação,
virada para um campo mais experimental. É um trabalho
com base na improvisação, sem textos previamente
estudados, encontrando-se aqui a sua principal dificuldade.
“O mais complicado para os actores é dar
aos espectadores a aparência de que a peça
é sempre nova, o que de facto acaba por acontecer,
visto ser um relato de pensamentos entre duas personagens”,
elucida Filipa Francisco.
No final do espectáculo, a opinião do público
dividia-se. Para Ricardo Marques, estudante de Cinema
na UBI e, também ele, actor de um grupo teatral,
“foi uma peça que teve bons momentos, mas
que poderiam ter sido melhor aproveitados. Falo sobretudo
das encenações aéreas. Ideia gira,
mas pouco desenvolvida.” Em contrapartida, Susana
Gomes, estudante de Ciências da Comunicação,
defende ter sido “uma peça inovadora, no
sentido do Teatr’UBI ter feito algo diferente, que
cativou e chamou a atenção, e que acabou
por primar por isso”.
Depois desta estreia, o Teatr’UBI irá apresentar
o Instantâneos na cidade de Aveiro e ainda no país
vizinho, nas cidades de Ourense, Badajoz e Cáceres,
em Abril. O mês de Maio será a altura de
levar esta peça aos palcos de Lisboa.
Com encenação de Filipa Francisco e interpretações
de Ester Gonçalves, Nathalie Nevada, Mário
Gomes, Rui Pires e Sérgio Novo, a peça Instantâneos
esteve ainda em palco no Teatro-Cine no dia seguinte,
para os que não tiveram oportunidade de assistir
à sua estreia.
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