José Geraldes

Responsabilidade histórica


A vitória do Partido Socialista nas Legislativas 2005 não foi uma surpresa. A dúvida só estava se a vitória seria de maioria relativa ou de maioria absoluta.
Se bem que inferior às maiorias absolutas de Cavaco Silva, a maioria absoluta do PS revela o estado de espírito dos portugueses.
Só quem não estivesse atento às conversas de rua e aos desabafos, julgaria que a vitória fugisse aos socialistas. Esta votação revela um desespero dos portugueses que desejam ver resolvidos os seus problemas.
Já se falou que o voto dos eleitores foi de protesto. Esta componente terá tido a sua influência, mas os portugueses optaram claramente por uma política socialista.
É notório que mais uma vez foi o chamado “centrão”, cujo voto é flutuante, quem decidiu por maioria estas eleições. Foram 500 mil votos que se transferiram da área do PSD e CDS-PP para o PS, Bloco de Esquerda e CDU. Não há dúvidas de que eleitores que tradicionalmente votavam no centro-direita, desta vez escolheram a esquerda. Uns nem acreditando já no PS ou PSD deram o voto ao Bloco de Esquerda, sobretudo intelectuais e jovens das cidades. A maior parte preferiu o voto de confiança no PS, apostando numa legislatura de estabilidade.
A nível do distrito de Castelo Branco e do concelho da Covilhã é que se pode falar em surpresa. Não se acreditava que o resultado em número de deputados fosse de 4 para o PS e um para o PSD. E sempre se considerava certa a eleição de Carlos Pinto, presidente da Câmara da Covilhã onde tem feito obra de mérito.
A votação do PSD no concelho da Covilhã e na Cova da Beira de tão baixa é extremamente significativa. E fica provado que os candidatos “pára-quedistas” no nosso distrito não são aceites pelos eleitores.
A transferência dos votos é matéria obrigatória de reflexão para o centro- direita, até porque, em regime democrático, convém haver uma oposição forte.
A esta luz, as Legislativas de 2005 constituem um vasto campo de estudo para a sociologia política.
Com a maioria absoluta, o PS assume uma responsabilidade histórica perante o País. Agora, acabaram as desculpas para não levar a cabo as reformas inadiáveis de que Portugal precisa como de pão para a boca. E há rupturas que são urgentes.
O PS não pode deixa-se envolver-se pelos interesses corporativos e governar tendo em conta o bem comum. Nem cair na armadilha dos “clientes partidários” à espreita de um “tacho” na nova governação.
É nunca mais sair do ciclo das “nomeações” que têm infestado todos os governos e para cujo perigo chamou a atenção António Barreto na noite eleitoral, acabando depois em “parasitas” a sugar o dinheiro dos contribuintes, sem nunca terem feito nada na vida.
A diminuição do peso do Estado é uma evidência de La Palisse. Se, em princípio, a ideia contraria a ideologia do PS, não há volta a dar-lhe. Com o actual estatismo na sociedade, as mais amplas reformas correm o risco de perder os seus efeitos.
José Sócrates tem pela frente trabalhos de Hércules. E precisa de muita coragem e determinação para corresponder às expectativas dos portugueses que o escolheram para Primeiro-Ministro.
As palavras “confiança” e a “esperança”, símbolo da campanha, têm de ser agora traduzidas em políticas ousadas para o País não continuar adiado.
No passado José Sócrates, já demonstrou que o Interior donde é natural, faz parte da sua agenda política.
A Covilhã e o distrito esperam da sua determinação o desenvolvimento que desejamos para que não seja uma fatalidade viver no Interior.