José Geraldes
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Sacrifício(s)
A palavra sacrifício
causa calafrios a muita gente só de ser pronunciada.
Neste tempo de campanha eleitoral, todos os candidatos
à Assembleia da República evitam dizê-la.
As razões são diversas. Os eleitores não
querem ouvir falar de sacrifícios porque, pelo
facto de pertencermos à União Europeia,
pensam que os fundos estão sempre garantidos. Mesmo
que continuemos a trabalhar sem a produtividade desejada.
E, como 56 por cento do eleitorado, segundo as contas
de Medina Carreira, ex-ministro das Finanças de
Mário Soares, vive directa ou indirectamente da
mesa do Estado, presume-se que haverá sempre uma
solução.
Os políticos com medo de perder votos refugiam-se
nas promessas que sabem não poder cumprir. E pouco
arriscam sobre o programa que realmente pensam levar à
prática.
A verdade nua e crua é que, quem ganhar as eleições,
para tirar o País da grave crise em que se encontra,
tem necessariamente de pedir sacrifícios ao povo
português. Não há volta a dar. Pense-se
o que pensar. Quem disser o contrário, é
irresponsável.
Sem sacrifícios, os problemas do País não
se resolvem. Mas sacrifícios de todos. Não
apenas dos menos favorecidos.
Os portugueses não podem continuar a viver com
mentalidade de ricos sendo pobres. As famílias
não podem endividar-se a um ritmo que as leva á
falência. Os resultados estão à vista.
A pobreza cresce. O fosso das desigualdades sociais é
cada vez mais fundo.
Como sempre, em tempo de crise económica, temos
as nossas originalidades e contradições.
As vendas de carros de topo de gama sobem. As vivendas
caras multiplicam-se. A penetração de telemóveis,
segundo dados da Comissão Europeia, já ultrapassa
a população portuguesa. Os restaurantes
de luxo têm lista de espera nas refeições.
A economia paralela que foge ao fisco, já ronda
os 30 por cento. Mas não se vê o dinamismo
nas exportações nem do tecido económico.
Perante tal cenário, só uma política
de austeridade pode levar Portugal ao rumo certo. Veja-se
o que se passa na França e na Alemanha considerada
a “locomotiva” na Europa. Por isso, é
de estranhar que nenhum dos partidos que em alternância
são governo, tenha até agora falado em sacrifícios
aos eleitores. Aliás, se não estivéssemos
na zona euro, o FMI (Fundo Monetário Internacional)
já cá estaria.
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