O primeiro fim-de-semana
de Fevereiro foi, sem sombra de dúvida, de festa
na Serra da Estrela. Não só pelos inúmeros
visitantes que quiseram estar na Estrela para festejar
o Carnaval, mas também pelas tradicionais feiras
de actividades económicas e do queijo da Serra
que se realizaram um pouco por toda a parte. Estas decorreram
em localidades como Gouveia, Seia, Manteigas, Celorico
da Beira ou Fornos de Algodres.
Se em anos anteriores, a questão da certificação,
sempre pouco consensual (e que acabou por ficar na Beira
Baixa, em Castelo Branco), dominava as atenções,
este ano, devido a um Inverno seco e frio, sem chuva (até
ao último fim-de-semana, altura em que choveu e
nevou na região), a verdade é que muitos
produtores queixam-se do facto das suas ovelhas e cabras
não terem pastos, havendo mesmo algumas que morreram,
o que, segundo os mesmos, fez com que a quantidade de
queijo produzido, este ano, estivesse abaixo da produção
normal. A produção de queijo poderá,
por isso, registar uma quebra superior a 50 por cento
nos 18 concelhos que integram a Área Geográfica
de Produção do Queijo Serra da Estrela,
pois segundo os produtores há 120 mil ovelhas e
cabras da região a sofrer com a seca.
A Associação Nacional de Criadores de Ovelhas
da Serra da Estrela (ANCOSE) admite mesmo pedir a intervenção
do Governo. "Os nossos técnicos estão
na rua. Dentro de 15 dias, no máximo, teremos concluído
o processo que fundamentará o pedido de ajuda ao
Governo", confirma Manuel Marques, presidente da
ANCOSE.
Segundo este responsável a quebra na produção
de queijo põe em causa a subsistência de
centenas de famílias da região que dependem
directa ou indirectamente da actividade.
A verdade, porém, é que há produtores
que, apesar de lamentarem a baixa produção
de queijo devido ao frio e à seca, também
salientam que existe um lado positivo em tudo isto. “
A seca não ajuda nada na alimentação
aos animais e não se produz a mesma quantidade.
Mas há também um lado bom. É que
o frio atrasa o processo, a fermentação
dura mais tempo e há assim um aumento de qualidade”
explica Maria dos Santos Martins, uma vendedora de queijo
que está presente pela 11ª vez na Feira de
Actividades Económicas de Manteigas, que decorreu
no último fim-de-semana pela 12ª vez. Aqui,
foi possível ver e adquirir um pouco de tudo, desde
as tradicionais mantas da Serra, às compotas, brinquedos
e equipamentos para a neve, e também muito queijo,
ou enchido da região. Maria dos Santos Martins
é uma dessas queijeiras, que porém não
se deixa abater e diz mesmo que o queijo “está
de boa saúde. Os nossos clientes sabem-no e nós
damos privilégio à qualidade” explica.
Entre os 15 e 17 euros o quilo
Em Manteigas, foi possível comprar queijo da Serra
com preços entre os 13 e 15 euros. Mas na maioria
dos certames, o preço oscilava entre os 15 e 17
euros o quilo. Foi o caso de Gouveia, em que no domingo
gordo de Carnaval milhares de visitantes não levaram
a mal o preço do produto.
"Está muito frio e não viemos aqui
para aquecer. Quem gosta de saborear produtos de qualidade,
tem que estar disposto a pagar. Sobretudo num ano em que
a seca deitou por terra mais de metade da produção",
queixou-se Fernanda Gomes, queijeira tradicional da região.
Já José Marvão explica que está
a fazer dois queijos por dia. E diz que, com 150 cabeças
e cerca de 40 hectares de terra, há dificuldades
em ano de seca.
Álvaro dos Santos Amaro, presidente da Câmara
de Gouveia, faz mesmo um apelo ao Governo para que crie
um programa de incentivos específico para jovens,
de modo a se dar continuidade à actividade.
"Temos de assegurar a manutenção do
produto de altíssima qualidade que é o queijo
de ovelha curado. Além de ser uma das imagens de
marca da Serra da Estrela, é também um elemento
preponderante da economia regional", sublinha.
Já em Penalva do Castelo, a Câmara Municipal
organizou a XIV Feira/Festa do Pastor e do Queijo que
considera "um dos principais eventos deste concelho"
atendendo a que "a produção artesanal
do Queijo Serra da Estrela constitui uma das potencialidades
endógenas das terras de Penalva, tendo um peso
significativo em termos sócio-económicos
do concelho", onde existem cerca de uma 100 produtores
artesanais do produto. A autarquia observa, em comunicado
que a produção do Queijo Serra da Estrela
"tem conhecido nos últimos anos um relativo
incremento, para o que têm contribuído algumas
acções levadas a cabo por diversos organismos
e associações". Mais de meia centena
de produtores participaram no certame que o Município
de Penalva do Castelo promove desde 1983. O preço
praticado na venda do Queijo Serra da Estrela em ambas
feiras variou entre os 12 e 16 euros o quilo.
Em Seia, o ponto alto da festa foi a constituição
oficial da Confraria dos Produtores e Amigos do Queijo
Serra da Estrela. O objectivo é "promover,
divulgar, valorizar e defender o verdadeiro Queijo Serra
da Estrela produzido na Região de Denominação
de Origem, preservando a autenticidade da região",
segundo disse o presidente do município, Eduardo
Brito.
Requeijão reconhecido
Entretanto, na passada semana, Bruxelas reconheceu, a
nível comunitário, a Denominação
de Origem Protegida (DOP) de que já beneficia a
nível nacional o Requeijão da Serra da Estrela.
A denominação a nível comunitário
foi anunciada no final da última semana e incluiu
ainda seis produtos espanhóis e três italianos.
Trata-se do reconhecimento de um produto cuja produção,
transformação e elaboração
devem ter lugar numa área geográfica determinada
com um "saber-fazer" reconhecido.
As menções de qualidade agora anunciadas
juntam-se a uma lista de 650 produtos alimentares europeus
já protegidos pelas denominações
DOP, Indicações Geográficas Protegidas
(IGP) e Especialidade Tradicional Garantida (ETG) e que
contam com 91 produtos portugueses.
No caso do Requeijão da Serra da Estrela, a sua
DOP é controlada e certificada pela empresa “Beira
Tradição - Certificação de
Produtos da Beira”, sedeada em Castelo Branco, ao
passo que o agrupamento de produtores é representado
pela “Estrelacoop - Cooperativa dos Produtores de
Queijo da Serra da Estrela”, em Celorico da Beira.
A candidatura à certificação comunitária
tinha sido apresentada em Abril de 2004.
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