José Geraldes

Digam a verdade


Com o acto eleitoral do dia 20 de Fevereiro, o País entra num ciclo de apelo ao voto, primeiro para as eleições legislativas, depois lá para Outubro para as autárquicas e, finalmente, em Janeiro de 2006 para as presidenciais. Queira Deus que os portugueses não se cansem de tantas eleições num período de tempo tão curto. E sobretudo que não sejam indiferentes às campanhas eleitorais.
Para que tal aconteça, torna-se imprescindível que os candidatos façam campanhas responsáveis, focando os problemas que interessam aos eleitores e não desviem as atenções para aspectos meramente secundários.
O País está numa situação tão grave que é um crime vender ilusões na campanha eleitoral.
Os candidatos digam a verdade nua e crua aos portugueses. Não façam promessas que não podem cumprir. E comprometam-se isso sim a fazer as reformas estruturantes de que Portugal precisa com a máxima urgência. Mesmo que isso lhes custe perda de votos.
Os interesses supremos do País estão acima de contingentes desejos partidários. E o importante é assegurar o futuro de Portugal. E não passarmos a adiá-lo de legislatura para legislatura. Estarão os políticos e os eleitores conscientes deste facto ?
Num documento muito oportuno, publicado em Dezembro último, os bispos portugueses encaram de frente a questão : “ A etapa democrática que agora começa, não pode limitar-se a resolver uma crise política, mas deve enfrentar, com serenidade e lucidez, os problemas de fundo do País, apresentando para eles soluções credíveis e viáveis, a serem escolhidas pelo voto dos portugueses”.
“ Soluções credíveis e viáveis” eis a meta a alcançar. Não basta haver uma grande bondade de intenções. Importa que haja credibilidade e viabilidade nas soluções para os problemas. Daí o ser-se realista na sua escolha e apresentação. Por isso, os candidatos a deputados sejam claros, verdadeiros quanto baste, concretos ao referir as medidas para resolver os problemas com que se defrontam os portugueses.
Os eleitores não assistam passivos ao desenrolar da campanha eleitoral como quem assiste sentado no sofá a ver um filme. A intervenção torna-se necessária. Reagindo aos candidatos pela comunicação social, pela Internet, pelo telefone. E exprimindo sempre o direito às suas opiniões e crítica aos candidatos se for caso disso.
No documento citado, os eleitores são incitados à participação activa: “Não deixemos o futuro do nosso País só nas mãos dos “políticos profissionais”. Ajudemo-los com a nossa consciência crítica e a nossa escolha responsável. A nossa convivência democrática aprofundar-se-á qualitativamente se votarmos em propostas, mais do que em partidos, motivados pela esperança objectiva que essas propostas suscitam e não tanto pela nossa tradicional simpatia partidária”. E uma pressão sobre os partidos :
“Forcemos os partidos a porem o acento da sua intervenção na qualidade das propostas que nos fazem, na competência e dignidade das pessoas e não apenas nos discursos que o ambiente de campanha habitualmente inflama”.
Temos aqui uma boa norma para uma participação construtiva na campanha eleitoral que se avizinha. Atenção, pois, às propostas que os candidatos nos apresentam para uma votação responsável.