O teatro sob o regime de Salazar







 

 

 

 



de Graça dos Santos




Os poderes, sejam políticos ou religiosos, são tradicionalmente desconfiados em relação ao teatro. Então, como é que ao longo do quase meio século (1926-1974) da ditadura portuguesa, esta arte, que vai buscar a sua energia ao corpo do actor e ao olhar do espectador, conseguiu sobreviver?
À luz das memórias de artistas, de arquivos de encenadores, de artigos de imprensa, Graça dos Santos estuda a vida teatral e em geral a vida artística sob o regime de Salazar. Tendo como pano de fundo outras variantes europeias de ditadura, analisa as particularidades e evolução da política de teatro do regime, que prefere a esquiva ao confronto, a descrição ao alarido, a prevenção à repressão. Partidário de uma arte de “fachada da nação” que encobre a realidade – concretizada no Teatro do Povo, pálida sombra do Théâtre du Peuple (Bussang) -, Salazar encena o Estado Novo, com a cumplicidade de António Ferro, responsável pela Propaganda. Apesar de uma vigilância opressiva, o teatro irá evoluir da submissão para a resistência, graças ao teatro amador e ao teatro universitário, que vão dar origem ao teatro independente que anuncia a Revolução dos Cravos.
Ao longo dos capítulos, a autora reconstrói o difícil percurso dos diversos protagonistas que fizeram com que o encontro entre a cena e a sala se mantivesse. O acento colocado sobre a legislação teatral e a censura, os serviços de propaganda, as condições de vida da “gente do espectáculo” sublinha os méritos dos que conseguiram desafiar as interdições. A evolução multiforme da prática teatral será um sinal anunciador da necessária democratização de um país que se pretendeu imobilizar.
Resultante da dupla cultura e dupla experiência da sua autora, este livro vem juntar um novo episódio à história do teatro europeu do século XX.