A noite fria e a concorrência
do "derby" entre "leões" e
"águias", que à mesma hora a caixinha
que mudou o mundo transmitia, não foram factores
suficientes para arredar dos bancos da Igreja da Misericórdia
da Covilhã, um publico que encheu este espaço
para presenciar o 3º Encontro de Janeiras dos ranchos
folclóricos federados do concelho da Covilhã,
a saber: Ourondo, Unhais da Serra, Paul, Refugio e Boidobra.
Tratou-se de uma iniciativa que visou essencialmente recuperar
uma tradição na Cidade Neve, organizada
pela Câmara Municipal da Covilhã (CMC) em
colaboração com os ranchos federados do
concelho e a Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.
Com efeito, as Janeiras são uma das tradições
da época natalícia e versos como “Ainda
agora aqui cheguei, logo pus um pé na escada logo
o meu coração disse que mora gente honrada”
são entoados nos cânticos que ecoam pelas
ruas fora, por vezes, até ao raiar da manhã
do Natal até ao Dia de Reis.
Mais enraizada no meio rural do que nas cidades, esta
tradição continua a cumprir-se, muito por
acção directa dos grupos de folclore que
teimam em preservá-la, mesmo para além das
fronteiras geográficas das suas freguesias, trazendo-a
para a cidade, tal como aconteceu com “ Cantar Janeiras".
De facto, os covilhanenses que habitualmente não
ouvem estes cânticos alusivos à quadra natalícia
começam também a não dispensar as
Janeiras que este encontro anual materializa, sendo uma
forma de reviver a tradição.
O mesmo acontece nas freguesias que acolhem os protagonistas
deste encontro, onde os residentes já não
dispensam o cantar das Janeiras, constituindo motivo para
as colectividades, associações e grupos
folclóricos, cumprirem anualmente a tradição
ao andar de porta a porta cantando as janeiras e desejando
um bom Ano Novo, sempre na esperança que o dono
da casa visitada abra a porta para que das duas uma: ou
venha algum dinheiro para ajudar nas actividades do grupo,
ou venha o convite para entrarem e comerem e beberem.
Se puderem ser as duas coisas, tanto melhor.
Quanto ao repertório dos cincos ranchos federados
do concelho covilhanense, não tem grandes variantes.
Porém, cada um vai tentando transmitir a sua mensagem
e os acordes das violas, tambor, acordeão, adufes
entre outros instrumentos, e claro está, das vozes
mais cristalinas do que nunca, resultante da boa acústica
e do local a convidar à interiorização
da palavra, fizeram deste espectáculo na Igreja
da Misericórdia, um acontecimento do agrado público
presente que não regateou aplausos a todos os grupos.
Para continuar
Dito isto, não restam duvidas quanto à
relevância destes acontecimentos para os responsáveis
dos ranchos federados. É consensual. Todos defendem
iniciativas que de alguma maneira preservam a cultura
tradicional da sua região ou não fossem
eles os seus maiores embaixadores. Neste contexto, preferimos
ouvir alguns populares. “ Gosto de muito de ouvir
cantar as Janeiras. Venho sempre aqui à igreja
ouvir os ranchos que cantam todos muito bem” adiantava-nos
uma sexagenária, enquanto um homem de meia-idade
ia abananado com a cabeça de forma afirmativa e
subscrevia o que dizia a nossa interlocutora.
Quem estava satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos
era a vereadora da Cultura da autarquia covilhanense,
Maria do Rosário Pinto da Rocha. “ Apesar
do frio e estar a dar na televisão um jogo de futebol
entre dois grandes clubes lisboetas, temos a igreja cheia
de gente o que atesta o sucesso deste encontro”.
A vereadora adianta que” esta iniciativa já
se realizou por três vezes, sempre com bons indicadores
muito graças ao desempenho do ranchos federados.
Assim sendo, esta é uma iniciativa com um balanço
positivo e para continuar”.
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