José Geraldes

Têxteis da China e resposta portuguesa


A entrada da China na Organização Mundial do Comércio estabeleceu novas regras de concorrência com fortes incidências na Europa e nos Estados Unidos. A Europa sobretudo devido ao regime de protecção social foi mais afectada, não podendo baixar os preços dos produtos.
A liberalização dos têxteis, a partir de 1 de Janeiro do corrente ano, vem criar uma situação geradora ainda de maiores dificuldades. No caso português, a questão pode tornar-se dramática com maior número de desempregados.
A China perfila-se actualmente como o principal exportador mundial de vestuário. Com uma competitividade de alto nível. Competitividade que se baseia em custos baixos, enorme produtividade e uma dimensão de gigante.
Só entre 2001 e 2003, a China duplicou as exportações de têxteis para a União Europeia. No ano passado, já detinha 17 por cento do comércio nesta indústria. E calcula-se que em três anos possa alcançar os 50 por cento.
É uma nova era que se inicia no comércio dos têxteis. E à qual as empresas têm de fazer face. Com realismo e sangue frio. As emoções não ajudam a resolver o problema.
Entre nós, uma petição dirigida ao Governo alerta para a concorrência desleal e as “fortes repercussões sociais” da liberalização. Os empresários exigem medidas de protecção e a aplicação de instrumentos de combate a todas as práticas comerciais abusivas e o respeito em todo mundo das normas fundamentais do trabalho, sociais e ambientais tal como acontece na Europa.
A nível europeu, os países pediram mais três anos de transição com a Declaração de Istambul mas que não surtiu qualquer efeito. Os governos pressionaram então a China cujos dirigentes prometeram taxar as exportações. Para dar mais tempo aos ocidentais de acautelar os seus têxteis.
Mas com o tempo os produtos vão entrar em toda a Europa a preços imbatíveis. A liberalização não vai parar nem está sujeita a variações de tomadas de posição dos governos ou associações do sector.
A razão é muito simples e joga a favor do gigante chinês. A abolição da barreiras alfandegárias estava acordada há dez anos. Que se fez, durante este tempo, em Portugal e na Europa para prever as consequências da liberalização?
Não faltaram em Portugal apoios financeiros e formação profissional para preparar este embate. E dez anos foi um tempo razoável para programar todas as estratégias em ordem ao combate à invasão chinesa.
O empresário covilhanense Paulo de Oliveira, proprietário de três unidades industriais do sector viu a tempo o problema e tem-se deslocado à China regularmente. Isto não significa que as consequências da liberalização não se façam sentir na Covilhã e região. Mas os contactos com empresários e unidades chinesas pode abrir novos caminhos sempre úteis no futuro.
Se, como diz o velho ditado, o segredo é alma do negócio, a qualidade do produto e a resposta rápida ao mercado figuram como elementos de resposta à concorrência feroz chinesa.