Urbi et Orbi
- Veio para a UBI em 97. Porquê?
Carlos Cabrita - Na altura vim a umas provas
de aptidão pedagógica e capacidade científica
e gostei tanto das condições que a UBI oferecia
que senti realmente que tinha aqui excelentes condições
para trabalhar. Foi essa a causa principal e foi também
a maneira como fui recebido, tanto pelo Sr. Reitor como
pelas pessoas com quem contactei directamente. Só
me arrependo de não ter vindo há mais tempo.
Temos trabalhado bastante, não só no Departamento
como na Unidade, mas se calhar se tivesse vindo mais cedo
poderia ter dado um contributo ainda maior. Felizmente
agarrei a oportunidade.
U@O - Tendo chegado apenas em 97, é já
hoje presidente da Unidade das Engenharias. Como foi esse
percurso?
C. C. - Não considero que a minha carreira
tenha sido rápida e meteórica devido à
minha disponibilidade. Completo em Janeiro 27 anos de
actividade docente, e 28 anos de actividade como engenheiro.
Sempre exerci cargos de gestão e sempre me mostrei
disponível para os exercer, porque considero que
na carreira docente é fundamental que trabalhemos
em quatro vertentes. Na vertente pedagógica, aulas
e produção de textos pedagógicos,
vertente científica, ou seja, investigação,
desenvolvimento, publicação de artigos científicos
e tecnológicos e produção de protótipos
e criação de equipas inter e multidisciplinares
de investigação e desenvolvimento, na área
de prestação de serviços ao exterior
e numa quarta área que eu considero ser a gestão.
Acho que é fundamental, sobretudo numa instituição
ainda recente como a nossa, que todos os docentes colaborem
no seu desenvolvimento.
Na Covilhã consigo não perder tempo com
coisas fúteis, como perdia em Lisboa, como estar
sentado ao volante uma média de três a quatro
horas por dia, sem produzir rigorosamente nada, aqui é
tempo que consigo dedicar ao desenvolvimento de coisas
muito mais úteis. Havendo uma boa gestão
do tempo, conseguimos fazer tudo.
Os cargos por vezes dependem da atitude, da disponibilidade
da pessoa para contribuir com o melhor que sabe fazer
para o desenvolvimento da instituição, de
não pensar apenas em si e na sua carreira.
Estou na UBI desde 97, já fui director de curso,
tenho participado nos dias da UBI aqui no Departamento,
fui presidente de Departamento e agora presido às
Engenharias, portanto, praticamente tenho tido cargos
de gestão desde que cá estou, que vem na
sequência do que já sucedia quando era docente
no IST.
U@O - Acha que fará um melhor trabalho
que o seu antecessor?
C. C. - Considero que o Mário Nunes fez
um excelente trabalho e eu vou tentar continuar esse trabalho.
Conseguimos sempre acrescentar mais qualquer coisa, desbravamos
mais caminho que o nosso antecessor, porque ele teve dificuldades,
ultrapassou-as, e nós não nos vamos preocupar
com o que já foi ultrapassado, vamos tentar ultrapassar
outras dificuldades que vão surgindo. Nas engenharias
temos um óptimo relacionamento entre todos, colaboramos,
cooperamos, todos remamos no mesmo sentido. Considero
que o meu antecessor fez um trabalho excelente e não
poderia ter feito mais atendendo ao volume de trabalho
a que foi sujeito e em relação ao qual foi
solicitado. Eu cá estarei para tentar seguir as
suas pisadas.
"Nas engenharias temos
um óptimo relacionamento entre todos"
|
"Nas engenharias todos remamos no mesmo sentido"
|
U@O - Acha que fará um melhor trabalho
que o seu antecessor?
C. C. - Considero que o Mário Nunes fez
um excelente trabalho e eu vou tentar continuar esse trabalho.
Conseguimos sempre acrescentar mais qualquer coisa, desbravamos
mais caminho que o nosso antecessor, porque ele teve dificuldades,
ultrapassou-as, e nós não nos vamos preocupar
com o que já foi ultrapassado, vamos tentar ultrapassar
outras dificuldades que vão surgindo. Nas engenharias
temos um óptimo relacionamento entre todos, colaboramos,
cooperamos, todos remamos no mesmo sentido. Considero
que o meu antecessor fez um trabalho excelente e não
poderia ter feito mais atendendo ao volume de trabalho
a que foi sujeito e em relação ao qual foi
solicitado. Eu cá estarei para tentar seguir as
suas pisadas.
U@O - Considera que a UBI reúne mais condições
que outros locais?
C. C. - Não tenho a mínima dúvida.
Leccionei durante 19 anos no IST, a par de bastante actividade
empresarial, e de facto, as condições que
temos aqui são excelentes. Não é
por estar aqui, mas os nossos laboratórios em qualquer
área de engenharia, são os mais bem equipados
do País. Foi isso que me levou a associar-me à
UBI. Os objectivos que nos propusemos concretizar, não
só a nível individual como em termos de
equipa, têm sido conseguidos, de uma forma bastante
rápida. O que só prova que de facto as condições
são excelentes. Sempre que estou em júris
de provas académicas, no exterior da instituição,
esforço-me por divulgar as excelentes condições
que aqui temos.
U@O - Para uma pessoa que viveu tantos anos em
Lisboa, acha que a Beira Interior é muito esquecida?
C. C. - Deixe-me falar-lhe sobre dois aspectos.
Um é que, em termos de qualidade de vida, vivemos
muito melhor do que em Lisboa, porque temos tudo o que
existe em Lisboa e não perdemos o tempo, nem temos
a vida stressante que temos em Lisboa. Isso traduz-se
num maior convívio social e em índices de
produtividade mais elevados. Por exemplo, ao fim de semana,
quando estava em Lisboa, residia a 12 quilómetros
do local de trabalho, não tinha paciência
sequer para sair de casa, porque estava cansado de transportes.
Aqui, estou em casa, e se me apetecer vir cá ao
fim de semana, venho a pé, demoro 12 minutos de
casa até à porta do meu gabinete. A nível
social, convive-se muito mais, fazem-se amizades mais
facilmente, sentimo-nos perfeitamente integrados na sociedade,
não somos um mero número, como acontecia
em Lisboa, somos pessoas que se respeitam umas às
outras, acho que é uma grande virtude aqui da cova
da beira, experiência que eu já tinha da
minha família materna, e essencialmente, o aspecto
do aumento da produtividade.
Na segunda vertente, o que acontece é que nós,
apesar de termos um país com uma largura em linha
recta máxima de duzentos e poucos quilómetros,
o poder político na capital continua a considerar
Portugal um país com divisões entre o litoral
e o interior. Utopicamente, se fossemos parte de Espanha
seríamos a sua faixa litoral. Não faz sentido
que se olhe para um País como o nosso, e se fale
em litoral e em interior. Isto foi uma divisão
artificial criada pelos interesses instalados no litoral,
sobretudo em Lisboa.
Na minha opinião isso muda-se mostrando o que de
bom há aqui, não só do ponto de vista
social, mas em termos de qualidade de vida, de desenvolvimento
cultural, científico e tecnológico. Não
há dúvida que a UBI é fundamental.
E o Parkurbis, onde presido ao Conselho Científico
e Tecnológico, também será uma grande
mais valia, porque mostra que a região, do ponto
de vista científico e tecnológico, está
no bom caminho.
"Existe um conjunto de condições
que esta universidade reúne, que a distinguem
das outras" |
"Não faz sentido que se olhe para um
País como o nosso, e se fale em litoral e
em interior" |
U@O - De que forma acha que o Parkurbis pode
então fazer a diferença no desenvolver e
afirmar da região?
C. C. - Considero que o Parkurbis surgiu na hora
ideal. Vivemos numa região praticamente de mono
indústria, a indústria têxtil. Há
uma certa sensibilidade às flutuações
da economia. O que o Parkurbis vai fazer é permitir
a criação de mais valias na UBI e uma relação
de sinergias entre ambas as partes. Ou seja, irá
possibilitar uma diversificação da actividade
empresarial, o que é bom não só no
que se refere à criação de empregos,
como para o desenvolvimento, quer da UBI, quer da região
e até do País. Considero que a UBI nasceu
como sendo uma instituição regional, mas
neste momento é uma instituição já
altamente conceituada a nível nacional. Felizmente
já passou as fronteiras da Estrela e da Gardunha.
Somos conceituados em qualquer local e a prova é
que eu e os meus colegas somos cada vez mais solicitados
a fazer parte de júris de provas académicas,
o que é um sinal do reconhecimento da qualidade
da instituição.
U@O - Em que pé está o parkurbis
neste momento?
C. C. -Neste momento o Parkurbis já tem
cinco empresas admitidas a laborar. Em princípio
o edifício estará pronto em Junho de 2005.
U@O - Quantas mais empresas pretendem admitir?
C. C. - Por enquanto não temos ainda mais
pedidos, mas estamos a envidar esforços no sentido
de conseguir trazer para cá grandes empresas.
U@O - Nacionais ou internacionais?
C. C. - O que vier e tenha qualidade, que obedeça
aos requisitos de excelência que impusemos para
que o Parkurbis funcione como um verdadeiro parque de
ciência e tecnologia. É essa a nossa intenção.
Surgiu o caso dos representantes dos fabricantes russos
de aeronáutica. Eles continuam interessados em
vir para cá e nós iremos recebê-los,
como já o fizemos, de braços abertos. Vamos
ver se outras grandes empresas, dos mais variados sectores
industriais, que tenham certo nível de investigação
e desenvolvimento, se querem associar ao Parkurbis e evidentemente
à UBI.
U@O - As cinco empresas que já fazem parte
do Parkurbis são de que áreas?
C. C. - São de áreas que vão
desde a informática aos têxteis.
U@O - Como novo presidente da unidade das engenharias,
que projectos há para desenvolver?
C. C. - Neste momento temos uma crise de falta
de alunos. Estou a trabalhar com dois colegas, que são
os vice-presidentes da secção científica
da unidade, o professor Victor Cavaleiro, que é
o presidente do Departamento de Engenharia Civil, e o
professor Rui Miguel que é presidente do Departamento
de Engenharia Têxtil, e estamos a delinear uma estratégia
que passará pela continuação da formação
qualificada do corpo docente, ou seja, a nível
de pós-graduação, terá que
passar evidentemente, pela implantação da
declaração de Bolonha, que é fundamental
nas engenharias, e irá passar por outras vertentes
como sejam, por exemplo, a produção pedagógica
e pela divulgação das nossas licenciaturas
e pela criação inclusivamente de novos cursos
de mestrado e de pós-graduação.
Considero que neste momento, nas engenharias, o corpo
docente é excelente. Agora, vamos tentar aumentar
ainda mais essa excelência, porque a qualidade irá
ajudar-nos muito na captação de novos alunos.
Não só de graduação como de
pós-graduação. Quero criar, a nível
das engenharias, grupos de trabalho restritos, com poucos
elementos, mas altamente especializados, que se irão
debruçar sobre todos estes aspectos, a componente
pedagógica e a componente científica.
"Considero que neste
momento, nas engenharias, o corpo docente é
excelente"
|
"Tudo gira na órbita das engenharias"
|
U@O - Para além da captação
de novos alunos, que outras dificuldades pensa ter de
enfrentar?
C. C. - Em termos de dificuldades penso que a
captação de alunos seja a maior. Considero
que a crise que estamos a atravessar, no País e
a nível internacional, na área das engenharias,
é uma crise cíclica, que além de
ser conjuntural, também é estrutural. Na
minha opinião, dentro de pouco tempo a situação
irá inverter-se. Sinto-me optimista em relação
às engenharias. Porque não tenho a mínima
dúvida que a engenharia é um sector estratégico
que está presente em tudo. Quando se compra um
livro, nem se imagina a quantidade de processos de engenharia
que ali estão desenvolvidos. Desde o processamento
de texto, à encadernação, à
impressão, ao papel em si, à produção
do papel, é tudo engenharia. Tudo gira na órbita
das engenharias, é um sector estratégico
para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Por isso
é que a situação actual não
se irá manter durante muito mais tempo.
U@O - Acha que os alunos fogem às matemáticas
e às físicas?
C. C. - Penso que a situação actual
tem muito a ver com a matemática e com a física.
Falamos muito na declaração de Bolonha e
considero que é fundamental que todas as reestruturações
de fundo a nível do ensino comecem pela escola
primária, para que os nossos alunos, ao chegarem
ao Ensino Superior tenham o mesmo nível de conhecimentos
que têm outros alunos da Europa e de fora da Europa.
U@O - Porque é que os portugueses não
têm?
C. C. - É o próprio sistema em
si que criou a situação. O maior erro que
se cometeu neste país foi em 1977 termos acabado
com os cursos de índole tecnológica. Eu
fiz o meu curso industrial e foi excelente, eu e muitos
colegas meus que chegaram também ao topo da carreira.
Foi um erro termos modificado o ensino. Entretanto, nunca
se deu a volta à situação. Já
se deveria ter dado, porque o facto de haver cursos de
índole prática, os antigos cursos comerciais
e industriais, poderia ajudar a cativar alunos para as
ciências tecnológicas e científicas
e o desenvolvimento do país era bastante mais sustentado.
Os engenheiros são demasiadamente procurados, as
ofertas de emprego são muito superiores à
procura.)
U@O - Como gostaria de ver a universidade em
geral e a unidade em particular a médio prazo,
digamos daqui a 10 anos?
C. C. - Daqui a dez anos gostaria de ser um interveniente
activo e gostaria que a UBI de facto fosse a melhor instituição
universitária do País. Não falta
muito. O que é necessário é ainda
consolidarmos alguns aspectos. Temos a Faculdade de Medicina
a ser construída, teremos de qualificar ainda mais
o corpo docente, neste momento já temos um número
de doutores que ultrapassa os 50 por cento, e para mim
o ideal era estarmos na casa dos 90 por cento, no sentido
de termos todo o corpo docente doutorado. Este é
um dos aspectos em que estamos a apostar fortemente. Temos
de continuar a qualificar o corpo docente e de uma forma
cada vez mais acelerada. É o que gostaria de ver
e penso que vamos conseguir. Que a UBI seja, de facto,
a melhor do País, que se imponha pela sua excelência
não só no ensino como na investigação
e no desenvolvimento, na prestação de serviços
à comunidade, não só a nível
local ou regional mas também a nível nacional.
Quanto à unidade de engenharias, que tenhamos alunos,
que tenhamos os numeros clausus completamente preenchidos
nessa altura. E que já sejamos Faculdade de Engenharia.
Passaria a ser uma unidade com mais autonomia e também
o que é muito bom, com mais responsabilidade e
com mais responsabilização. |