António Fidalgo

2005

Um novo ano é o milagre repetido de um recomeço. As pessoas formulam desejos, fazem projectos, traçam metas a atingir, e até as instituições elaboram planos de actividades a desenvolver ao longo do novo ano. É esta possibilidade e capacidade de criar começos, de romper com a continuidade inexorável do tempo, de fechar e abrir ciclos, que caracteriza o homem. Para os animais não há anos, como não há meses, como não há outras marcas do tempo a traduzir a consciência do passado, do presente e do futuro.

Quanto mais primitiva uma sociedade mais rotineiro é o seu modo de viver, sem perspectiva de inovar ou melhorar. Quanto mais racional e moderna for uma sociedade maior é a sua capacidade de recomeçar e de renovar. A sociedade portuguesa iniciou o ano de 2005 em crise. A Assembleia foi dissolvida, o Governo demitiu-se, as finanças públicas continuam a viver de expedientes contabilísticos para se manterem abaixo do défice de três por cento, e para muitos concidadãos o desemprego é uma aflição e para muitos outros uma ameaça. Reina o desânimo na sociedade portuguesa. O novo ano é a oportunidade de recomeçar, de corrigir erros e de melhorar atitudes e práticas.

Pode-se olhar para 2005 de um modo tradicional e fatalista. É mais um ano, como qualquer outro passado ou outro futuro, que se segue a 2004 e a que se seguirá 2006. Assim, seria 2005 como poderia ser qualquer outro número de um outro calendário que não o cristão, cujo começo é colocado no nascimento de Jesus de Nazaré. Mas o que a sociedade portuguesa precisa é de viver 2005 como um ano verdadeiramente novo.

As eleições que decorrerão em Portugal, as legislativas e as autárquicas, serão um motivo acrescido para um novo alento da vida política, económica e cultural. Ninguém pode recomeçar o quer que seja sem acreditar no que faz e sem esperança nos bons resultados. As velhas virtudes de saber crer e saber esperar continuam a fazer muito sentido neste início de 2005. E são fundamentais para que o milagre do novo ano se cumpra.