José Geraldes
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Taizé
Há mais de 20
anos, entre o Natal e o Ano Novo, dezenas de milhares
de jovens reúnem-se num encontro a nível
da Europa para rezar e debater a paz, por iniciativa da
Comunidade de Taizé, aldeia do sudeste da França.
Este ano é Lisboa que recebe o encontro que junta
mais de 40 mil jovens.
Mas que magia tem Taizé para atrair assim tantos
jovens para rezar? A história começa em
1940 quando o jovem pastor calvinista Roger Schutz foi
viver para esta aldeia próxima da linha que dividia
a França em duas zonas, a ocupada pelo invasor
alemão e a livre.
Inspirado pela avó que durante a I Guerra Mundial,
em Paris, recebia pessoas que fugiam dos bombardeamentos,
o agora irmão Roger acolhia refugiados da França
ocupada entre os quais muitos judeus. Denunciado, teve
de fugir para só voltar no final do conflito e
fundar uma comunidade, ideia que acalentava desde os seus
25 anos. Acompanhado de três irmãos, fundou
então a Comunidade de Taizé, “baseada
nos valores da simplicidade e do ecumenismo cristão”.
Não tardou muito tempo que à Comunidade
de origem protestante, se viessem juntar monges católicos
animados pelo mesmo ideal.
O espírito de Taizé estava criado. A Comunidade
começou a atrair sobretudo jovens para rezarem,
reflectirem sobre a fé e os seus caminhos de vida.
O movimento cresceu. A partir dos anos 50, na Páscoa
e no Verão, milhares de jovens de todo o mundo
começam a concentrar-se em Taizé. Nos últimos
anos, os números somam seis a sete mil por semana.
Na década de 60, alguns irmãos formam pequenas
fraternidades e vivem em bairros degradados na Ásia,
na África e na América Latina. E partilham
condições de vida do mais pobres, ajudando
quem precisa.
A Comunidade de Taizé distingue-se pelo respeito
de todas as diferenças e quem por lá passa,
fica marcado pela sua influência.
João Paulo II que visitou a Comunidade, proferiu
uma frase que se tornou um programa : “ Vai-se a
Taizé como uma fonte”. Nos anos 70, Hubert
Beuve-Méry, director do jornal Le Monde escrevia
: “Talvez o segredo destes homens esteja nas mãos
vazias de homens que, às apalpadelas, procuram
reconstruir uma escala de valores e reencontrar um estilo
de vida”. Um dos irmãos de Taizé resumia,
a propósito do encontro de Lisboa, o espírito
que os anima : “ Reencontrar o gosto da vida e o
gosto de Deus”.
Os jovens que vão a Taizé e participam nos
encontros, confessam-se atraídos pelo modo de rezar.
O irmão Roger explica: “Em Taizé ou
na altura dos encontros nos diversos continentes, descobrimos
que uma oração comum cantada em conjunto
conduz a deixar crescer em si próprio o desejo
de Deus e entrar nua oração contemplativa.
Se para alguns a oração na solidão
é árdua, a beleza de uma oração
comum cantada é um suporte incomparável
da vida interior”. E concretiza : “ Quanto
mais se vive uma oração muito simples e
muito humilde mais nos tornamos atentos àqueles
que nos rodeiam.(...) A oração não
nos afasta das preocupações do mundo de
hoje. Torna-nos ainda mais responsáveis. Nada é
mais responsável do que rezar”.
A paz – uma carta intitulada Futuro da Paz escrita
pelo irmão Roger- está no centro das discussões
do encontro de Lisboa. A razão do tema prende-se
com a perda do entusiasmo pelo futuro pela sociedade.
O desânimo e o derrotismo não levam a nada.
E a paz é um bem frágil.
O espírito de Taizé pode ser uma boa ajuda
para um futuro de mais confiança e de solidariedade.
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